O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, março 27, 2015

O CORPO DA MULHER



"O corpo é como um planeta Terra. É um país em si mesmo.

 É tão vulnerável ao excesso de construção, à divisão em parcelas, ao esquartejamento excessivo e despoj...ado do seu poder, como qualquer paisagem. A mulher mais selvagem não será facilmente influenciada por esquemas de renovação. Para ela, as questões não se colocam quanto à forma, mas sim como se sentem. Os peitos, com todas as formas que assumem, têm a função de sentir e amamentar. Estão a amamentar? Estão a sentir? São bons peitos.
As ancas são largas por uma razão: encerram um espaço ebúrneo onde irá ter lugar o nascimento de uma nova vida. As ancas de uma mulher são os alicerces da parte superior e inferior do seu corpo; são portões, são uma almofada sumptuosa, são os apoios das mãos no acto de fazer amor,
servem para as crianças se esconderem. As pernas servem para nos levar, às vezes para nos dar impulso, são elas que carregam o nosso peso e nos ajudam a levantarmo-nos, formam a cerca, o laço para envolver o amante. Não podem demais nem de menos. São o que são.
Nos corpos não há 'o que devia ser'. A questão não é o tamanho, nem a forma, nem os anos, ou mesmo ter dois elementos de cada, pois com algumas pessoas isso não acontece. A questão que interessa é: este corpo sente, tem ligação ao prazer, ao coração, à alma, ao que é natural? Sente felicidade e alegria? Consegue, à sua maneira, mover-se, dançar, balançar-se, empurrar? Nada mais interessa."



CLARISSA PINKOLA ESTÉS

In "Mulheres que correm com os lobos"

Sem comentários: