O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, novembro 30, 2003

"Des arbres massacrés. Des maisons surgissent. Des gueules, des gueules partout.
L'homme s'étend. L'homme est le cancer de la terre. "-
E. M. CIORAN

O PRINCÍPIO FEMININO VISTO PELO MASCULINO...

O FEMININO SAGRADO - Montserrat ARTE -

“Onde quer que o fanatismo antivital do princípio espiritual masculino seja dominante, o Feminino adquire uma feição negativa e perversa, precisamente em seu aspecto criador, mantenedor e intensificador de vida”.

Isto significa que a vida – e o Grande Feminino é o seu arquétipo – fascina e prende, seduz e encanta. Os impulsos e instintos naturais subjugam os seres humanos e o princípio masculino da luz e da consciência usa para isso a trama da vida, o véu de Maya, a ilusão “encantatória” da vida neste mundo.Por essa razão, O Grande Feminino, que deseja a permanência e não a mudança, a eternidade e não a transformação, a lei e não a espontaneidade criadora, é descriminado e visto para seu descrédito como demoníaco por um tal princípio masculino da consciência.

Assim procedendo, contudo, o princípio masculino consciente deprecia inteiramente o aspecto interior espiritual do princípio feminino, que exalta o homem mundano pela transformação espiritual e glorifica, ao conduzi-lo ao seu mais elevado significado.

(...) Entre os tibetanos, o demônio da Roda do Mundo é considerado igualmente feminino e interpretado como a Feiticeira Srinmo. Isso é em parte devido à tendência misógina do budismo que considera a mulher o principal obstáculo à salvação, pelo facto de ela gerar continuamente novas vidas, e de ser o instrumento da paixão sob o jugo da qual padece o mundo.”


IN A GRANDE MÃE DE ERICH NEUMANN



NOTA À MARGEM...


AS ÁRVORES, FONTES DE VIDA E CONHECIMENTO...

"...o homem é o cancro da terra... "
Cioran

Na Rua Augusto Rosa à Sé foram brutalmente cortadas três frondosas e seculares árvores sem qualquer propósito...
A Natureza é criminosamente desvastada aos nossos olhos para que os turistas, essa praga inútil que polui o mundo, verem melhor o Museu Romano ou porque as árvores tiravam a luz às estátuas romanas, vestígios de um Império de assassinos, raça de bárbaros invasores. Os mesmos gestos repercutem a inconsciência de um presidente moderdo para quem uma gravata, um carro e uma pompa é mais importante que as árvores que lhe dão oxigénio...


ALFAMA SEM ÁRVORES CORTADAS A SEUS PÉS....


sexta-feira, novembro 28, 2003

A DEUSA
COMO DESTINO E ORIGEM


"Muito tempo depois do patriarcado se haver tornado dominante em todas as esferas, ainda encontramos a concepção matriarcal, segundo a qual os céus e os mundos giram em torno da “cavidade” – O Grande Feminino -, de onde se origina a vida. E na Índia, em plano superior, a imortalidade é obtida a partir do mar de leite feminino”batido”, a respeito de que se diz: “A água é o leite vital do corpo do mundo, e o espaço cósmico é um mar de leite”.

Agora que já temos uma noção razoável do amplo escopo do Grande Feminino, que na verdade abrange quase tudo – céu, água e terra, e até fogo – na forma de filho por ele gerado e nele contido -, compreende-se por que esse Feminino não pode ser identificadoem hipótese nenhuma, com o telúrico.ctônico, com o meramente terreno e inferior, no que tanto insiste posteriormente o mundo patriarcal masculino, com suas relig~ioes e filosofias.
A totalidade do Grnde Feminino vai muito mais além da projecção em que ela une os elementos terra, água, ar e fogo.

(...) Entre as experiências mais impressionantes da humanidade estão aquelas relacionadas com a dependência que todos os corpos luminosos e todos os poderes celestes e deuses têm da Grande Mãe, bem como a sua ascensão e seu declínio, o seu nascimento e a sua morte, a sua transformação e a sua renovação. Não só a alternância noite-dia, mas também a mudança dos meses, das estações e dos anos estão subordinados à omnipotente vontade da Grande Mãe.”


In A GRANDE MÃE – ERICH NEUMANN

ORAÇÃO

Queria evocar-te de olhos cerrados...
Rezar-te em palavras de ouro gravadas!
Não sei como te transformaste em toda a minha alma
que só tu em mim és vida!
Ó Mãe adoro-te!
Branca, suave, transfigurada.
Negra morte, vermelha, vida visceral
ou luz pura manifestada.

Quero ver-te substância disfarçada ou invisível no ar.
Na aragem sentir-te em cada canto, na casa,
no perfume das flores, nas mãos que se estendem,
no silêncio e na música, na chuva e no vento,
a cada passo ou sentada...

Quero sentir o teu amor ver o teu halo e
em cada gesto que de mim emana
tu seres o centro e a luz,
a força, a coragem e a audácia de eu ser tu
no temor e na glória de te dizer.

Quero rezar-te a cada segundo da minha respiração,
sentir a tua presença a cada momento.
Quero que o teu manto de Rainha me envolva e que
os teus raios de luz inundem todo o meu ser
e como um templo
ver cada mulher que entre como se fosses tu...

Quero de novo eleger o teu culto á Deusa!


in MULHER INCESTO - SONATA E PRELÚDIO
R.L.P.

quinta-feira, novembro 27, 2003

"L' INITIATION EST UNE NAISSANCE SACRÉE
DESTINÉE À PLACER L' ÂME DANS LA DIVINITÉ"



ESFINGE

Nasci antes de Cristo, muitas vidas antes,
Antes de Rama, Buda, ou Maomé .
Vivi em Atlântida e Mu, muito antes da Queda.

Conheci os egípcios, vivi nos seus Templos antigos,
fui iniciada nos Grandes Mistérios,
antes mesmo das Pirâmides de Gizé.

Viajava no Nilo entre as duas terras, era fiel a Hapi e a Ptah.
Lia nas estrelas a glória de Nout e cantava nas festas a Hathor!

Ah! Era dourada a sua imagem e, como os teus
os seus olhos brilhavam doces na alvorada...
Outras vezes íamos ver Shekmit, evocar a deusa Bastit,
a quem me ensinavas a amar nas noites de luar.
E como a gata do templo, tu dançavas e esvoaçando as tuas vestes
deixavam antever o teu corpo nu de estátua.

E eu extasiada pela tua visão, não sabia se eras tu
ou a própria deusa incarnada quem para mim dançava.
Nesse tempo era feliz !
Amava a vida e a terra ainda era sagrada.


in ANTES DO VERBO ERA O ÚTERO
R. L. P.


O pássaro é pois um símbolo de transcendência do Eu Superior, em que os opostos se encontram conciliados, como a gravura do Rosarium em que o pássaro coroa a conjungação do rei e da rainha, do sol e da lua. O pássaro sob a estrela indica o carácter luminoso, numinoso, ou seja, espiritual, dessa união.
(...)
O Andrógino hermético é o símbolo mesmo da transcendência interior: o homem integra a anima, a mulher o animus, nesta dupla fusão. O pássaro é totalizador desta experiência (...)

...O que significa, simplesmente, eu sou a conciliação dos opostos.

Disse-se atrás que o pássaro é um veículo, um transportador. Podemos concluir agora que é um símbolo da ponte que o próprio símbolo é.


in LITERATURA E ALQUIMIA
Y.K CENTENO


"O QUE É VISÍVEL NÃO É SENÃO
O REFLEXO DO QUE É INVISÍVIL"

Rabbi Abba


"A inteligência é essa faculdade que consiste a ligar. E o que é que liga melhor do que a relação amorosa? Os signos de inteligência que percorrem o mundo são ao mesmo tempo signos de amor. Aquele que passa do pensamento lógico ao pensamento analógico é quem desobre a riqueza dos símbolos, e pode testemunhar as coincidências felizes entre o céu e a terra. Aquele que vive no secreto, que vê no secreto a medida de todas as coisas, esse é forçosamente alguém louco por se unir ao invisível."(...)

Traduzido de "LE SECRET"
Jacqueline Kelen

quarta-feira, novembro 26, 2003



A ANDROGINIA DAS ALMAS


É sobretudo na tradição hermética que se encontram referências à androginia das almas: "não há (nas almas) machos nem fêmeas; esta disposição só existe nos corpos", responde Ísis ao seu filho Hórus, que lhe pergunta como nascem as almas, se machos se fêmeas (Ménard, pp.203-204). Também entre os gnósticos encontramos alusões tanto à androginia de Deus, de quem as almas são emanação e reflexo. A androginia é ainda atestada nos Evangelhos apócrifos. O que demonstra que nos primeiros séculos da era cristã se respirava um misticismo sincrético bastante semelhante à tendencia hermética que volta a despertar no século dezasseis e se mantém daí em diante

No Evangelho de Tomé, Jesus diz, dirigindo-se aos discípulos: " Quando fizerdes os dois (ser) um, e...o interior como o exterior e o exterior como o interior, e o superior como o inferior...(e) o macho e a fêmea já não seja macho nem fêmea, então entrareis no Reino".

Nota-se a influência do célebre Pimandro de Hermes, em qe se proclama que o que está em cima é como o que está em baixo, e o que está em baixo é como o que está em cima; ou seja; que tudo é um.


in LITERATURA E ALQUIMIA
Y.K.Centeno


TIMIDEZ


Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
— mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...
— palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
— que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
— e um dia me acabarei.


CECÍLIA MEIRELES (1901-1964)

terça-feira, novembro 25, 2003

“A MORTE É A CURVA DA ESTRADA.
MORRER É SÓ NÃO SER VISTO”

F.Pessoa


PARA SE SER...


(...) O que te estou escrevendo não é para se ler - é para se ser. A trombeta dos anjos-seres ecoa no sem tempo. Nasce no ar a primeira flor. Forma-se o chão que é a terra. O resto é ar e o resto é lento fogo em perpétua mutação. A palavra "perpétua" não existe porque não existe o tempo? Mas existe o ribombo. E a existência minha começa a existir. Começa então o tempo?

Ocorreu-me de repente que não é preciso ter ordem para viver. Não há padrão a seguir e nem há o próprio padrão: nasço.

Ainda não estou pronta para falar em "ele" ou "ela". Demonstro "aquilo". Aquilo é lei universal. Nascimento e morte. Nascimento: Morte. Nascimento e - como uma respiração do mundo.
(...)

in Água Viva
Clarice Lispector

OS UPANISHADES:

"Todo aquele que conhece o começo da vida, e como entra no corpo, e como lá mora nas suas cinco divisões, e conhece as suas relações com o Espírito íntimo, esse goza da vida eterna; na verdade, goza a vida eterna".

segunda-feira, novembro 24, 2003

VISITE
MELUSINE
E LEIA OS MEUS PRÓPRIOS TEXTOS...




A SERPENTE



“A Mulher é sempre um mistério insondável que atrai e mete mede ao mesmo tempo que dá vida e se torna devoradora, e que os moralistas cristãos se apressaram muitas vezes a identificar com o diabo, pelo menos com a ideia pueril que se tinha deste. Este mistério foi sentido pelos homens da pré-história, visto que os escultores e gravadores do paliolítico se abstiveram cuidadosamente de desenhar o seu rosto. Quem é essa Deusa dos tempos Primordiais, que tem sexo, mas não tem rosto? Será o eterno feminino tão caro aos poetas? (...)

Jean Markale “A GRANDE DEUSA“

domingo, novembro 23, 2003

O POETA E O FILOSÓFO




"Regra é a da vida que podemos, e devemos, aprender com toda a gente. Há coisas da seriedade da vida que podemos aprender com charlatães e bandidos, há filosofias que nos ministramos os estúpidos, há lições de firmeza e de lei que vêm no acaso e nos que são do acaso. Tudo está em tudo."

Fernando Pessoa - o poéta filósofo
e

Emile Cioran, o filósofo poeta:

"No curso dos tempos, a liberdade não ocupa muito mais instantes do que o êxtase na vida de um místico.

(...)

"Por isso no meio do nosso nada, lancemos um olhar a toda a volta, sem descurarmos ao fazê-lo as possibilidades de salvação que em nós próprias residem. De resto um nada perfeito é coisa que não há na história."
A DOR QUE DEVERAS SENTIMOS...

"Considerar a nossa maior angústia como um incidente sem importância, não só na vida do universo, mas na da nossa mesma alma, é o princípio da sabedoria. Considerar isto em pleno meio dessa angústia é a sabedoria inteira. No memento em que sofremos, parece que a dor humana é infinita. Mas nem a dor humana é infinita, pois nada há de humano de infinito, nem a nossa dor vale mais que ser uma dor que nós temos.

(...)
Para alguns que me falam e me ouvem, sou um insensível. Sou porém mais sensível - creio - que a vasta maioria dos homens. O que sou contudo, é um sensível que se conhece, e que, portanto, conhece a sensibilidade.

Ah, não é verdade que a vida seja dolorosa, ou que seja doloroso pensar na vida. O que é verdade é que a nossa dor só é séria e grave quando a fingimos tal. Se formos naturais, ela passará assim como veio, esbater-se-à assim como cresceu. Tudoi é nada e a nossa dor nele."


in O LIVRO DO DESASSOSSEGO
Fernando Pessoa

...Dolorosamente verdadeiro quando não fingimos que a dor é verdadeira...
"Inventemos, escreve Pessoa,

um Imperialismo Andrógino reunindo as qualidades masculinas e femininas; um imperialismo alimentado de todas as subtilezas femininas e de todas as forças de estruração masculinas. Realizemos Apolo espiritualmente. Não uma fusão do cristianismo e do paganismo, mas uma evasão do cristianismo, uma simples e estrita transcendência do paganismo, uma reconstrução transcendental do espírito pagão."


Fernando Pessoa


A PRIMEIRA ELEGIA

Quem, se eu gritasse, me ouviria dentre as ordens dos anjos?
e mesmo que um me apertasse de repente contra o coração:
eu morreria da sua existência mais forte. Pois o belo não É senão
o começo do terrível, que nós mal podemos ainda suportar,
e admiramo-lo tanto porque, impassivel, desdenha destruir-nos. Todo o anjo é terrivel
E assim eu me reprimo e engulo o chamamento dum soluçar escuro. Ai! de quem nos
poderiamos então valer? Nem de anjos, nem de homens,
e os bichos perspicazes reparam já que nós não estamos muito confiantes em casa
neste mundo explicado.

(...)

AS ELEGIAS A DUINO - Rainer Maria Rilke

sexta-feira, novembro 21, 2003

"... Elegante curva-se o botão, e é perfumado, eu sei.
Mas não aprovo, e não me conformo: a luz dos teus olhos
era mais preciosa do que todas as rosas deste mundo..."

(Edna St. Vicent Millay)






AS BOMBAS NÃO SÃO ROSAS, MAS O SANGUE HUMANO SÃO AS PÉTALAS DE UMA ROSA SECRETA NO CORAÇÃO DA VIDA...


“Eu querido irmão, pensei: o homem quer experimentar sensações fortes e quer ser amado. Ponto. Cada um de nós sabe-o em segredo e quando não lhe é dado, não consegue, ou lhe fica vedado satisfazer essas ânsias profundas, então arranja - sim, nós! - então arranjamos satisfações substitutas e agarramo-nos a uma vida suplementar, um suplemento de vida; toda a monstruosa criação técnica, expandindo-se febrilmente, um substituto para o amor.”
(...)
IN “Acidente” de CHRISTA WOLF



...Ah! meu irmão e as bombas e a guerra, a violação da mulher, esse ódio infernal entre os homens, essa cegueira que os divide entre o bem e o mal, não será também ânsia frustrada de um amor que nunca tiveram?



Do amor...?

Enquanto que existimos no nosso corpo terreno, estamos sujeitos à lei da Natureza que é dualidade; e esta dualidade cria a afinidade entre os complementos separados.

Esta dualidade, que é a base e o mal inicial da Natureza, é também a base da nossa experiência terrestre cuja finalidade é ultrapassar esta mesma Natureza na procura do retorno à Unidade.

Ela é a base da nossa cultura de consciência, uma vez que lhe damos a possibilidade da escolha entre as qualidades opostas, entre o que é real ou relativo, bom ou máu para a nossa consciência actual.

A dualidade sendo a causa da sexualidade -- portanto, a afinidade entre os complementos -- é a causa do desejo que o ser humano chama amor. O erro está em confundir amor, desejo e necessidade.

(...)I.S.L.


A METAFÍSICA DO SEXO

Assim o "significado superior do amor sexual, que não deve ser identificado ao instinto de reprodução, é o de ajudar tanto o homem , como a mulher, a integrar-se interiormente (na alma e no espírito) na imagem humana completa, isto é, na imagem divina original".

Esta imagem andrógina, tornada incorporal após a queda, deve incarnar-se , fixar-se e estabilizar-se nos amantes de modo que "os dois se não reproduzam unicamente num terceiro ser, a criança, mantendo-se contudo iguais a si próprios, tais como eram (não regenerados) mas que ambos renasçam interiormente como filhos do divino"

Julius Evola



Ah, só eu sei
Quanto dói meu coração
Sem fé nem lei,
sem melodia nem razão.

Só eu, só eu,
E não o posso dizer
Porque sentir é como o céu,
Vê-se mas não há nele nada que ver.


Fernando Pessoa


"TOUTE CONNAISSANCE CONÇUE PAR LE COEUR MONTE EN SURFACE D'ELLE-MÊME
COMME LA CRÈME SUR LE LAIT, SANS AUCUN EFFORT DE PENSÉE:
CECI EST LA VRAI CONNAISSANCE INTUITIVE."


"L'OUVERTURE DU CHEMIN"
Isha S.L.

quinta-feira, novembro 20, 2003

"PRÓXIMO É AQUELE QUE SOFRE
E DE QUEM NÓS NÃO TEMOS PIEDADE"

Y.K. Centeno


A ODISSEIA DO RANCOR...

AINDA CIORAN


Para que possamos manter a fé em nós mesmos e em outrem, e para que não nos apercebamos do carácter ilusório, da nulidade de toda e qualquer acção, a natureza tornou-nos opacos a nós próprios, sujeitos a uma cegueira que dá o mundo ao mundo e o que o governa. Se empreendêssemos uma indagação exaustiva sobre nos próprios, a repulsa paralisar-nos-ia e condernar-nos-ia a uma existência sem rendimento. A incompatibilidade entre o acto e o conhecimento de si parece ter escapado a Sócrates; sem o que, na qualidade de pedagogo, de cúmplice do homem, não saberiamos se teria ousado adoptar a divisa do oráculo, com todos os abismos da renúncia que ela supõe e nos convida.

Enquanto possuímos uma vontade própria e lhe permanecemos apegados (tal é a acusação endereçada a Lucífer), a vingança é um imperativo, uma necessidade orgânica que define o universo da diversidade, do "eu", e que não poderia ter fosse que sentido fosse de identidade. Se fosse verdade que "é no Uno que respiramos" (Plotino), de quem nos vingaríamos aí onde toda a diferença se esbate, onde comungamos no indiscernível e perdemos os nossos contornos?

De facto respiramos no múltiplo; o nosso reino é o do "eu", e não há salvação através do "eu". Existir é condescender com a sensação, e portanto com a afirmação de si; de onde o não-saber (com a sua consequência directa: a vingança), princípio de fantasmagoria, origem da nossa peregrinação na terra.

Quanto mais procuramos arrancar-nos ao noso eu, mais mergulhamos nele. Bem podemos tentar fazê-lo explodir, no próprio momento em que julgamos ter conseguido, ei-lo que nos surge mais seguro do que nunca; tudo o que empreendemos para o arruinar só serve para aumentar a sua força e a sua solidez, e tais são o seu vigor e a sua perversidade que ele se dilata ainda mais no sobrimento do que na fruiçãoÉ assim com os o eu, é assim, por maioria de razão com os actos."


in HISTÓRIA E UTOPIA
Emile Cioran

o oráculo



51 TRAUMA
Chen

Faça uma oferenda, pois os traumas perturbam imenso, mas ele está a tagarelar e a rir. O trauma assusta todos aqueles que se encontram a centenas de quilômetros de distância, contudo nem uma gota de vinho sagrado cai da colher.

NOVE EM PRIMEIRO LUGAR
O trauma provoca medo, medo autêntico. A seguir, vem a conversa e risos, risos autênticos. Boa fortuna.

SEIS NO TOPO
O trauma causa ansiedade, ansiedade autêntica. Lançar à volta com medo, medo autêntico. Atacar é desastroso. O trauma afecta os que estão à sua volta, mas não a ele. Não há nada de errado nisto, embora haja mexericos no seio da família.



PERDER

O centro também está nisto:

Apesar da explosão de raiva –

Da chuva a entrar pelo telhado

E do vento abrir estrondosamente todas as portas

- no fundo seco da taça da perda
Aparece um círculo perfeito com uma pinta:

E algo em ti está tão quieto
Que dás um pulo, mas não dês
Escutas impavidamente –
Respirando e observando a cena

E enquanto a porta bate, continuas dentro de ti
Tão vazio como estás, a jorros
Translúcido como o teu rosto

Então vês a colher que ele segura
E o líquido vermelho-rubi nem estremece...
Porque ele sabe que tudo o que lhe resta é verdade.


I CHING

quarta-feira, novembro 19, 2003

"NÃO. VISTO DE LONGE
O HOMEM NÃO TEM SIGNIFICADO"

y.k.cENTENO


AS CIVILIZAÇÕES...

"Cada civilização crê que o seu modo de vida é o único bom e o único concebível, que ele deve converter o mundo ou infligi-lo ao mundo; trata-se para ela de um equivalente a uma soteriologia (cristologia) expressa ou camuflada; ou, de facto, a um imperialismo elegante, mas que deixa de o ser assim que a aventura militar passa a acompanhá-lo.


Não se funda um império apenas por capricho. Submetemos os outros para que eles nos imitem, para que eles se moldem por nós, pelas nossas crenças e pelos nossos hábitos; vem a seguir o imperialismo perverso de fazer deles escravos para neles contemplarmos o esboço lisonjeiro ou caricatural de nós próprios. "(...)


in HISTÓRIA DA UTOPIA
Emile Cioran


E não é isto que todos fazemos um pouco uns aos autros mesmo a nível individual e quase sempre em nome do amor?
Sim, poderíamos pôr no singular o discurso e teríamos: "cada pessoa crê que o seu modo de vida é o único bom " e por aí adiante...




Por isso...
DEIXEM-SE DE FINGIR


Deixem-se de fingir de heróis da esquerda,
com bancos e bancas de advogados, redacções,
editoriais, automóvel, bolsas e cátedras,
quintas herdadas, páginas literárias.

Deixem-se de uivar em defesa de ismos
que nenhum vos pertence ou a que pertenceis
a não ser para dançar a dança desnalgada
dos que não têm vergonha do povo português.

O único ismos em consonância com os arrotos
de bem comidos, e rosnidos de instalados
naquilo que criticam disfarçadando-se,
é o relismo - de reles. Nada mais.


15/1/1972
in QUARENTA ANOS DE SERVIDÃO
JORGE DE SENA

terça-feira, novembro 18, 2003

POSE-MOI COMME UN SCEAU SUR TON COEUR, COMME UN SCEAU TON BRAS.
CAR L'AMOUR EST FORT COMME LA MORT


Cantiques des cantiques




O AUTO-CONHECIMENTO


A meditação e a Contemplação

"Em geral têm má fama no Ocidente. São tidas como formas especialmente repreensíveis de ociosidade ou como forma doentia de espelhar-se a si próprio. Não se tem tempo para o autoconhecimento, e também não se acredita que ele possa servir a qualquer finalidade sensata. Também absolutamente não vale a pena, como já se sabe de antemão, conhecer-se a si próprio, pois na verdade se acha que é fácil saber quem é que somos. Acredita-se exclusivamente na ação, e não se pergunta pelo sujeito da ação. Este último será julgado após certos êxitos avaliados coletivamente. Que existe uma psique inconsciente, disso sabemos, mas, contudo, ainda não foram tiradas as conclusões do fato que o homem ocidental é para si próprio um estranho, e que o AUTOCONHECIMENTO é uma das tarefas mais difíceis e mais exigentes"



JUNG, C.G. Mysterium coniunctionis



A IMPORTÂNCIA DA CONSCIÊNCIA PSICOLÓGICA>


“Quanto mais conhecimento de psicologia do inconsciente o leitor possuir, tanto mais fácil se tornará seu trabalho. Mas uma dificuldade diferente e mais decisiva consiste na ignorância generalizada, que é constituída, em grande parte de complexos reprimidos. Acontece muitas vezes que a personalidade consciente se volta contra todas as suas forças contra conteúdos, descarregando-os sob a forma de projecções sobre os seus semelhantes. Só vemos perfeitamente o argueiro que está no olho do nosso irmão e não enxergamos a trave que está no nosso próprio olho. O facto de sermos muitas vezes acometidos por uma cegueira sistemática em relação aos nossos próprios defeitos revela-se extremamente prejudicial, prejudicando o estudo e a compreensão do I CHING.”

In Psicologia e Religião Oriental – C.G.Jung


44 KOU

A mulher é poderosa. Não se case com esta mulher.

UNIDO COM ELA

A tua boca na boca dela – as tuas mãos
Nos seus seios cheios, maduros e redondos
Os braços dela à volta da tua cintura: as coxas levantadas,
E até a tua língua, como sonhaste dentro dela:

Mas não a podes ter.
Não podes tocar o que a ela pertence.
Essa boca forte é sua, ela é outra,

Porque o profundo ritmo da água é dela
Onde caminha a seu modo, como deve, sozinha

E tu? Tens de ser como ela
E encontrar todo o teu desejo em ti próprio
Para agora e para sempre.

Seres teu próprio rei.


In I CHING
O LIVRO DAS MUTAÇÕES


..." Depois disto vem a meditação sobre as árvores das jóias do país de Amitâbha, à qual se segue a meditação sobre a água"

segunda-feira, novembro 17, 2003


A VOZ DO SILÊNCIO

"SE queres colher a suave paz e descanço, discípulo, semeia as sementes do mérito nos campos das colheitas futuras. Aceita as dores de nascença.

Afasta-te da luz do sol para a sombra, para dares mais espaço aos outros. As lágrimas que regam o solo árido da dor e da tristeza fazem nascer as flores e os frutos da retribuição cármica. Da fornalha da vida humana e do seu fumo denso, saltam chamas aladas, chamas purificadas, que, erguendo-se alto, sob o olhar cármico, tecem por fim o tecido glorioso das vestes do Caminho." (...)


HELENA BLAVATSKY
- TRADUÇÃO E NOTAS DE FERNANDO PESSOA

O CONHECIMENTO...

"Todo o conhecimento espiritual é uma imagem e uma imaginação. Se assim não fosse, não haveria consciência nem fenomelogia da ocorrência. A própria imaginação é também um facto psíquico. Por isso é inteiramente irrelevante dizer-se que uma "iluminação" é "real" ou "imaginária". O iluminado, ou o que alega sê-lo, julga, em qualquer dos casos, que o é. A opinião dos outros nada significa para ele em relação à própria esperência. Mesmo que esteja mentindo, a sua mentira seria um facto psicológico. "(...)

PSICOLOGIA E RELIGIÃO ORIENTAL
C.G. Jung

“La Loi Veridique est le croisement; c’est la clé des énigmes.
L’énigme est pour les possesseurs de la clé.
La logique est pour les aveugles qui ne touchent que la terre de leur bâton...”


in “Her-Bak-Discipule”
de Schwaller de Lubicz



MANUAL DE ASCENÇÃO

O grande mito do amor consiste em que estás convencido de que podes amar alguém, alguma coisa,
ou pelo menos, a ti mesmo.
Ninguém pode amar outro; tu não podes amar-te a ti mesmo, nem amar outras pessoas!

Sabes porquê? - Porque o amor não é um «fazer» mas um «permitir ser»!

(...)

Assumir a Luz é não fazer nada. É ser capaz de começar por não fazer nada... Precisas de chegar a essa ignorância essencial e ficar quieto, sem projecto, límpido, inocente, transparente, para que o Outro que tu És nos Planos Cósmicos, possa escrever nesse Quadro Branco...


Seraphys

domingo, novembro 16, 2003

Pam Sukhum



O VERBO...

"Quando um homem está a falar, não pode estar a respirar: este é o sacrifício da respiração à fala. E quando um homem está a respirar, não pode estar a falar: este é o sacrifício da fala à respiração." (...)
Os Upanishades



A VOZ DO ÚTERO...

Mas uma Mulher pode e deve falar...este é o segredo do SEU dom...
A mulher é a Intérprete por excelência do Espírito Uno, aquela que liga o Céu e a Terra.
SEM A VOZ DA MULHER O HOMEM É SURDO...e o mundo torna-se ABSURDO!



LE SECRET

"On rappellera au passage que le terme "absurde" signifie ce qui est "sourd", ce qui par surdité se trouve éloigné du sens ou du secret. C'est la lumière intérieur qui déplie l'oreille de l'absurd, qui fait entendre le chant fondamental. " (...)

Jacqueline Kelen




DA ALMA...

"A alma não é um homem, nem uma mulher, nem o que não é homem nem mulher. Quando a alma toma a forma de um corpo, fica limitada por esse mesmo corpo.

A alma nasce e floresce num corpo, com sonhos e desejos, de acordo com as suas obras anteriores. E então renasce em novos corpos, conforme as acções da sua vida passada.

A qualidade da alma determina o seu futuro corpo: terreno ou aério, pesado ou leve. Os seus pensamentos e acções podem levá-lo à liberdade, ou conduzí-la à escravidão, vida após vida.


Os Upanishades


O ESPELHO DO SER

"Um Ser-Espelho é um ser cuja Aura se aproxima do cristalino. Este ser precisa de renunciar à fascinação de querer fazer o bem. Porque se ele quer fazer o bem, a sua Aura está cheia de cores bonitas (violeta, turquesa, rosa...), mas não é cristalina!... A Energia Cósmica Superior não responde à intenção humana consciente. Responde ao Vazio Sagrado. É preciso renunciar ao fascínio do bem... Quando o indivíduo renúncia ao fascínio do bem, gera-se um Vácuo dentro dele e ele é automaticamente ligado a MARIA... E só é possível contactar MARIA quando ele renuncia ao fascínio do bem. E quando ele renuncia, ele começa a fazer contacto com o Templo da Esfera, ele começa a descobrir o que é a Energia-Espelho. Quando ele supera este estado, ele está em condições de ser visitado por esta Energia muito profunda..."
(...)
(André - Encontros de Belém)

sábado, novembro 15, 2003


"Horiah é som central do conselho da galáxia; é o despertar, no planeta, do Cristo Feminino...

Quando se fala do Espírito Santo como regendo os Novos Tempos, está-se, na verdade, a falar do Cristo encarnando as vestes da Mãe numa união que irá permitir que Esta possa retornar, dentro da linearidade do tempo tridimensional, ao ventre do Filho, completando-se o ciclo maior deste Universo-Terra." (...)



HÁ A LUZ DO MISTÉRIO E ESTA
"ODISSEIA DO RANCOR" HUMANO...



"Há algo para além da nossa mente e que habita em silêncio no nosso ser. É o supremo mistério que ultrapassa o pensamento. Apoiai a vossa mente e o vosso corpo sibtil nesse algo, e não o apoieis em nenhuma outra coisa."

Os Upanishades


ODISSEIA DO RANCOR


"A capacidade de desistência constitui o único critério do progresso espiritual: é só quando as coisas nos deixam, é só quando as deixamos que acedemos à nudez interior, a esses extremos em que paramos de nos prender a este mundo e a nós próprios, e onde a vitória significa demitir-nos, recusarmo-nos com serenidade, sem remorsos e sobretudo sem melancolia; porque a melancolia, por discretas que as suas aparências sejam, continua ainda a relevar do ressentimento: é uma cisma com o selo do azedume, um ciúme mascarado de desfalecimento, um rancor vaporoso."

In HISTÓRIA E UTOPIA

Emile Cioran

... Uma grande amiga diz que Cioran me faz mal...mas penso que ninguém como ele viu com suficiente crueza - de crua e cruel - a realidade da condição humana...

sexta-feira, novembro 14, 2003



SAUDADE IMENSA


Sinto de ti uma saudade imensa, maior que a
distância e o tempo, pois tempo ela não ousa,
espaço ela não vive. Sinto de ti uma saudade imensa.

De palavras no meio da noite, de conchas que ouviam
como ao mar, as vagas de meu pranto recolhidas,
do afago incessante nos meus sonhos,
um vento cálido que velava a alma,
acalentando o cansaço de meus dias.

Sinto de ti uma saudade imensa, longa como meus olhos
que se perdem, pois olhos ela não conhece,
e perda sempre foi. Sinto de ti uma saudade imensa...

De teus desejos e rimas, de palavras que sorriam
como o sol na madrugada em mim.
E a lua-rede aos nossos corpos
mais que escritos em nós mesmos.

Sinto de ti uma saudade imensa... e penso: não existe onde...
o quando é infinito. Neste espaço lento da demora,
pergunto ao sonho de um ainda: quem, neste vazio tão triste,
soprou o sempre e apagou o horizonte?


Lília Chaves

"PARA TE ESCREVER EU ANTES ME PERFUMO TODA"
Ah! a Clarice...

quinta-feira, novembro 13, 2003

HOJE NÃO ME FOI PERMITIDO ENTRAR NA MINHA PÁGINA, MAS EM CONTRAPARTIDA,
PUDE ASSISTIR AO NASCIMENTO OFICIAL DE UM NOVO BLOG


Por uma Nova Consciência do Ser e uma Nova Ordem no Mundo.
Segundo a a definição da autora:

"A ORDEM NASCENTE É AINDA ALUSIVA E PERICLITANTE. EM OPOSIÇÃO AO SER MATERIALISTA EXTERNO, ELA FUNDA-SE SOBRETUDO NA DESCOBERTA DO VERDADEIRO SER, INTERNO, QUE PULSA MAIS OU MENOS MASCARADO DENTRO DE CADA UM DE NÓS." (...)


ORDEM NASCENTE

De onde retirei esta frase fabulosa de Pessoa e que revela a intenção da autora...

"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver,
acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao
mundo e maior amor ao coração dos homens."


Fernando Pessoa,
in O EU PROFUNDO

quarta-feira, novembro 12, 2003





"CRIAR É LEGARMOS OS NOSSOS SOFRIMENTOS, É QUERERMOS QUE OS OUTROS NELES MERGULHEM E OS ASSUMAM, SE IMPREGNEM DELES E OS REVIVAM. O QUE É A VERDADE DE UM POEMA E PODE SÊ-LE NO COSMOS"


"NÃO PODEMOS FAZER-NOS VALER, NEM DESEMPENHAR QUALQUER PAPEL NESTE MUNDO SEM A ASSISTÊNCIA DESTA OU DAQUELA ENFERMIDADE, E NÃO HÁ DINAMISMO QUE NÃO SEJA SINAL DE MISÉRIA FISIOLÓGICA OU DE DESVASTAÇÃO INTERIOR."


EMILE CIORAN
in HISTÓRIA E UTOPIA

Era mais ou menos isto que eu queria dizer hoje ao acordar...
Valeu-me o Cioran



DE QUE FALAMOS?

De que falamos
quando falamos das palavras
senão do tempo
que corre-escorre
por entre as malhas da voz?

Faladas
as palavras
são um combate encenado
uma insónia pessoal
Escritas
são reféns do olhar

No espaço da página
deslizam altivas como icebergues
ou então soçobram
desconhecidamente
no lado sombrio do funesto olvido


ANA HATHERLY
in O PAVÃO NEGRO


"O ORGULHO EMANA DA TENSÃO E DA SOBRECARGA DA CONSCIÊNCIA, DA IMPOSSIBILIDADE DA EXISTÊNCIA INGÉNUA."

EMILE CIORAN

terça-feira, novembro 11, 2003

ÁGUA VIVA...




Tenho falado muito de morte. Mas vou te falar do sopro de vida. Quando a pessoa já está sem respiração faz-se a respiração bucal: cola-se a boca na boca do outro e se respira. E a outra recomeça a respirar. Essa troca de aspiração é uma das coisas mais belas que já ouvi dizerem da vida. Na verdade a beleza deste boca a boca está me ofuscando.

Oh, como tudo é incerto. E no entanto dentro da Ordem. Não sei o que te vou escrever na frase seguinte. A verdade última a gente nunca diz. Quem sabe da verdade que venha então. E fale.

Ouviremos contritos.


CLARICE LISPECTOR

segunda-feira, novembro 10, 2003

"A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão.É uma questão de consciência".
Gandhi



AS MULHERES NO ORIENTE ANTIGO...



A China sempre gozou de uma profunda tradição Xamânica. Onde ela mais se desenvolveu foi no reino meridional de Chu. Nele, as mulheres desempenhavam um papel fundamental. Chamavam-se WU, ZHU ou LING, e rendiam culto ao invisível por meio de danças e de cantos. Convidavam os espíritos a baixar (jiang) até elas e mantinham com eles uma autêntica relação de amor. Nem toda a gente podia optar por se chamar Xamã : "Na antiguidade...só se chamava xamã àquele ou àquela que tinha uma essência de vida própria e desenvovida e que fosse capaz de assegurar uma rectidão e grande sinceridade. O seu saber alcançava tanto o que está em cima como o que está em baixo. O fulgor da sua sabedoria iluminava tudo em seu redor e os seus ouvidos podiam ouvir tudo. Os espíritos celestes e terrestres entravam nela"

in TAOÍSMO E ALQUIMIA FEMININA de Catherine Despeux

Tao Te King

"Quem conhece o outro, é conhecedor.
Quem se conhece a si mesmo, é sábio
O que conquista o outro, tem força
O que se conquista a si mesmo, é poderoso
Quem sabe contentar-se, é rico
Quem é firme no seu propósito, tem carácter
O que não perde a sua interioridade, resiste
O que sabe morrer, mas não perece, possui a vida eterna"


Lao Tse

domingo, novembro 09, 2003

SOBRE A FÉ E OS MÉTODOS...


"MAS A FÉ É UM CARISMA, UM DOM DA GRAÇA, E NÃO UM MÉTODO."



"O HINDU NÃO CONSEGUE ESQUECER NEM O CORPO NEM O ESPÍRITO. O EUROPEU, PELO CONTRÁRIO, ESQUECE SEMPRE UM E OUTRO.

Foi graças a esta capacidade que ele conquistou antecipadamente o mundo, isso não ocorrendo com o hindu. Este não somente conhece a sua natureza, como também sabe até onde ele próprio é essa natureza. O europeu, pelo contrário, tem uma ciência da natureza e sabe espantosamente muito pouco a respeito da natureza que está nele. Para o hindu é um beneficio conhecer um método que o ajude a vencer o poder supremo da natureza, por dentro e por fora. Para o europeu é um veneno reprimir totalmente a natureza já mutilada e transformá-la em robô obediente."
(...)
"Um guru hindu poderá explicar-lhe tudo muito claramente e você poderá executar, depois, o que ele lhe tiver ensinado, mas saberá você QUEM está se utilizando da yoga? Em outras palavras: saberá você quem é você mesmo e de que modo é constituído?"


O EUROPEU PRECISA DE RETORNAR, NÃO À NATUREZA, À MANEIRA DE ROUSSEAU, MAS À SUA NATUREZA. SUA MISSÃO CONSISTE EM REDESCOBRIR O HOMEM NATURAL."


"O SLOGAN "QUERER É PODER" CUSTOU A VIDA DE MILHÕES DE PESSOAS"


PSICOLOGIA E RELIGIÃO ORIENTAL - C.G. JUNG

sábado, novembro 08, 2003

"Mágoa externa na Terra,
choro silencioso do Mundo."




AUSÊNCIA


Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.


SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN





Vem, ó noite,
e apaga-me,
vem e afoga-me em ti.


Ó carinhosa do Além, senhora do luto infinito,
Mágoa externa na Terra, choro silencioso do Mundo.
Mãe suave e antiga das emoções sem gesto,
Irmã mais velha, virgem e triste, das idéias sem nexo,
Noiva esperando sempre os nossos propósitos incompletos,
A direção constantemente abandonada do nosso destino,
A nossa incerteza pagã sem alegria,
A nossa fraqueza cristã sem fé,
O nosso budismo inerte, sem amor pelas coisas nem êxtases,
A nossa febre, a nossa palidez, a nossa impaciência de fracos,
A nossa vida, o mãe, a nossa perdida vida...

(...)

Por isso sê para mim materna, ó noite tranqüila...
Tu, que tiras o mundo ao mundo, tu que és a paz,
Tu que não existes, que és só a ausência da luz,
Tu que não és uma coisa, rim lugar, uma essência, uma vida,
Penélope da teia, amanhã desfeita, da tua escuridão,
Circe irreal dos febris, dos angustiados sem causa,
Vem para mim, ó noite, estende para mim as mãos,
E sê frescor e alívio, o noite, sobre a minha fronte...
'Tu, cuja vinda é tão suave que parece um afastamento,
Cujo fluxo e refluxo de treva, quando a lua bafeja,
Tem ondas de carinho morto, frio de mares de sonho,
Brisas de paisagens supostas para a nossa angústia excessiva...
Tu, palidamente, tu, flébil, tu, liquidamente,
Aroma de morte entre flores, hálito de febre sobre margens,
Tu, rainha, tu, castelã, tu, dona pálida, vem...


Excerto do poema Passagem das horas de Álvaro de Campos

Mãe suave e antiga das emoções sem gesto...


Deusas do Eclipse Lunar:
Hécate e Lilith

(...)
Na Antiguidade existiam deusas do Eclipse Lunar, como Hécate e Lilith. Vou
utilizar esses nomes para poder falar em linguagem mitológica e simbólica,
pois creio que seja uma forma boa de se explicar essas coisas.
Tudo que gira em torno do lunar, principalmente da Lua Negra, é melhor falado em forma do imaginário.

O que é o eclipse lunar? É o momento onde o presente influencia o passado.
É um excelente momento para mudarmos nosso passado e transformarmos nossa
história pessoal presente. Isso pode parecer estranho, mas ser estranho faz parte do mundo lunar.
(...)
Os momentos mais poderosos do eclipse ocorrem quando ele está se formando e
desfazendo e não quando a Lua está inteira dentro do cone de sombra. Então,
quando a Lua começar a diminuir, páre com tudo e medite, entre na corrente.
Hécate causa estados alterados. Assim, se souber entrar sózinho em estado
alterado de consciência, irá entrar no estado alterado do estado alterado.
Que é o ápice do estado puro de gnose. Saiba utilizar isso bem, pois tudo
que sabe espiritualidade, magia, caminho e coisas do gênero vão mudar depois
disso. Poderá entrar em outros níveis de percepção



Cronos - também conhecido como Marcelo Brasil
Excerto tirado de Artémis - Fórum de Mulheres


"L'écho assourdi d'une symphonie oubliée résonne à nouveau en notre mémoire"

in "L'ENERGIE DES PYRAMIDES ET L'HOMME" - Étienne Guillé


O BA E O KA

(...) O “eu” é o portador do nome que assiste, impotente, ao julgamento do seu coração. O Nome é o verbo aparente da personalidade humana terrestre; ele devia ser a expressão do seu Ka e da sua natureza, se ele estivesse correctamente atribu?do. Ele é sempre a fórmula mágica que conserva a sua imagem na mem?ria dos seres.
Ele é a veste do eu egoísta; é por isso, que quando este eu ego?sta se apaga diante do homem consciente do seu fim altruísta, nós modificamos o seu nome para o pôr em harmonia com o seu Ser e a sua função verdadeira.
- Porquê que é que a alma - pássaro (BA) fica à parte na cena do julgamento?
- A alma divina é neutra, impassível e indiferente a esta história pessoal.
Se o homem não cultivou a afinidade do seu KA por esta alma, se ele não estabeleceu, por um apelo constante ao seu ser espiritual, a relação que é a sua consciência recíproca, a alma volta para a sua pátria, e o seu ser unificado não se poderá realizar.


" In HER-BAK “Disciple”, de Schwaller de Lubicz.


MANUAL DE ASCENÇÃO

"Lembra-te de que a tua personalidade continuar a poder escolher; isso faz parte do «acordo». Porém, enquanto ESPÍRITO, a tua esperança é conseguir uma integração plena e total entre todas as partes envolvidas na decisão. Todavia, isso deve ser acordado bilateralmente (entre o eu-espírito e o eu-ego) por forma a não parecer que uma parte usurpou o poder da outra."
(...)

SERAPHYS

sexta-feira, novembro 07, 2003

A DEUSA LUA E ESTA TERRA SAGRADA


"No centro do nosso país, a escolha das grutas naturais ou a construção das artificiais e das tholoi, teria pertencido ao sacerdócio de então, como detentor do conhecimento das correntes da energia telúrico-cósmicas atravessando o nosso solo e os pontos de seu cruzamento, como pontos máximos de sua concentração. Rede de correntes telúricas, por ela ligadas aquelas mais vastas e circundantes da rede cósmica: ou como sua projecção na terra. Seria o conhecimento desta estrutura energética, que teria marcado a nossa geografia sagrada.

Assim, nesta imortalidade telúrica e celeste, doada pala deusa-lua, fazendo-se no devir e ultrapassando-o através da sua dor e alegria, assumindo a terra e sublimando-a no céu, tentemos vislumbrar algo das origens da saudade.

(...)
Pareceu-nos que, tendo a saudade sua existência peculiar neste território e humanidade galaico-português, e sendo dele herdado, suas raízes afundariam na mais funda essência sagrada desse território e humanidade, como sua religião primeva;"



A SAUDADE


“A saudade pertencendo ao caminho da Lua, sua salvação é dada no mundo sublunar da transformação, do retorno cíclico da terra ao céu e do céu à terra, através da encarnação e reminiscências; tal ainda aquele regido e simbolizado pela serpente e pela espiral, (...)

Toda a estrutura da saudade pertencer à metafísica lunar: como nesta, a sua ideia central é a do ritmo, na sucessão e união de contrórios através do devir, por um dualismo solucionado numa integração final. (...)


(...)

Dalila L. Pereira da Costa, no seu livro “DA SERPENTE À IMACULADA”



"A GRANDE MãE"



"Ela é o centro da magia, do cântico mágico e enfim da poesia,
pois a situação extática da vidente resulta de ela ser dominada por um espírito que irrompe dentro dela, o qual se pronuncia a partir dela , ou melhor, que nela se denuncia e se manifesta, em forma de invocação rítmica e intensa.
Ela é a fonte de onde Odin obteve as runas da sabedoria, bem como a Musa,
a origem das palavras que fluem do âmago do poeta e sua anima inspiradora."





quinta-feira, novembro 06, 2003



ECLIPSE LUNAR DE 08 DE NOVEMBRO DE 2003


Os Planeta formam a sagrada ESTRELA DE DAVID



Nessa posição a sombra da Terra é projetada sobre a Lua vindo a
ocultá-la.

Eclipses impressionam muito os seres humanos. Mitos e rituais se
criaram a partir das observações feitas pelo homem a esses fenômenos.

Na antigüidade era sinal de "mau agouro", atualmente, com os avanços
da ciência e principalmente, como o resgate da velha religião e a
observação saudável dos fenômenos da natureza temos outra
interpretação desse evento. São realmente momentos mágicos.

Durante um eclipse lunar, onde a Lua é ocultada pela sombra da Terra
que se alinha com o Sol, temos a trilogia Sol/Terra/Lua formada
novamente. Nessa situação a Lua representa o passado, a Terra o
presente e o Sol o futuro.

Ao projetar uma sombra sobre a Lua, o presente momento pode oferecer
a todos que estão nele, a possibilidade de desprendimento de algum
conceito antigo que não é mais necessário atualmente, e que vem sendo
sentida a necessidade de superação, transformação e eliminação, como
algo que incomoda, mas não temos força o suficiente para decidir
resolver.

Muitos hábitos antigos nossos são saudáveis e não necessitam serem
descartados, porém temos outros que precisam ser reeditados ou até
eliminados totalmente. Geralmente, os vícios, situações de apego ou
submissão são os mais indicados a serem trabalhados nesses
momentos "mágicos" para total eliminação.

Realmente, imprevistos devem ser esperados, Eclipses falam disso:
Ocultamento; Esquecimento; Crise e intensificação; Aceleração e
precipitação; Inversão; Mudanças bruscas e inesperadas, são os termos
clássicos usados na astrologia para definir um eclipse Lunar ou Solar.
(...)


Excerto retirado de Artémis
escrito por: AGHNA KEAVY

quarta-feira, novembro 05, 2003

A VIDA, A DEUSA-MÃE E A MORTE

“A Terra-Mãe, a Deusa-Mãe de todas as religiões posteriores, é sentida, (...) como matriz universal, como fonte ininterrupta de toda a criação. A morte, em si própria. Não é um fim definitivo, não é um aniquilação absoluta, tal como é por vezes concebida no mundo moderno. A morte, é assimilada à semente que, enterrrada no seio da Terra-Mãe, fará nascer uma planta nova. Pode assim falar-se de uma visão optimista da morte, pois a morte é considerada como um regresso à Mãe, uma reintegração provisória no seio materno. (...) Eis porque, a partir do neolítico, encontramos o enterro em posição embrionária: os mortos são colocados na Terra numa atitude de embriões, como se esperasse a todo o momento regressarem à vida.”
(...)

Mircea Eliade, diz ainda:

“O que a Lua revela ao homem religioso (numa autêntica metafísica da Lua), é não somente que a Morte está indissociavelmente ligada à Vida, mas também, e sobretudo, que a morte não é definitiva, que é sempre seguida de um novo nascimento.
É por tais razões que o culto da Grande Deusa-Mãe, a que estão ligados os dolmens da civilização megalitica, é um culto simultâneamente terrestre e lunar.”


“Representações ofídicas e astrais, como aqui das mais correntes nos dolmens deste período, nos poderá levar a supor que a Deusa era já adorada e cultuada como rainha do céu e da terra, mãe dos vivos e dos mortos, num culto inseparável de fertilidade e funerário: ainda, com o seu poder de fazer germinar os grãos e ressuscitar os mortos, ele surgirá na época do domínio, sob o nome de Atégina.”


Cita, Dalila Pereira da Costa, no seu livro “da Serpente à Imaculada”



A Serpente, o Totem da Lusitânia.
À Lusitânia se chamou OPHIUSA, a Terra da Serpente.



Como escreveu Pinharada Gomes,
A Serpente é o sinal remoto que nos introduz numa das geneologias a divinis do povo lusitano e dos seus valores religiosos.

A Serpente apresenta como símbolo do reconhecimento global a serpente enrolada, a boca tocando o rabo, denomina simbolicamente o universo do saber, a unidade do ser. (...)

A Serpente indica a gravidade e a esfericidade do universo, o saber de geonomia e o conhecimento dos elementos, patentes na simbólica da cruz celta.
“Que este símbolo nos ajude a entender melhor a evolução deste velho país, lançando movimentos universais cuja energia a certa altura parece extinguir-se ou transferir-se para o dinamismo de outros povos, mas retomando-os mais tarde a outros níveis para de novo relançar movimentos de teleológico alcance, assim exprimindo uma identidade complexa, entre o genial e o decadente, sobre um misterioso substracto profético e messiânico.”

“Portugal é um país marcado por um destino fulgurante, embora muitas vezes infeliz, um país encoberto pela incompreensão ou pelo estrangeiramento dos seus próprios filhos infiéis, o que foi notado por pensadores de outras nacionalidades, um país onde se situa no entanto um dos grandes pilares ou fundamentos da civilização humana. Esta verdade do Portugal profundo e encoberto não é porém acessível a todos, porque a terra e o espírito da terra não são patentes na visão de curto alcance, nas ambições limitadas e na constituição cultural e psico-sociológica que dominam as nossas classes políticas e “intelectuais” de hoje.

“No Caminho da Serpente, disse Fernando Pessoa, que ela liga os contrários verdadeiros (os pólos opostos complementares) porque, ao passo que os caminhos do mundo são, ou da direita, ou da esquerda, ou do meio, ela segue um caminho que passa por todos e não nenhum.” (...)

É no entanto do conhecimento e da compreensão ou da desocultação da sua realidade recôndita e recalcada, para além das visões sociológicas superficiais, que depende o seu futuro, o futuro de todos nós, não um futuro qualquer, em mediocridade complexa e imitativa, mas um futuro de renovada grandeza humana para a nossa pátria prometida.” prometida.”


PORTUGAL,
RAZÃO E MISTÉRIO de António Quadros


“PORTUGAL é um ente. Esse ente tem de cumprir um destino. Esse destino envolve que as verdades que este livro revela sejam dadas primeiro em português do que noutra língua qualquer.”

Fernando Pessoa

terça-feira, novembro 04, 2003

"CROIRE AUX IMAGES EST LE SECRET DU DYNAMISME PSYCHIQUE"G.B.



"OS SÍMBOLOS, TAL COMO OS SONHOS, SÃO PRODUTOS NATURAIS, MAS NÃO APARECEM SÓ NOS SONHOS. PODEM APARECER EM NUMEROSAS MANIFESTAÇÕES PSÍQUICAS: HÁ PENSAMENTOS E SENTIMENTOS SIMBÓLICOS: ACTUAÇÕES E SITUAÇÕES SIMBÓLICAS"

in Literatura e Alquimia de Y.K.Centeno
«A SOLIDÃO E O AMOR»

(...)
Na origem do impulso para a comunicação amorosa estaria, pois, uma consciência da cisão intrínseca do ser humano, da separação dentro de si e em relação aos outros. O corpo é o primeiro sintoma de incomunicabilidade, o corpo é a forma exterior da interior forma hermética do ser humano. Os corpos são entidades, como os seres que transportam e, se por um lado são reflexo, por outro são aquela superfície em que tudo se reflecte. Por isso o corpo é o ponto de partida para o amor. Talvez cessando o corpo também o cesse, mas entretanto tem de ser considerado como o instrumento mais causador da nossa solidão, portanto, o mais imediatamente capaz de nos permitir ultrapassá-la.


(...)
IN «AS NOVE INCURSÕES» de Ana Hatherly


Sim, o que te escrevo não é de ninguém. E essa liberdade de ninguém é muito perigosa.
É como o infinito que tem cor de ar"


Clarice Lispector

segunda-feira, novembro 03, 2003

AS MÁSCARAS...

Todas as máscaras que pomos, todas as subpersonalidades que confundimos com o que na realidade somos, não é mais do que uma expressão do medo de não merecermos ser amados.
(...)
Cada uma das nossas subpersonalidades é uma “samskara”, um sinal das nossas almas que se tornou cómodo com o uso e que continuaremos a aproveitar para viver dela (subpersonalidade) até que nos tornemos conscientes do modelo e decidamos curá-la. Por exemplo, detrás da máscara da Vítima encontra-se o Dom de um coração compassivo. Quando já sofremos e nos curámos, temos uma empatia especial para com o sofrimento dos demais. Por detrás da máscara do Perfeccionista, vive uma estima profunda da beleza e do equilíbrio. O Juiz, uma vez curado, converte-se num bom discernidor, capaz de distinguir os dotes únicos de cada pessoa.


JOAN BORYSENKO



PARA LÁ DAS MÁSCARAS...

"Há uma Luz que brilha para além de todas as coisas na Terra, para além de nós, para além dos céus, para além do mais alto, do mais alto dos céus.
É a Luz que brilha nos nossos corações.

Há um espírito que é essência da vida, luz e verdade e vastos espaços. Contém todas as obras e desejos e todos os perfumes e paladares. Egloba todo o universo e a todas ama em silêncio.

... Este é o Espírito que está no meu coração, mais pequeno que um grão de arroz, mais pequeno que um grão de cevada, ou um grão de semente de mostarda..."


in OS UPANISHADES

A PINEAL...

A pineal é equivalente a um óvulo. É um receptor. É como um espelho feminino de fixação de Luz Divina. A Mónada gera um poder seminal e quando o momento chega Ela envia a sua semente através do sutratman para a pineal. Quando essa Semente se instala na pineal, dá-se uma mesclagem dentro de ti das duas Luzes –OR e UR. A síntese das duas Luzes dá origem a uma nova Luz: Um Nascimento, uma Iniciação.

A Luz já desceu. A fecundação já aconteceu. Agora tu estás a “chocar” o Filho.

Esta Semente na pineal alimenta-se do nosso alinhamento, da nossa aspiração ao Divino, da nossa focalização, da nossa concentração no centro da consciência, tentando ser sincero com essa Semente/Criança. Esta Semente está pedindo a Luz.

Quando tu te alinhas, tu geras Luz. As tuas mãos transformam-se em instrumentos de cura. Essa Luz faz de ti uma Mãe, uma Noiva, uma Receptora...


Apontamentos da conferência por André
Belém, 22 de Março de 2002


domingo, novembro 02, 2003


SALVÉ ANDRÓGINO


UMA NOVA ERA
OU UMA NOVA ORDEM...


EM QUE É QUE PODE CONSISTIR uma nova ordem de valores e uma vida verdadeiramente humana, para lá dos conflitos humanos de bem e mal tão secularmente em crise e sem qualquer saída?
Certamente que nada menos do que um Ser totalizado ou realizado a partir de um novo código genético e uma diferente psique. Para que acabem de vez as dicotomias e os conflitos entre um e o outro e isso implica uma nova mulher e um novo homem, ou apenas um SER que será essencialmente Humano primeiro. Não mais um homem e uma mulher divididos e confrontados com os seus opostos e em luta de supremacia um sobre o outro e em subdivisões de uma natureza que não lhes corresponde, senão enquanto animal.
Nenhuma lei humana ou ideologia poderá singrar se os seres humanos não resolverem o velho cisma que divide a humanidade há milhares de anos. A mulher e o homem terão de atingir um patamar de perfeito equilíbrio e harmonia interior o que não será possível sem a integração das suas polaridades, dentro de si e no mundo...
O mandamento cristão de “amai-vos uns aos outros como a vós mesmos” só será possível “quando os dois forem um e o macho e a fêmea não forem mais macho nem fêmea”- como disse o próprio Cristo...
Esse “mandamento” falhado da Igreja não foi possível pois a própria Igreja traiu o propósito crístico e dividiu o homem e a mulher e a mulher em duas...Quando se criam seres banidos ou desprotegidos não podemos amar ninguém como a nós mesmos! O Ser Humano desviou-se do sentido dessa união e do seu propósito inicial e evolutivo.
O “pecado” que todos carregamos derivou do erro inicial de interpretação bíblica – intencional ou não - e teve como nefasta consequência a derrota da humanidade cindida em duas metades sendo supostamente uma superior à outra o que não é ontológica e essencialmente verdade. Assim, uma nova ordem só poderá nascer quando a mulher for una em si e o homem a integrar como uma parte sua e não separada e vice-versa.
Não haverá novos e verdadeiros valores enquanto o ser humano não integrar as suas polaridades e se tornar um ser integral e com acesso a uma consciência para lá da dualidade, no interior ou no centro do seu próprio coração inteligente onde se realiza ou faz a síntese do ser dual.
Esta Humanidade só poderá ser regenerada quando for regida pelas leis do universo – “o que está em cima é igual ao que está em baixo” - e livremente ligada ao seu coração como o diapasão de uma nova consciência emergente tendo que morrer o homem velho que dominou o mundo pela espada. E o Cálice será de novo a Ordem nascente...


Rosa Leonor Pedro

O COMENTÁRIO DO LEITOR...

Há milénios que temos sido fragmentados. A Igreja Católica tem contribuído muito para tal facto. O Homem Integral é um devir, mas os gnósticos advertem que a maioria da humanidade está arredada da Sabedoria e, mesmo os eleitos, poderão sofrer alguns dissabores. "Mais vale quem Deus ajuda do que quem muito madruga" - temos que ser abençoados pela Graça divina! Que a Grande Mãe nos proteja e nos inicie nos Grandes Mistérios!

António | 02-11-2003 14:10:20


...a apresentação de um livro de Bruxinhos no Panteão Nacional ?

Não queriam lá uma fadista nacional, de renome mundial, mas um livro inglês tem mais cachet que qualquer vulto nacional e acabamos sempre por ceder aos estrangeiros, nós os estrangeirados...

Leia mais sobre a COMERCIALIZAÇÃO DA ARTE no meu outro blog MELUSINE
A SABEDORIA É INATA

"Agora - silêncio e leve espanto.


Foi uma sensaçãp súbita, mas suavíssima. A luminosidade sorria no ar: exactamente isso. Era um suspiro do mundo. Não sei explicar assim como não se sabe contar sobre a aurora a um cego. É indizível o que me aconteceu em forma de sentir: preciso depressa de sua empatia. Sinta comigo. Era uma felicidade suprema.

Mas se você já conhece o estado de graça reconhecerá o que vou dizer. Não me refiro à respiração, que é uma graça especial que tantas vezes acontece aos que lidam com arte.

O estado de graça de que falo não é usado para nada. É como se viesse apenas para que se soubesse que realmente se existe e existe o mundo. Nesse estado, além da tranquila felicidade que se irradia de pessoa e coisas, há uma lucidez que só chamo de leve porque na graça é tudo tão leve. É uma lucidez de quem não precisa mais adivinhar: sem esforço, sabe. Apenas isto: sabe. Não me pergunte o quê, porque só posso responder do mesmo modo: sabe-se.

E há uma bem-aventurança física que a nada se compara. O corpo se transforma num dom. E se sente que é um dom porque se está experimentando, uma fonte directa, a dádiva de repente indubitável de existir milagrosamente e materialmente.

Tudo ganha uma espécie de nimbo que não é imaginário: vem do esplendor da irradiação matemática das coisas e da lembrança de pessoas. Passa-se a sentir que tudo o que existe respira e exala um finíssimo resplendor de energia. A verdade do mundo, porém é impalpável."


in ÁGUA VIVA
CLARICE LISPECTOR



Mensagem do Cosmos:

"Há uma quantidade tremenda de energia cósmica sendo gerada pela estrela
tetraedro que está se formando e irá culminar em 8 e 9 de Novembro. A
eclipse lunar irá introduzir um novo conjunto de energias arquetípicas
para a Terra 5D, particularmente em torno das energias femininas da Grande Mãe."

sábado, novembro 01, 2003

HISTÓRIA E UTOPIA - O Livro



"Móbil vulgar, portanto eficaz, da inspiração, o ressentimento triunfa na arte que não poderia dispensá-lo - como a filosofia, de resto, não o poderia também: pensar é vingarmo-nos com astúcia, é sabermos camuflar os nosso lados tenebrosos e velar os nossos maus instintos. Se o julgarmos pelo que exclui e recusa, um sistema evoca um ajuste de contas, habilmente conduzido. Implacáveis os filósofos são duros, como os poetas, como todos os que têm alguma coisa a dizer."(...)

E. M. CIORAN
"É uma vida de violência mágica. "


"E eu vivo de lado - lugar onde a luz central não me cresta. E falo bem baixo para que os ouvidos sejam obrigados a ficar atentos e a me ouvir.


Mas conheço também outra vida ainda. Conheço e quero-a e devoro-a truculentamente. É uma vida de violência mágica. É misteriosa e enfeitiçante. Gotas de água enlançam enquanto as estrelas tremem. Gotas de água pingam na obsuridade fosforecente da gruta. Nesse escuro as flores se entrelaçam em um jardim feérico e humido. Sinto-me derrotada pela minha própria corruptibilidade.

E vejo que sou intrinsecamente má. É apenas por pura bondade que sou boa. Derrotada por mim mesma. Que me levo aos caminhos da salamandra, génio que governa o fogo e nele vive. E dou-me como oferenda aos mortos. Faço encantações no solstício, espectro de dragão exorcizado."


CLARICE LISPECTOR