A LINGUA É DO HOMEM...
"Até há línguas que subordinam as mulheres; no caso da língua portuguesa, o seu funcionamento sexista é claro: para acederem à sua identidade humana, as mulheres fazem-no pelo uso do genérico "homem"; a mulher é ser humano pela mediação do masculino. A socialização religiosa, com todas as suas consequências, faz-se no masculino: uma menina é baptizada em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e será confrontada com uma hierarquia masculina: o padre, o bispo, o cardeal, o papa.
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As razões são muitas. Os homens dominaram por causa da força física, o que não significa que as mulheres não sejam mais resistentes. Por causa da maternidade e dos cuidados com as crianças, as mulheres ficaram mais dependentes. A menstruação e a impureza ritual acabaram por marginalizá-las. Paradoxalmente, a marginalização provinha também de algum ciúme da parte dos homens: afinal, da vida percebem elas, que a vivem no seu interior; como compensação, os homens foram para a exterioridade da guerra e dos grandes "feitos", de que fala a história, ignorando as mulheres. Até há línguas que subordinam as mulheres; no caso da língua portuguesa, o seu funcionamento sexista é claro: para acederem à sua identidade humana, as mulheres fazem-no pelo uso do genérico "homem"; a mulher é ser humano pela mediação do masculino. A socialização religiosa, com todas as suas consequências, faz-se no masculino: uma menina é baptizada em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e será confrontada com uma hierarquia masculina: o padre, o bispo, o cardeal, o papa.
Também o desconhecimento científico contribuiu: a descoberta do óvulo feminino deu-se apenas em 1827, o que significou que a mulher era considerada passiva na geração, levando, por exemplo, São Tomás de Aquino a afirmar que a mulher não pode ter poder na Igreja nem pregar. Uma das razões da misoginia é, segundo F. Lenoir, o prazer feminino, essa grande intriga para o homem": o homem tem "ciúme do gozo feminino, pois é infinito, enquanto que o do homem é finito. Há uma espécie de abismo do gozo sexual da mulher que mete medo ao homem e o contraria".
(...)
ANSELMO BORGES (padre) publicado em 2015
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