Não há tempo para mais distracções nem para brincarmos as deusas ou curandeiras e bruxas ou ao que quer que seja de forma ligeira e superficial. Há que encontrar Lilith dentro de nós e dar-lhe voz se quisermos fazer parte da mudança planetária e de um novo paradigma que se sustentara na energia do feminino ... pois sem que a Mulher vibre nessa energia e a expresse com integridade e verdade, cairemos no abismo do passado que nos devora e mente ou nos convence de que somos mulheres livres e autónomas sem o sermos e continuaremos a servir o patriarcado e fiéis ao ego do predador-dominador.
II
A CONFUSÃO SOBRE LILITH CONTINUA - fala-se de dela como se Lilith fosse apenas a sexualidade reprimida ou um pretenso e oculto erotismo da mulher, aquilo que as mulheres em geral não ousaram ser (excepto, no patriarcado, as raras mulheres cortesãs e concubinas na antiguidade) e nesse sentido, incapazes de se assumir durante estas ultimas décadas porque demasiado masculinizadas e frias e há séculos reprimidas sempre sujeitas à repressão cultural económica, social e sexual masculina.
Por detrás desta nova abordagem do feminino, em nome do feminino sagrado e de uma nova espiritualidade, SINTO que estamos cada dia mais a resvalar perigosamente para uma copia de todas estas coisas antes anunciadas como uma libertação da mulher profunda indo ao encontro dela mesma e da sua Sombra, mas que sem conhecimento profundo, sem noção do que nos divide e antagoniza, navegamos agora em plena maionese de um idealismo pungente que vem eivado de catolicismo.
Assim a mulher aparece agora sob a capa do dito "feminino sagrado" quer em nome dessa espiritualidade muito generalista, que abrange todas as formas de culto da Deusa e fé ou crenças do passado, tudo bem miscigenado, e é então que essa cópia pervertida da Mulher verdadeira aparece, aliás, ela surge em nome dessa Mulher verdadeira que foi Lilith, mas agindo ou falando sem nada sentir e por isso fiel ao patriarcado que as modela como quer para agradar ao homem. As mulheres inventaram uma religião da Deusa como cridora e rezam-lhe como se fosse afinal deus...
Digo-o, porque poucas mulheres nesses percursos tem feito esse trabalho em profundidade consigo mesmas e por isso não terem na verdade NENHUMA consciência de si nem da sua autonomia e poder intrinseco porque continuam divididas e sem acesso a essas experiências de totalidade que só são possíveis uma vez que tenham integradas as duas mulheres no plano emocional e psiquico. Contudo elas falam e escrevem divulgando meramente ideias e conceitos que veiculam por todo o universo virtual, sem qualquer consciência de si, como mulheres integradas e plenas, e muito menos no caso de Lilith em que apenas exaltam ou ressaltam a sua sexualidade transgressora.
E assim, sob esta nova capa, elas oferecem-se ao seu novo heroi, o homem selvagem, mas de acordo com os conceitos nova era, a quem se prometem como mulheres sagradas e sensuais ou como Liliths audazes e sedutoras, seja como sacerdotisas eróticas e desregradas, com promessas que lhes fazem de prazer eterno...
E é vê-las por ai...a escrever poemas, a dançar, a cantar e a rezar em oferenda ao seu deus cornudo e ao masculino sagrado cheias de amor e paixão acesa!
E é ai que para mim surge a velha mentalidade camuflada dessa nova imagem da mulher mas que no fundo continua a ser a velha mulher incompleta e submissa, a pobre Eva, disfarçada de Lilith, que precisa do seu amante e complemento masculino - do Pai e do Filho - para se cumprir e servir, e essa mulher nada tem ou terá jamais a ver com Lilith.
SIM, TUDO CONTINUA IGUAL
E “ ...ela explicou que as mulheres, mais do que os homens, são os verdadeiros sustentáculos da ordem social, e que, para cumprir este papel, elas foram educadas, uniformemente em todo o mundo, para estarem a serviço do homem.
- Não faz diferença se elas são criadas como escravas ou se são mimadas e amadas, observou ela.
- A finalidade e o destino fundamental das mulheres continuam sendo os mesmos: nutrir, proteger e servir os homens." - taicha abelar
Não, as mulheres não fazem a diferença porque ficaram presas pelo catolicismo serôdio e às crenças mais atávicas ou ainda socialmente presas ao "politicamente correcto"- o social politico e económico - que camufla o seu medo e inferioridade em se afirmarem pelo que sentem e são e então para se valorizarem recitam os mestres e os guias ou os instrutores - sei lá...os canalizadores...e esses heróis que elas elegem e acham ter uma sensibilidade especial, muito feminina... e se calhar bem mais feminina do que a delas...pois estamos a falar de mulheres Evas! As mulheres inventaram uma religião da Deusa como criadora e rezam-lhe e assim acabam por a cultuar como se fosse afinal deus...
Eu vejo as mulheres sempre com medo de se dizerem e confrontarem a si mesmas e umas às outras, simulando alegria e bajulando-se nas suas performances. Nunca falam da sua dor e emoções verdadeiras...dos seus complexos e medos, nunca se dizem vulneráveis ou susceptiveis... mentem para si e para as outras. Vivem para uma imagem de si que seja a mais cotada no mercado das aparências... andam distraidas por mais valias que não interessam a ninguém que seja realmente consciente de si enquanto seres individuais. Andam por ai em luta com os seus egos e cheias de fantasias na cabeça à espera do novo "Príncipe encantado" a vender o seu Mito do amor e agora vestido de xamã e de guerreiros de cabelos compridos e ar angélico ou do intelectual ou artista de vanguarda muito feminino. E só vendem a mercadoria que apregoam, claro se tiverem um parceiro a altura - ah que inveja e que delirio, o das outras mulheres e clientes!
No fim restam poucas mulheres autenticas, reais ou feias até, as gordas são suprimidas e as velhas espezinhadas, como se todas fossem muito bonitas e sedutoras... Restam poucas mulheres capazes de serem fieis a si mesmas e de se QUESTIONAREM FACE A ISTO TUDO, porque gostam do modelito... queriam ser assim, magras e belas e terem amantes lindos... Assim, elas são incapazes de se insurgirem contra esta farsa porque afinal não se sentem inteiras e são incapazes de se valerem a si mesmas na sua verdade e com sinceridade, sem que busquem uma imagem de si ou um parceiro que as complete...
Vejo-as em risco de perder toda a sua lucidez e a sua verdade interior em favor do de cultos e dos sonhos românticos de sempre.
rlp
*Quem foi a Eva mitocondrial?
A Eva mitocondrial não foi a primeira mulher a habitar o planeta Terra, isto é, não é o nosso ancestral mais antigo (i.e. o primeiro indivíduo humano). Estima-se que a Eva mitocondrial, originalmente apelidada como ‘lucky mother’ (em tradução livre, ‘mãe de sorte’) pelos cientistas que fizeram sua descoberta, tenha vivido em uma pequena comunidade na África por volta de 150 mil anos atrás, junto com outras mulheres e homens. Neste sentido, a Eva mitocondrial seria a nossa ancestral comum mais recente.
O que diferencia a Eva mitocondrial de outras mulheres ancestrais?
Visto que as simulações dos cientistas apontam para a existência de outras mulheres vivendo em comunidade com a ancestral do DNA mitocondrial, fica a pergunta: essas outras mulheres também não poderiam ser consideradas como “Evas” mitocondriais? A resposta é não, e tem explicação nas particularidades do DNA mitocondrial. Esta sequência genética encontrada em nossas células fica armazenada na mitocôndria, e ao contrário do DNA nuclear (que é uma combinação entre o código genético do pai e da mãe), o DNA mitocondrial corresponde a informação genética proveniente apenas da mãe, e sua transmissão ocorre de forma matrilinear (ou seja, apenas mulheres transmitem o DNA mitocondrial). Assim, a Eva mitocondrial é uma mulher que teve pelo menos uma filha mulher, e assim sucessivamente, por todas as gerações até os dias atuais. Por isso, todos nós humanos compartilhamos de seu material genético (DNA mitocondrial), embora este tenha sofrido diversas mutações ao longo da história evolutiva. " (...)
Por Joice Silva de Souza
(Mestre em Dinâmica dos Oceanos e da Terra (UFF, 2016)
Graduada em Biologia (UNIRIO, 2014)