O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, agosto 12, 2019

O que é ser mulher?


Afinal o que é ser mulher? Sabem as mulheres o que é isso?

Sim "Mulheres que falam do feminino, mas não entendem o que é o feminino. Mulheres que conversam sobre o feminino, mas não compreendem o feminino. Mulheres que dançam as danças do feminino, mas não sabem lidar com o feminino." -  Wofiira Morrigan


PRECISAMOS DE ACORDAR E TER DISCERNIMENTO

Penso que estamos a entrar num impasse espiritual ...ou numa transição qualquer que mais parece uma psicose colectiva e diante de uma grave crise de identidade humana global: para mim as mulheres não entenderam ainda qual o seu lugar dentro da espiritualidade... A razão é simples, elas ainda não sabem quem verdadeiramente são do ponto de vista ontológico e sagrado...

Pessoalmente há muito que estou com uma espécie de alergia a este discurso "espiritual" da new age, assim como a tudo o que se escreve e diz de forma superficial sobre este movimento mas também pela abordagem que uma boa parte dos grupos de mulheres fazem da Deusa ou do dito "feminino sagrado". Assiste-se a uma banalização sem sentido e sem qualquer profundidade naquilo que as mulheres supostamente dizem em nome da Deusa e no que andam a fazer por ai; a grande maioria delas apenas o fazem em beneficio próprio, sem qualquer consciência de si nem da sua história, a explorar os círculos mistos e a difundir crenças numa afirmação egocêntrica e para se afirmarem a si mesmas como lideres ou a manipularem emoções e os medos das outras mulheres. Estou diria mesmo assustada com a superficialidade e o uso e abuso de uma linguagem usada para angariar pessoas e fundos, pessoas carentes e doentes, utilizada por gente narcísica e exibicionista, que se serve dessas terapias e práticas e falam em nome da Deusa para apenas se mostrarem elas mesmas "deusas"... atraírem a atenção ou ganhar protagonismo...

Mas pior do que isso, e antes das mulheres saberem o que é ser mulher em si, é a inclusão nos círculos femininos de homens e em nome do "masculino sagrado" e dos seus representantes, que bem se aproveitam disso fazendo com que as mulheres se desviam do seu propósito de se conhecerem a si mesmas e à Deusa, focando-se no par - em busca do encontro amoroso - e esses homens são adulados pelas mulheres numa bela e primária projecção do homem ideal e caindo assim no velho mito romântico, agora explorado como sendo não o cavaleiro ou o "príncipe" que a vem salvar, mas o "homem sagrado", "feminino e sensível", que ama a deusa e a natureza e lhes oferece poeticamente os seus abraços protectores…
Tendo em conta a frágil formação da psique cindida da mulher dentro da nossa cultura essas práticas tornam as mulheres aculturadas e sem nenhuma consciência psicológica de si mesmas enquanto mulheres em si. Face a gravidade de toda esta aculturação e desvio da nossa realidade, toda esta cena agora mais me parece de facto uma alienação da mulher do que um acréscimo para a sua evolução de consciência.
Nenhuma mulher pode conhecer a Deusa sem primeiro ser Mulher, saber que Mulher é... Não podemos esquecer que a mulher foi dividida em duas e completamente anulada na sua natureza telúrica e ctónica e vai levar algum tempos a resgatar a sua verdadeira identidade. O Sagrado é uma reconquista do Ser Mulher em toda sua plenitude e não uma mera ideia baseada em práticas antigas; o sagrado não se conquista ou atinge por se mudar de visual ou pela maneira de se vestir… como andar toda de branco e colocar grinaldas na cabeça!
Precisamos de facto de uma Nova Consciência de um Feminino integral e Ontológico, mas não deste "sagrado" consumista e que repete os padrões do patriarcado e das religiões patristas em geral, onde a mulher continua a servir o homem e seu deus menor ou a comunidade e a anular-se na sua essência e vitalidade, uma mulher sem magnetismo nem liberdade de ser solitária e viver a sua totalidade. Para mim só essa totalidade pode revelar a mulher a sua verdadeira essência e unir as duas mulheres separadas pelo patrairado. Só essa mulher pode ser consagrada pela Deusa. Ela é independente de tudo e cheia em si mesma. Não é o filho nem o homem que lhe dão significado!

Também proliferam nestes meios supostos mestres que se auto-proclamam guias iluminados. São em geral lideres com algum carisma e um discurso persuasivo baseado em escrituras hindus e outras e que induzem as mulheres a cultos e práticas de meditação e mantras. Ou então temos outros sábios (bem machistas esses) ditos Xamãs que induzem a práticas xamânicas, e são eloquentes quanto ao papel da mulher, e que nada tem a ver com a cultura e tradição ocidental, o que cria a curto prazo grandes desfasamentos e desiquibrios emocionais e psíquicos nas mulheres ocidentais.

As mulheres mais carentes e em crise de idade ou sem grande estabilidade emocional deixam-se levar por esses gurus que as atraem a centros com altares floridos e cheios de imagens alegóricas a deuses e onde se reúnem e dançam e cantam e toda a gente se põe à mercê ou aos pés dos ditos homens santos, angariadores de fundos e de fortunas em países de 3º mundo... e também na Europa, como aqui em Portugal… Isso acontece porém em todos os lados, onde existe não só a manipulação "espiritual" de mulheres, por parte dos lideres, como sedução e abuso...Eles vão da anulação da mulher à violação e tudo em nome do amor...do Tantra ou de Deus e implica a entrega e submissão das mesmas.

 Tendo em conta a frágil formação da psique cindida da mulher dentro da nossa cultura essas práticas tornam as mulheres aculturadas e sem nenhuma consciência psicológica de si mesmas enquanto mulheres em si. Face a gravidade de toda esta aculturação e desvio da nossa realidade, toda esta cena agora mais me parece de facto uma alienação da mulher do que um acréscimo para a sua evolução de consciência.
Nenhuma mulher pode conhecer a Deusa sem primeiro ser Mulher, saber que Mulher é... Não podemos esquecer que a mulher foi dividida em duas e completamente anulada na sua natureza telúrica e ctónica e vai levar algum tempos a resgatar a sua verdadeira identidade. O Sagrado é uma reconquista do Ser Mulher em toda sua plenitude e não uma mera ideia baseada em práticas antigas ou práticas; o sagrado não se conquista ou atinge por se mudar de visual ou pela maneira de se vestir… como andar toda de branco e colocar grinaldas na cabeça!

Precisamos de facto de uma Nova Consciência de um Feminino integral e Ontológico, mas não deste "sagrado" consumista e que repete os padrões do patriarcado e das religiões patristas em geral, onde a mulher continua a servir o homem esse  deus menor ou a comunidade e a anular-se na sua essência e vitalidade, uma mulher sem magnetismo nem liberdade de ser solitária e viver a sua totalidade. Para mim só essa totalidade pode revelar à mulher a sua verdadeira essência e unir as duas mulheres separadas pelo patriarcado. Só essa mulher pode ser consagrada pela Deusa. Ela é independente de tudo e cheia em si mesma. Não é o filho nem o homem que lhe dão significado!

rlp

TODA ESTA QUESTÃO PRENDE-SE COM ALGUMAS PERGUNTAS DE UM TEXTO JÁ PUBLICADO ANTERIORMENTE:

"Mas, afinal, o que é o Sagrado Feminino?

De acordo com Isabela Serafim, em uma matéria pra a revista Glamour, o Sagrado Feminino é considerado tanto uma filosofia quanto um estilo de vida, ao promover ensinamentos a respeito de aspectos físicos e mentais da figura feminina. Alguns desses aspectos abarca a consciência dos ciclos femininos, propiciando a reconexão da mulher consigo mesma e a harmonização dos próprios ciclos com a natureza.

O Sagrado Feminino tornou-se, então, o nome de um movimento de mulheres buscando um contato consigo mesmas, após anos de marginalização de todos os tipos, e em especial dentro da própria noção de divino. Uma nobre missão para um movimento que carrega em si praticamente toda a História da humanidade, inspirando respeito e admiração em quem a procura conhecer.
No entanto, o movimento do Sagrado Feminino sucumbiu ao status quo que as primeiras líderes femininas combatiam com tanto rigor: o feminino sagrado foi retirado de uma perspectiva do mítico para revelar-se apenas no místico: as Deusas, mitos, lendas, contos acabaram se tornando uma “temática” para a abordagem de assuntos relacionados ao feminino, em uma perspectiva de orientadoras que conduzem outras mulheres na descoberta de si mesmas, em cursos, vídeos no YouTube, textos em blogs, etc, etc, mas pouco fez pela retomada da força da mulher.
E antes que eu seja mal-interpretada, explico
: todas as lendas e mitos antigos indicavam um caminho para o aprendizado. O conhecimento apenas seria adquirido com muito esforço e afinco, com muita observação e dedicação, por isso todos os simbolismos e metáforas. Nada nunca era dado de mão beijada. Hoje, no entanto, mulheres (e homens também) consomem um conhecimento mastigado e dividido em “módulos”, e não se preocupam em refletir sobre o que está sendo ensinado. Não há mais a jornada do herói – ou da heroína. Não há mais o processo iniciático, não num sentido de dogmas ou rituais, mas enquanto uma jornada necessária para a ascensão, e que requer uma ação voluntária.

Vemos claramente essa jornada na questão do masculino, mas não adotamos essa mesma perspectiva quando falamos da força do feminino. Mulheres guerreiras, autônomas, que pensam e falam por si ainda são muito rotuladas e, geralmente, esse comportamento fica de fora das rodas e cursos do movimento do Sagrado Feminino. Mulheres falam do feminino, mas não entendem o que é o feminino. Mulheres conversam sobre o feminino, mas não compreendem o feminino. Mulheres dançam as danças do feminino, mas não sabem lidar com o feminino.
Mas, enfim, onde está o problema?

Ele é basicamente conceitual, meus caros e caras, e um tanto filosófico. Nós esquecemos o que é ser mulher (ou não aprendemos, ou desaprendemos), pois, assim como as Deusas, também fomos relegadas ao esquecimento por séculos e séculos. E ainda não terminamos de lembrar.


Antes de falarmos em Sagrado Feminino precisamos nos lembrar, primeiro, o que é o Sagrado. E o Sagrado é muito difícil de abarcar… pelo simples fato de que ele é absolutamente TUDO.

Ou aprendemos a fazer a jornada… ou vamos continuar abordando o conhecimento ancestral como um curso de pós-graduação."

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