Na sociedade patriarcal, não foi por escolha, veio imposta como um símbolo da libido e da função feminina, integrado, como essa mesma função, nas relações sociais e dentro de cada ser humano, até a medula e no profundo das consciências e dos inconscientes.
Por isso os mitos sobre as origens de nossa sociedade patriarcal tem como um dos principais objetivos, dar a volta ao significado da serpente, para apoiar a mudança social. Zeus mata a Tifão, quem era o monstro da escuridão, para que a luz fizesse-se sobre a Terra; logo Apolo mata a filha de Tifão, a serpente Pitão. (...)
As fundações das principais cidades da Grécia patriarcal, tem quase sempre um mito de base que inclui a derrota de alguma serpente monstruosa por parte do herói: Cadmo, para fundar Tebas; Perseu para fundar Micenas, etc.
Quando começa a sociedade de realização do Poder em contra da realização do bem estar, a função feminina resulta um impedimento: primeiro ela é submetida pela força física; e os deuses e os heróis destinados a configurar o modelo de ser humano, devem lutar fisicamente e vencer as serpentes. Logo as amazonas que resistem são levadas com as suas serpentes para o Hades. Depois, como não era suficiente, veio a malignização da função feminina, ao dizer que na mulher está a origem do mal e que nenhum mal é comparável à maldade da mulher. Então, junto à satanização da sexualidade feminina, inventa-se o Inferno e sataniza-se também a serpente que a simbolizava.
Ante uma realidade com minúscula tão contundente e presente na vida quotidiana, tem que construir-se uma realidade contundente e presente no imaginário coletivo para neutralizá-la, e essa realidade é o Inferno, o demónio e o medo ao castigo eterno.
“Colocarei inimizade entre ti e a serpente” disse Javé explicitamente, ou seja, te retirarei a tua sexualidade: paralisarei o teu útero, tornaras-te ‘histérica’, parirás com dor e o homem te dominará, aí está o destino da nova condição da mulher."
O Assalto ao Hades - Cacilda Rodrigáñez
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