O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, outubro 21, 2020

O FOGO DO CONHECIMENTO




O FOGO DO CONHECIMENTO


Ter sentidos apurados. Consegue ouvir, ver, cheirar, e saborear as coisas, e é senhora do seu Eu.


A dada altura quando uma mulher é tocada pelo fogo do conhecimento, vem inevitavelmente o medo do poder de que está imbuída e pensa deitar fora.

"Com este formidável poder às suas ordens, não espanta que o ego pense que talvez fosse melhor, mais fácil e mais seguro deitar fora esta luz ardente, por achar excessivo(...) sentir que se tornou Demasiado forte. (...) mas uma voz sobrenatural aconselhou - a a acalmar - se e a prosseguir.
Todas as mulheres que recuperam a sua intuição, atingem um ponto onde ficam tentadas a libertar-se dela questionando - se para que serve ver e saber todas estas coisas.
Sob a luz, os anciãos passam a velhos, o belo passa a exuberante, o tonto a maluco, os que beberam passam a bêbados, os que não creem passam a infiéis, as coisas incríveis passam a milagres.
A luz vê o que vê. É uma luz eterna e fica bem à frente de uma mulher, brilhando como uma presença que anda atrás dela, a uma pequena distância, reportando - lhe o que vai surgir mais adiante.
No entanto, quando se vê e se sente desta maneira, tem de se atuar sobre o que se viu.
Ter uma boa intenção e um considerável poder, vai obrigar a trabalhar.
Para começar, trabalhar na observação e na compreensão de forças negativas e desequilíbrios, tanto interiormente como exteriormente. Depois, há que esforçar-se para ter vontade de fazer algo relativamente àquilo que se vê, seja para o bem, para o equilíbrio ou deixar que algo viva ou morra.
É um facto, não vou mentir, que é mais fácil libertarmo - nos da luz e irmos dormir.
É difícil manter a luz à nossa frente, pois com ela, vemos claramente todas as nossas facetas, e a dos outros, tanto as desfiguradas, como as divinas, e todos os Estados intermédios.
Ainda assim, com esta luz, os milagres de beleza profunda no mundo e nos humanos mostram - se ao nível do consciente.
Com esta luz penetrante consegue - se ver, para lá da má acção, um coração bom, consegue - se ver um espírito doce esmagado pelo ódio, podem compreender - se muitas coisas, ao invés de se mostrar apenas perplexidade diante delas.
Esta luz pode diferenciar níveis de personalidade, das intenções e dos motivos dos outros.
Pode influenciar o consciente e o inconsciente, na própria pessoa e nos outros.
Porém, há alturas em que os seus relatos são dolorosos e muito difíceis de suportar, pois a luz também mostra onde se tramam as traições, onde à falta de coragem, mesmo que digam o contrário.
Mostra a inveja disfarçada debaixo da capa de um sorriso caloroso, mostra os olhares que não passam de meras máscaras a esconder a antipatia.
Já no que a nós diz respeito, a sua luz é igualmente brilhante : tanto ilumina os nossos tesouros, quanto as nossas fraquezas.
São estes conhecimentos que são mais difíceis de enfrentar. É chegado a este ponto que sempre temos vontade de atirar para longe todo este nosso sagaz e odioso conhecimento.
É chegado a este ponto que sentimos, se não decidirmos ignorá-la, uma força enorme do Eu que diz : 
Não te livres de mim. Aguenta - te e verás".


Clrisse Pinkola Estées in " Mulheres que correm com os lobos.

Sem comentários: