O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, junho 04, 2024

A DOMINAÇÃO PATRIARCAL




COMO A SOCIEDADE PATRIARCAL NOS CONTROLA AO NIVEL DO PODER INSTITUIDO, SEJA PELA EDUCAÇÃO DESDE PEQUENOS, EM FAMILIA, SEJA NA "CATEQUEZE" SEJA NAS ESCOLAS.


“Li num texto que diz que as pessoas devem aprender a mandar sem arrogância e a obedecer sem humilhar-se. Como se o facto de mandar não pressupunha a arrogância – a superioridade hierárquica - de crer-se que se pode mandar. Porque quando mandamos nos noss@s filh@s estamos a inocular neles a falta de respeito à sua integridade como seres humanos, pois lhes estamos inculcando a ideia de que a hierarquização social é o normal e o natural. O que na realidade é proposto com a ideia de mandar sem arrogância é para que a ostentação da superioridade fique dissimulada, para que se aceite sem problemas o estado de inferioridade, e que a couraça especifica (as defesas criadas pelo individuo para se proteger) a da nossa submissão não nos permita perceber o ultraje à dignidade que supõe a submissão (por isso assim também aprendemos a obedecer sem nos sentirmos humilhad@s). É a ‘educação emocional’ contra natura. A forja de um bom encouraçamento (a armadura de defesa) para viver como normalidade as relações de dominação. Porém, mandar, e portanto, dominar alguém, não é próprio da condição humana: é uma arrogância per se e um ultraje à dignidade humana, essa mesma arrogância pode ser manifestada ou dissimulada; e submeter-se é prescindir da própria dignidade, ainda que estejamos tão acostumados a submetermos a tudo e todos os dias, que não consigamos percebê-lo. Para contar-se as coisas, dar ou receber informação, e agradar mutuamente, não é preciso, por um lado, ter arrogância, nem couraça, nem humilhação, nem pelo outro, de ultrajar a dignidade própria ou a alheia.
Esclarecido tudo isso, também há que se dizer que há uma possibilidade de se obedecer sem se humilhar: quando se compreende, por exemplo, que tenho que obedecer ao meu chefe no trabalho, ao meu pai ou à minha mãe em casa porque faz parte do sistema social, ainda que não faça parte da vida (precisamente sendo disso que nos querem convencer, mas isso é mentira). Ou seja, obedecer por imperativo legal, sem mentiras nem camuflagem, sem me interiorizar nem crer-me pela minha condição de menor, que me corresponde a de ser assalariad@, ou pelo meu sexo ou pela minha raça, etc. Temos que explicar à noss@s filh@s que as vezes obedecemos por imperativo legal, quando não há mais remédio (no colégio, no trabalho), mas dizendo a verdade para que não percam o respeito para com el@s mesm@s, nem caiam num estado de submissão inconsciente, e preservem a sua dignidade interior intacta, a integridade das suas qualidades inatas.
A dominação sempre começa em casa, na família. É a repressão que exerce a mãe e o pai sobre a criatura, e que eles exercem porque a sociedade lhes outorga o Poder de facto para exercê-la.


P 191 A rebelião de Édipo II parte – Casilda Rodrigáñez Bustos


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