Vem e embala-nos,
vem e afaga-nos,
Vem Soleníssima
Soleníssima e cheia
De uma oculta vontade de soluçar,
Talvez porque a alma é grande e a vida pequena,
E todos os gestos não saem do nosso corpo
E só alcançamos onde o nosso braço chega,
E só vemos até onde chega o nosso olhar
Vem, dolorosa,
Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos,
Turris-Erbúrnea das Tristezas dos Desesperados,
Mão fresca sobre a testa em febre dos Humildes,
Sabor de água sobre os lábios secos dos Cansados.
Vem, lá do fundo
Do horizonte lívido
Beija-nos suavemete na fronte,
Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam
Senão por uma diferença na alma.
(excerto da Ode à noite de F.PESSOA)
HOJE,
O CORPO DA DEUSA
Tinha vontade de te ver Mãe, de te dizer coisas que não digo a ninguém,
coisas que não se dizem por palavras, coisas de seres solitários e tristes
que vivem de espasmos de amor entre a terra e o céu na esperança de infinito...
Coisas sagradas da visão unívoca que só o espírito uno pode enxergar...
Vontade de te dizer a ti Mulher,
coisas que não sei nem nunca disse a mim mesma...
Falar-te como a um espelho mágico e sem mácula,
que me fizesse lembrar coisas ignoradas na penunbra de vidas,
memórias de viajante do espaço, nómada do cosmos que eu fui,
encalhado agora nesta plataforma de esquecimento e dor...
Lembrar as nossas vidas que se entrecruzam
entre um passado e um futuro de que a presente vida é ponte frágil;
libertar este grito dilacerante de toda a luta absurda e humana
e que só a consciência superior pode aplacar com a precisão de um raio lazer...
Era no Silêncio de dentro, eu sei...
Mas resiste em mim este sonho louco de falar-te da minha alma que viaja
de pele em pele, carne e osso, no ocaso deste deserto há tanto tempo esquecida;
minha alma que viaja, errante, de miragem em miragem à procura de um Oasis
nos teus braços sempre amantes de Mãe e de Mulher...
Todo o meu desejo de ser humano aqui na terra era diminuir-me,
tornar-me ínfima, encolher-me toda e converter-me de novo num feto
dentro do teu ventre (será isso “envelhecer”?)
e voltar para o meu mundo de Luz que nunca esqueci...
ROSA LEONOR P. 26/5/2005.
««««««««
"A rosa tem de tornar a ser o botão, nascido da sua haste materna,
antes que o parasita lhe tenha roído o seio e bebido a seiva da sua vida.
A árvore dourada dá flores de jóia, antes que o seu tronco esteja gasto pela tormenta.
O aluno tem de tornar ao estado de infância que perdeu
antes que o primeiro som lhe possa soar ao ouvido."
A VOZ DO SILÊNCIO...
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