O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, maio 05, 2016

A TERRA MÃE E A MULHER


A TERRA E A MULHER
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A questão do feminino está entre aqueles temas que não se prestam tão facilmente a uma discussão, porque se situam no fundamento da cultura, para além daquilo que é imediatamente manifesto. Esse é um assunto basilar, constitutivo do próprio fundamento de onde tudo deriva, a trama primeira sobre a qual os outros fios são dispostos. De certa forma, pode-se dizer que tais temas nos possuem e nos dirigem e são insuficientemente visíveis, pois estão submersos por nossas criações. Talvez se possa dizer que é a partir dessas imagens primordiais, como a da Terra-Mãe, que todo o nosso imaginário é montado, em camadas, uma mesma ideia se diferenciando em inúmeras variações, vinculadas, entretanto, àquele desenho elementar, e que só ao olhar acurado ela se revela.


Na verdade, as nossas relações com o mundo, de modo geral, são reflexo da nossa relação com essas imagens primordiais, destacando-se, entre elas, a Terra e o Feminino. Tudo o mais seria como um jogo de espelhos, em que nos perdemos com imensa facilidade. De forma que, ao contrário do que é sugerido de imediato, uma visão cabal do feminino não se tece sem uma enormidade de elementos e, pelo menos para começar, torna-se imprescindível escolher uma fresta apenas, para olhar esse complexo quadro sem tanta dispersão.
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O simbolismo da Terra pode nos fornecer um paradigma seguro para o feminino, porque sobre ela lançamos nossas raízes, dela viemos, dela nos nutrimos. Há todo um paralelo entre a Terra e o Feminino. E, uma vez que mantemos relações bem materiais com ela, é possível que, a partir de um escrutínio dessas relações, possamos explicitar melhor o lugar ocupado pela mulher em nossa cultura. A Terra, pois, será um bom ponto de partida para uma investigação rica do feminino, quanto mais que essa identidade, em outros tempos, promoveu um desenvolvimento harmônico em muitas sociedades.
Portanto, não partimos de uma ideia original. Muito pelo contrário, essa é uma visão que remonta a alguns milhares de anos, cultivada e vivenciada por nossos ancestrais em culturas das quais restam apenas o que a arqueologia consegue resgatar. É para com essas culturas que nos tornamos devedores. E, ao lado delas, para com algumas outras poucas sobreviventes, ditas primitivas, pouco influenciadas e pouco influentes no nosso mundo industrializado e globalizado.
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(excerto) de A TERRA E A MULHER
de Josina Roncisvalle & Lais Mourão

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