O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, maio 05, 2016

Se um rio sai da "madre", tudo se inunda e é o desastre.



"Recuperar a mãe verdadeira pressupõe então recuperar o coletivo de mulheres e a sua função coletiva dentro dum determinado grupo social. A recuperação da mãe não é uma recuperação individual (embora tenha uma dimensão individual e corporal), mas a recuperação do feminino coletivo, de todas nós. Segundo Malinowski, as mulheres trobriandesas dum clã (in The Sexual Life of Savages in the Western Melanesia) tinham um nome coletivo, “tábula”, a “tábula” é que se ocupava do parto ...das mulheres do clã.
Em castelhano há uma aceção do nome "mãe" que é um vestígio dessa mãe ancestral, que se encontra na expressão "salirse de madre", "sair da mãe", que seria sair do Muttertum, que nos faz amadurecer e nos torna consistentes. Há também uma aceção em que a palavra significa "fonte originária de algo" ("a mãe do vinagre", por exemplo), ou como a raiz de algo, quando dizemos que encontrámos a "mãe do cordeiro". Se um rio sai da "madre", tudo se inunda e é o desastre. Pois assim anda a humanidade, "fora da mãe", em permanente estado de esquizofrenia e cada vez com mais ataques de violência..."


Cacilda Rodrigañez Bustos



AH AS MULHERES CULPADAS..

"O ferimento mais profundo que é infligido a uma mãe na nossa sociedade não é só a sua opressão, mas a sua adaptação ao mito masculino da respetiva superioridade e a aceitação da própria insignificância. Nos casos em que o movimento feminino contemporâneo interpreta a igualdade de direitos como o direito de serem tão ruins como os piores dos homens, ele perpetua o domínio masculino sob novas formas. Pior ainda: estas mulheres, como negam a força dos ...aspetos criativos do seu amor, continuaram a educar mulheres e homens que, por seu lado, recusarão a sua própria força real e se decidirão por empregar o seu poder sem escrúpulos. É isto que Édipo representa: a ferida inicial que se transforma numa ânsia de dominar."*

Este texto de uma lucidez lazer fez-me pensar nas mulheres...que dizem como forma de desculpar os homens - é absolutamente banal e corrente esta afirmação por parte de mulheres comuns e até "instruídas" e escritoras etc....- que continuam a querer justificar os homens (e filhos) que tratam mal as mulheres- dizendo que são as mulheres mães que os educam...que é por causa das mães que eles são assim. Como se as mães, feridas de morte na sua essência, feridas na sua dignidade, pudessem educar filhos... como se mães à partida tivessem ou pudessem ter alguma responsabilidade na sua inconsciência de si como ser humano de segunda classe...sim, como poderiam elas educar os filhos e filhas com este estigma, com este ferimento profundo no seu corpo físico e emocional... esta cisão da sua psique e condenadas em família e em sociedade à sua insignificância...caladas e omissas sempre como mulheres!
rlp

*Arno Gruen A traição do eu Assírio e Alvim (1984)


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