O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, maio 21, 2016

A UNIÃO DAS DUAS MULHERES


A UNIÃO DAS DUAS MULHERES
PASSA PELA UNIÃO DAS MULHERES...


“Creio que iniciaticamente, toda a mulher nasce uma segunda vez de outra mulher que não é a sua mãe. Pela confiança noutra mulher, que já não é vista como uma rival, ela reconhece o seu feminino, abre-se a uma outra dimensão de amor."   p. salomon
(…)
E como tenho dito algumas vezes aqui a mim interessa-se o processo iniciático vivido pela mulher e creio firmemente que uma mulher que se busca no mais fundo dela mesma só pode acordar para esse fundo, depois de passar por esse segundo nascimento-iniciação através de outra mulher que não a sua mãe. Porque, como diz a autora, só depois de ganhar essa confiança noutra mulher, ela ultrapassa o registo ancestral da rivalidade entre as mulheres. SEM essa iniciação, sem essa integração da Deusa e a Consciência do Feminino Sagrado vivido na sua pele e no seu coração, o que prevalece entre as mulheres e acaba por minar todas as relações afectivas entre elas, seja no âmbito da família seja no trabalho, e até em movimentos feministas é o ódio baseado na competição e na rivalidade. O padrão social dominante é esse, é o padrão que passa subliminarmente nos romances, nos filmes e telenovelas que impregnam e marcam as mulheres comuns e a forma de pensarem e sentirem umas contra as outras. Foi assim que foram programadas durante séculos e sem serem de novo consciencializadas do seu poder interno e pela fidelidade à sua essência, a mulher é sempre uma rival de outra mulher.

O veneno da serpente não transmutado mata, alquimizado é remédio e cura…essa é a sabedoria milenar que fugiu ou que foi roubado à mulher sábia por natureza e por isso associada à serpente, que sabia fazer as suas poções e tinha a medida certa para o aplicar.
Não há nada mais mortífero que o ódio de uma mulher a outra mulher…
É isto que urge denunciar e não cair nas boas intenções católicas de amor ao próximo seja qual for o próximo/a. Enquanto a mulher não se consciencializar das armadilhas do sistema, e enquanto ela não acordar para o amor de si mesma e da Fonte Suprema ela é sempre potencialmente uma inimiga da "outra" que não conhece… Pensar que se pode neste momento amar livremente e indiferenciadamente todas as mulheres sem ter esta consciência não é a meu ver aquilo que as vai mudar ou mudar o mundo.

A aceitação sem discernimento é uma falsa premissa do falso amor de que nos impregnaram as religiões. A aceitação dos outros sem reflexão e em nome dos nossos erros - errar é humano - não passa de uma falsa tolerância pelo medo de sermos julgado/as assim como a submissão e a sujeição sempre estiveram ligadas, tão velhas como o catolicismo e convem ao patriarcado... Todos estes valores têm de ser olhados de uma maneira diferente, não dualista...se sem medo do pecado de não amar o próximo como a nós mesmos...
O amor de que eu falo, é uma outra dimensão de amar e conhecer e não o amor que conhecemos, egóico e carente, ou o caridoso cheio de pena do do meu igual... O amor de que falo, é uma forma superior de entendimento. Há muitos níveis de amor mas eu refiro-me ao amor iniciático quando dele falo. Porque o Amor sem consciência plena da divindade da mulher e do homem não muda nada! O amor é a consciência do Ser acima da dualidade bem e mal e por isso os dois lados do ser-mulher têm de ser integrados, antes de integrar os pólos opostos complementares. Sem que a Mulher se conheça a fundo ela não pode amar como mulher nem como mãe, nem integrar os dois pólos da humanidade, não pode ser espelho dela própria nem do homem.
Sem que a mulher seja iniciada no amor de si mesma por outra mulher consagrada à Deusa, a rivalidade é uma constante entre mãe e filha, entre irmãs ou amigas…
Portanto é utópico pensar que pode haver lealdade entre as mulheres sem que o feminino essencial não lhe seja revelado pelo amor de outra mulher (como amiga do coração, como mãe ou irmã de alma ou mesmo amante) ao instaurar-se essa confiança e serenidade numa parte interna e eterna de si mesma, através de um conhecimento ontológico de que a outra mulher só serve de espelho, se for a iniciada… a sábia, a sacerdotisa…  E essa outra mulher digna de confiança só pode ser a iniciadora depois de passar todas as fases da iniciação feminina, portanto sendo mais velha e já sem a libido à flor da pele…É claro que isto só é possível a partir de uma consciência bastante elevada e não pela mentalidade comum de superfície medíocre e comezinha das mulheres em geral.

É por isso que nas sociedades antigas a mulher só era considerada Sábia ou Xamã depois da menopausa

Rosa Leonor Pedro
(TEXTO REVISITADO)
Imagem . Quadro de Lena Gal

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