O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, maio 19, 2023

A RAIVA CONSCIENTE

 

Com o que é que estás zangada?


Eu era uma menina zangada. Lembro-me de ver coisas de que não gostava ou coisas que eram injustas, ou pessoas a mentir, abria a boca e deixava sair.

Fazia-me ouvir. Quer fosse na escola, com os professores, com os colegas, com os meus pais, com o meu irmão, com a minha avó.

Estava ligada à minha raiva e isso trouxe-me clareza em vários momentos e também me ajudou a tomar uma posição em relação a coisas que eram importantes para mim. Mas eu era uma criança e depressa descobri que não era seguro para mim expressar a minha raiva ou a minha clareza porque os “adultos” à minha volta não gostavam disso.

Cheguei a um ponto em que passei a ter medo de ficar zangada. Fiquei com medo do meu próprio poder. E bloqueei-o.

Para sobreviver, reprimi a minha raiva, para fazer parte, para ser aceite, para ser amada, tornei-me cada vez mais hábil em adaptar-me ao ambiente, às necessidades, humores, emoções e sentimentos das pessoas. Treinei-me a ler o espaço energético em que me encontro e a “prever” o que vai acontecer e a estar um passo à frente.

Não dizia o que queria, não dizia o que pensava, o que sentia, matava a minha clareza na hora. E fingia que não estava a ver o que estava a ver.

A raiva era errada e perigosa, este era o thoughtware que eu estava a utilizar para me relacionar com a minha raiva.

No ano passado, fui pela primeira vez a um Expand the Box e apercebi-me de que podia escolher pensar de forma diferente sobre a minha raiva e os meus outros sentimentos (medo, alegria e tristeza). A possibilidade que me foi apresentada foi a de pensar neles como neutros, nem bons nem maus, apenas neutros e, a partir daí, relacionar-me com eles como uma fonte de energia e informação que posso usar na minha vida para fazer escolhas, tomar decisões e seguir impulsos, por exemplo.

Estava tão curiosa sobre isto, como é que pode ser? Como é que pode ser feito? Como é que pode ser experimentado ???

A resposta veio com uma prática chamada Standing Rage.

” Quem quer fazer isto?”

Algumas pessoas deram um passo em frente. Durante os minutos que se seguiram, assisti a algo que nunca esquecerei: um espaço de mais de 20 pessoas, dando espaço a 3 pessoas para entrarem em fúria total!!!

Fiquei em êxtase! O meu corpo físico estava tão vivo enquanto observava aqueles homens e mulheres a entrarem na sua raiva. Apetecia-me chorar, apetecia-me rir, apetecia-me fazê-lo !!!

“Quem quer ser o próximo?”

“Eu quero!”

E eu fui. Libertei a minha raiva, usei palavras, senti-a a percorrer-me. E quando terminei, vi pessoas a apreciarem-me por ter ido lá.

Nunca tinha experimentado algo assim antes. Aquelas pessoas estavam lá comigo, como eu tinha estado com os outros antes de mim. Estavam a olhar-me directamente nos olhos e a celebrar a minha raiva.

Sinto-me tão triste por tê-la reprimido durante tanto tempo. Sinto-me triste que outras mulheres o façam.

Depois de um dos momentos de cura que ali vivi, uma mulher olhou-me directamente nos olhos e estendeu-me a mão, convidando-me a um compromisso silencioso. Naquele preciso momento, não tinha consciência de que estava a comprometer-me com algo. Hoje sei que me comprometi.

Havia algo nos seus olhos, para além dos seus olhos. Algo em que penso muitas vezes. Ela sabia algo, sabia algo sobre ela e sobre mim. Sabia algo sobre as mulheres que ela havia descoberto, que tinha tocado de alguma forma e que estava a partilhar comigo nesse compromisso silencioso.

Eu não sabia dizer o que era. E eu queria-o tanto. Ela tinha um fogo nos olhos, um fogo na alma, uma selvageria profundamente enraizada em si própria, sem necessidade de palavras, sem necessidade de nada mais do que presença e ligação naquele pequeno momento em que nos encontrávamos.

Ela estava consciente do seu poder como mulher, mas também estava consciente do poder da sua raiva.

Pela primeira vez, tive a experiência de ser olhada nos olhos por uma mulher adulta. Uma Guerreira estava a olhar profundamente para o meu Ser e eu ouvi o chamamento.

Um chamamento antigo e profundo que liga todas as mulheres, de todo o lado, do lugar mais profundo de si próprias.

É uma semente, uma semente de tambor que cada uma de nós mulheres tem, esta semente está a dormir e é despertada com Raiva Consciente.

Esta semente torna-se então um farol, no meio do nevoeiro, ela brilha não importa o que aconteça e é agora visível para outras mulheres. Depois disto, tudo o que precisas de fazer é sair para o mundo e estar com, permitires-te ser vista, olhar para as outras mulheres nos olhos e estender a tua mão num compromisso silencioso e antigo.

Quando entrares nos domínios da tua Raiva, serás a semente que desperta outras mulheres. Quando entras nos domínios da tua Raiva, crias espaço para seres, para sentires, para dizeres sim e para dizeres não. Quando entras nos domínios da tua Raiva, tornas-te uma força de ligação de Gaia. Tornas-te um dínamo em Presença. Tornas-te uma Voz. Tornas-te Tudo.

Quando entras nos domínios da Raiva, crias um caminho que se torna visível para outras mulheres seguirem.

Ver uma mulher entrar em contacto com a sua Raiva é uma das coisas mais bonitas que já vi. Estar na presença de uma mulher que está a expressar a sua Raiva pura é tão inspirador, tão contagiante, tão poderoso.

É uma dádiva ver uma tempestade tomar consciência de que é uma tempestade, um mar revolto, um tornado em chamas, que bênção.

Que bênção.
Com Amor e Raiva,

Sónia Maia Gonçalves

1 comentário:

Vânia disse...

Bom dia Rosa. Ainda não é sobre a raiva. É sobre Lilith. A ler certas páginas do livro como é novo às vezes fecha se e fica a tua foto a olhar para mim a que está na capa com a mão debaixo do queixo. E em certas coisas que leio ele fecha se e apareces tu e eu estou deste lado com a mesma expressão mas tenho o hábito de colocar a mão no rosto pensativa mas a expressão é idêntica agora e falas para além do óbvio eu começo a rir e só a capa não se fecha. E lá estás tu de mão no queixo. Bom dia bem hajas e como sabes nada é o que parece. A prática desportiva é essencial para o corpo físico aliviar a mente e correr com a equipe de arbitragem. Há muita corrupção na bola mas no ciclismo há muito dopping . Estou protegida. E bem protegida. Mas as aparências iludem mas não me iludem... De todo 😸 eu não passo bolas. Passo a batata quente para fazer um puré com a colher de pau🌻😁