O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, outubro 29, 2018

HAJA LUCIDEZ



CLAREZA - HAJA LUCIDEZ

Kiddi Terf

"O que os homens "sentem em si mesmos " não altera o poder e os privilégios que lhes são dados nesta sociedade e o que as mulheres "sentem em si mesmas " não altera em nada a sua experiência do sexismo. Eu não "sinto em mim mesma" a necessidade de ser insultada de forma misógina de ser um objecto, abusada ou assediada sexualmente, e no entanto isso é-me imposto de qualquer maneira. Eu não escolhi ser tratada como uma mulher dominada pelo sistema patriarcal e nunca me senti confortável com a feminilidade. Isso faz de mim um homem?

Dissolver as categorias " Homem " e " Mulher " a fim de permitir a "fluidez do género " pode parecer progressista. Mas isso não é mais progressista nas circunstâncias actuais do que dizer que a raça não existe e que os brancos que não se "sentem" brancos ou que adoptam comportamentos estereotipados geralmente associados a pessoas de cor não teriam privilégio neste mundo. Se uma pessoa branca se atrevia a fazer isso, diríamos que é uma fraude e um comportamento desse tipo. Por que razão temos de aceitar a ideia de que um homem se apoderando dos estereótipos sexistas tradicionalmente associados às mulheres, poderia, como por magia, mudar de sexo e privar-se do seu privilégio de homem?"


O TEAR SECRETO DO CORPO FEMININO

“Em Um Quarto Só para Si, Virgínia Woolf descreve satiricamente a sua perplexidade perante os volumosos catálogos da biblioteca do Museu Britânico: porque é que há tantos livros escritos por homens acerca das mulheres, pergunta-se ela, e nenhum escrito por mulheres acerca dos homens? A resposta a essa pergunta é que desde o começo dos tempos os homens se têm debatido com a ameaça do domínio feminino. Essa torrente de livros foi instigada não pela fraqueza das mulheres, mas pela sua força, a sua complexidade e impenetrabilidade, a sua omnipresença aterradora. Ainda não nasceu o homem, nem sequer Jesus, que não tenha sido tecido, a partir de uma pobre partícula de plasma e até se converter num ser consciente, no tear secreto do corpo feminino. Esse corpo é o berço e a fofa almofada do amor feminino, mas é também o cavalete de tortura da natureza.”*  Camille Paglia



Os Hebreus, e a criação de modelos de mulheres aberrantes...

“O medo das mulheres, ou ginofobia, é um mal bem conhecido que remonta de muito longe na história da criação. Deus, diz-se, criou o homem à sua imagem. Mas seguramente não a mulher. Senão, ele não seria obrigado a renovar tantas vezes essa tentativa, criando tantos modelos de mulheres aberrantes, a acreditarmos nos múltiplos contos, lendas, mitos, midrashim e haggadah que, entre outros, nos transmitiram os Hebreus.”



In LA DÉESSE SAUVAGE de Joelle de Gavelaine


PORQUE OS HOMENS DEPRECIAM TANTO AS MULHERES...

“A atitude depreciativa que muitos homens têm em relação às mulheres é uma tentativa inconsciente de controlar uma situação em que ele se sente em desvantagem; muitas vezes ele procura eliminar o poder da mulher, induzindo-a a agir como mãe. Dessa maneira ele é liberto em grande escala do seu medo, pois na relação com a sua mãe quase todo o homem experimentou o aspecto positivo do amor da mulher. Mesmo assim não está totalmente livre de apreensão, porque ao fazer com a que a mulher seja mãe dele, ao mesmo tempo torna-se criança e está portanto, em perigo de cair na sua própria infantilidade. Se isso acontece ele pode ser dominado por sua própria fraqueza, e uma vez mais deixa a mulher o poder da situação. Consequentemente, a maioria dos homens aproxima-se de uma mulher com medo, não obstante seja um medo inconsciente, ou com a hostilidade nascida do medo ou, talvez, com uma atitude dominadora, para arrebata-la de um golpe. “ *


* In OS MISTÉRIOS DA MULHER
M. Esther Harding

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