O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, julho 29, 2022

AS VELHAS...



Episódio inédito - (Singularidades IV)

De tanto carregar os "fardos" dos outros acabou por ficar com as costas curvadas. Mesmo marreca. Ali mesmo, aos olhos de todos, a curvatura que se desenhava a meio da coluna era visível. E ninguém se importava. Ali, na aldeia onde nasceu, e de onde nunca saiu, havia mais mulheres como ela. Marrecas.
De tanto se curvar perante as necessidades dos outros ficou com a coluna completamente disforme. Primeiro o marido, depois os três filhos, todos homens, mais tarde os netos, cinco riquezas que eram a razão do seu viver já que do viver dela não havia ponta por pegar. Uma vida inteira assim. 72 anos a viver em função dos outros. Súbita fiel das vontades alheias.
Queria clima de paz e habituou-se a ficar calada. A dizer sim quando era não. Asas presas, metida numa gaiola e sem coragem de abrir a porta porque as chaves até estavam ali á mão. Em silêncio porque a paz no lar era o mais importante. Amigdalites constantes. Irritação na garganta porque os nossos silêncios têm que ir para algum lugar. Mas todos satisfeitos. Havia paz ali mas por dentro era só guerra. Estilhaços por todo o lado. Aquela sensação de que já só lhe restava contar os dias até que a dona morte a viesse buscar. Uma vida curvada perante os outros. Uma vida sem ter feito vénia a si mesma.
Texto original de Elsa Ribeiro Gonçalves
Julho 2022
Escrita com essência

A VELHA SÁBIA

“Nunca subestime a resistência da velha sábia. Apesar de ser arrasada ou tratada injustamente, ela tem outro eu, um eu primordial, radiante e incorruptível, por baixo do eu que sofre o ataque – um eu iluminado que permanece incólume para sempre. Está comprovado que a velha sábia tem uma envergadura de asas de seis metros, escondida por baixo do casaco, e uma floresta toda dobrada no seu bolso fundo. Decerto, podem-se encontrar debaixo da sua cama pantufas de sete léguas de lamê dourado. E através de seus óculos, quase tudo que pode ser visto há de ser visto. O tapetinho diante de sua lareira pode realmente ser um tapete mágico. Quando aberto, é provável que seu xale tenha a capacidade de acionar os cães do inferno ou então de invocar a mais estrelada das noites.”
 
Clarissa Pinkola Estés

4 comentários:

Anónimo disse...

Tão belo e Real.

Mafalda Cancela disse...

Tão Real!

rosaleonor disse...

Muito bem descrito e realmente muito real...
rlp

rosaleonor disse...

Mafalda um grande beijinho!

rlp