O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, outubro 07, 2018

VIOLAÇÃO E MISOGINIA


 Misoginia é definida como o ódio dos homens às mulheres...  

"A misoginia funciona como uma ideologia ou sistema de crença que tem acompanhado o patriarcado ou sociedades dominadas pelo homem por milhares de anos e continua colocando mulheres em posições subordinadas com acesso limitado ao poder e tomada de decisões. [...] Aristóteles sustentou que mulheres existem como deformidades naturais e homens imperfeitos [...] Desde então, as mulheres em culturas Ocidentais tem internalizado seu papel como bodes expiatórios da sociedade, influenciadas no século XXI pela objetificação das mesmas pela mídia com seu autodesprezo culturalmente sancionado e fixações em cirurgia plástica, anorexia e bulimia." Michael Flood

MAS EXISTE MISOGINIA TAMBÉM NAS MULHERES?

A foto mostra os dois jovens há 10 anos numa discoteca a dançar ...

Deixo-vos um texto tirado do facebook de uma mulher sobre um tema na berra, a suposta Violação de uma mulher modelo americano por CR7, futebolista multimilionário e que nega essa acusação tendo porém pago pelo seu silêncio etc. O caso passou-se há quase dez anos e só agora o assunto vem para a Ribalta na sequência do ME TOO. Não vou tecer considerações sobre o assunto  no momento, mas creio que o texto se refere as reacções das mulheres contra a mulher, a modelo e a favor do famoso jogador que por sinal é bastante polémico, mas considerado um herói nacional. 

"Que estou eu a pensar?

Estou a pensar que nunca julguei existirem tantas mulheres misóginas neste país. Mulheres que falam das outras mulheres sem qualquer respeito por si próprias. Mulheres que me envergonham, mulheres que não me representam, mulheres que deviam ser consideradas incapazes como educadoras e mães. Sim, porque uma mulher que ensina a filha que se entrou no quarto de um homem tem de 'sujeitar-se' ao que ele bem quiser, ainda que saia de lá em cacos, não tem capacidade de educar ninguém.
Desde pequenas que nos ensinam a esconder-nos, a reprimir-nos, a autocensurar-nos. A não falar com desconhecidos, a não olhar, não ouvir, não sorrir. A medir todos os gestos e atitudes. Ainda nem bem conhecemos a anatomia do nosso corpo e já nos foi inculcado que os nossos joelhos devem manter-se bem colados um ao outro, não vá alguém (um homem!) descobrir-nos a cor das cuecas. As mamas tapam-se mil anos antes da puberdade, porque os mamilos (só os femininos!) são algo de que nos devemos envergonhar, imagine-se que algum homem os vê, poderia descontrolar-se, coitado, os homens nunca saíram das cavernas, toda a gente sabe isso, em cada um deles dorme um troglodita pedófilo que qualquer pedaço de pele ou mucosa à vista pode despertar, com consequências imprevisíveis. Desde o berço que nos cobrem de vergonha, medo, nojo até. Se ainda assim crescemos a gostar de nós próprias e do/a outro/a e de sexo, valha-nos deus!, das duas uma, ou somos putas, ou somos muito ingénuas, ou quem sabe as duas coisas.
Aos homens ensina-se que há dois tipos de mulheres, as honradas e as putas e que se excluem mutuamente. E se alguns (e felizmente há muitos!) escapam a essa dicotomia, logo haverá gente muito bem intencionada a adverti-los (porque quem avisa amigo é) para terem cuidado com aquela mulher, porque se ela fosse séria não andaria assim vestida/despida, whatever.
Este caso fez vir ao de cima uma maré de podridão e indigência moral, a mesma que já pululava pelas caixas de comentários, pelos cafés de bairro, pelas discotecas onde uma mulher "já sabe o que a espera".
Andava praqui sem muita vontade de comentar o assunto, pois é mais do mesmo e nem tenho bem a certeza de que não seja contraproducente alimentá-lo, mas dei por mim a pensar nas eleições de amanhã no Brasil e como tanta gente se espanta com a quantidade de mulheres que apoiam o coiso. Não percebo qual é o espanto. Julgam que na tuga é diferente? Andam muito distraídos. Só vou citar dois nomes, ambos de "mulheres" (sim, as aspas são intencionais): Maya e Varela. E não, não colocarei aqui os links. Bem basta o que já li e ouvi. Só não sei quando irá passar este nojo que sinto."

Myriam Zaluar - jornalista freelancer

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