O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, outubro 20, 2010

E PRECISO SER-SE MULHER INTEIRA

RESPOSTA A UMA JOVEM MULHER

EM BUSCA DE SI MESMA

Houve e há muitas formas de Busca da Deusa, digamos a nível exterior e a nível interior, mas para mim nenhuma se torna tão definitiva e substancial se a Mulher não estiver EM SI MESMA consciência à partida da causa e origem da sua cisão, da cisão da mulher ocidental…por isso só lhe vou responder a uma questão que para mim é essencial e que é toda a base do meu trabalho de muitos anos e experiência pessoal.

Trata-se da integração e consciência das duas mulheres separadas na psique da mulher, Lilith, primeira mulher de Adão, insubmissa ao macho e Eva mais tarde tirada da costela de Adão por suposto bíblico.

Mais tarde como sabemos, no Novo Testamento, essa cisão consolida-se quando em concílios sucessivos, no princípio do cristianismo, com a divisão das duas mulheres mais próximas de Cristo, a presumível amante, Maria Madalena, companheira de Jesus, e a mãe, a Virgem Santa, considerada imaculada, porque O concebe sem “pecado”. Um facto que pode ter sido extraordinário e mágico é elevado ao céu para rebaixar as outras mulheres…

Há deste o início da religião judaico-cristã, como vemos, uma cisão da mulher em duas…mas essas duas mulheres são afinal de contas…uma só. Uma só mulher que era integra e convivia “sem pecado” com o seu lado maternal em perfeito equilíbrio com o erótico.

Depois de tantos séculos de obscurantismo religioso e dogmas criados pela Igreja católica romana é agora tempo de as mulheres ACORDAREM para si mesmas e para o seu verdadeiro potencial e integrar as duas mulheres cindidas na Bíblia…

Essa integração pode dar-se AGORA, PORQUE ESTE É O TEMPO - na psique e na alma da mulher – na união do corpo alma e espírito – e porque elas coabitam e sempre coabitaram a um nível profundo, celular e fazem ambas parte do SER MULHER inteira. E não bastam rituais…ao luar ou no mar…evocar Iemanjá ou Lilith…ir de joelhos a Fátima… é preciso SER-SE MULHER INTEIRA.

E É urgente esse acordar porque é nessa divisão que a cultura judaico-cristã se baseia ainda para erguer o seu domínio e exclusão de uma delas criando a dicotomia da boa e da má mulher que impregna toda a literatura e hoje está obscenamente patente nas telenovelas. Essas duas mulheres em nós não são antagónicas, quem o decretou foi a cultura patriarcal…e a Igreja de Roma. Foram séculos de perseguição e ódio visceral à natureza instintiva da mulher sedutora, da mulher bela, da mulher sábia, da mulher sensual, da mulher curadora…

A convivência entre ambas ainda que a nível inconsciente é constante, mas no exterior o que se manifesta é o antagonismo entre os dois lados que se tornaram “opostos” em cada mulher, havendo como é natural mulheres mais tipo Afrodite e mulheres mais tipo Hestia ou Atena e um desses lados tem predominância no carácter da mulher – mas que só são opostos porque a natureza instintiva e sexual da mulher foi considerada indigna e perversa e separada da mulher séria e da esposa ou da mística, no caso óbvio das freiras: celibato, castidade e penitências…

Quanto a mim a única solução para o aparecimento de um novo paradigma, é a consciencialização desses dois aspectos básicos da sua cisão senão essa divisão continua a fazer-se no adjectivar uma ou a “outra” mulher de acordo com o lado da vida em que se situa, do lado do conhecimento que adquire e toma como verdadeiro. Se essa cisão não se desfaz a mulher vai viver sempre essa separação e luta consigo mesma e com a sociedade onde quer afirmar a sua verdade. Fa-lo-á nos círculos de mulheres, nas cerimónias ou rituais wiquianos ou noutro grupo qualquer de mulheres. Daí este aspecto ser tão importante. Aliena-lo é compactuar com o Sistema patriarcal e continuar a agir dentro sistema. Ele agradece e até acha graça…

É essa a razão porque as mulheres ditas “nova era” nem sequer querem ouvir falar nisto… no centro das suas esferas ainda está o Deus e o Homem…ainda que consortes da Deusa…elas continuam a ser a mulher do homem…e não senhoras de si mesmas!

Assim, todo o conhecimento intelectual e mesmo espiritual sem essa integração é sempre dual e eu não os nego enquanto informação básica história ou ritual, apenas defendo que há um Conhecimento inato e uma sabedoria intrínseca que passa ou se expressa ou manifesta pela fusão dos hemisférios esquerdo e direito, feminino e masculino, tanto no homem como na mulher, sim, mas nunca antes da integração das duas mulheres na Mulher.

A meu ver só isso permite o acesso à verdadeira Inteligência, a Inteligência do coração, o verdadeiro órgão da Inteligência (sabia que o coração tem dentro de si um pequeno cérebro motor ainda desconhecido da maioria dos cientistas…?) e que se desenvolve pela emoção pura (não sentimental).

Não é separando nem dividindo ou raciocinando que chegamos ao conhecimento do SER, essa é a minha experiência. Mas eu tive outros mestres/as, fora de qualquer sistema ortodoxo académico, que, por mais evoluído e moderno que se pretenda está sempre dentro do Sistema…falocrático e patriarcal. E enquanto ele se mantiver, para mim, tudo o que se fizer, mesmo o melhor, é destinado ao erro, digo à separação da mulher em duas, três, conforme os estereótipos…porque se baseia na aceitação implícita da divisão da mulher em si…Esse foi o erro de todas as ideologias que nunca consideraram a mulher em si nem a sua totalidade…Nunca a viram como um ser integro e total, mas sempre dependente e complementar do homem, (mesmo que economicamente fosse independente) vista mais como um apêndice e nem as filosofias, e já antes desde Sócrates, nem as teorias da moderna sexualidade, viram essa cisão essa separação inicial depois da Queda…claro…Primeiro era só Eva a culpada, depois passou a haver a culpada e a santa, a Virgem que se anulava no casamento-contrato e tinha de ser fiel.

Acha que as coisas mudaram muito? Então olhe para a violência doméstica ou para os crimes sexuais que são não só contra a mulher mas também as crianças ou ainda e principalmente para as doenças de foro feminino…de onde elas vêm?

- Olhe para a maneira como hoje em dia na política os homens falam das ministras e deputadas e fazem chacota delas. Atacam as mulheres na política de meretrizes e vadias e não falam assim dos homens…

Então porque dar razão à sociedade machista e continuar a servi-la contestando aquilo que não tem remédio dentro do sistema? Porque não antes ligar as duas mães – seja Oxum (Lilith) e Iemanjá (Eva ou Nossa Senhora da Conceição) os arquétipos femininos básicos digamos e aparentemente antagónicos; isso foi o que eles fizeram, e fizeram o mesmo com intelectual e a amante, a religiosa e a trabalhadora, mas isso é uma e só a mesma coisa: a santa é a intelectual e a amante a puta…nada varia. E ninguém também lhe diz, de facto, que por seguir uma carreira e os seus interesses científicos e literários que tem de deixar de as unir… eles sim. Eles é que lhe impõem essa condição. Criam à mulher essa confusão tão lógica da sua divisão que faz com que ela não veja o que é tão evidente à partida porque está tudo perfeitamente escamoteado (obnubilado) pela razão deles… o que eles têm é medo justamente que ao Integrar as duas mulheres ou deusas, os dois arquétipos dominantes no mundo católico, a mulher possa tornar-se na nova “Pensadora” ou “Intelectual” se quiser, mas que não usa só a cabeça e o cérebro ou a mente, mas que une e inclui o sentimento e a emoção; digo, o coração, que equilibra os pólos e expressa a sua totalidade.

Sem a totalidade da MULHER não há nada de novo ao cimo do Planeta…

Eu só lhe digo mais uma coisa: o Sistema Académico NUNCA aceitará isso por mais que lute por se afirmar…e isso só verá um dia se não se deixar dominar e subjugar por ele…A sociedade falocrática não aceita as mulheres que não lhes são submissas, não as elegem nem elogiam…não lêem os seus livros…não as ouvem, porque elas são as Cassandras que eles condenaram ao descrédito…falar da Deusa e eleger a Mulher é ridículo mesmo para as mulheres dentro do patriarcado. Desde os gregos e romanos…

E quanto mais cultas e dentro do conhecimento académico, filosófico, científico ou outro as mulheres estiverem mais pensarão como os homens que são seus mestres, desde há séculos e fazem escolas, mais se distanciarão da Mulher autêntica e da sua essência. Porque a haver uma Mulher de Palavra, será Sábia e não intelectual… porque de certeza que a sua palavra será a Profética e de Amor, a do Conhecimento abrangente, do dentro e do fora, do cimo e do baixo, porque a mulher integrada é iniciada por si e une os Opostos…ela une a Terra e o Céu…Tem é de primeiro descobri o seu matrimónio genético e celular a sua memória ancestral…

Eu não a quero convencer de nada nem parecer convencida e menos ainda dissuadi-la do seu percurso. Mas É assim que sinto…é assim que sinto a MULHER e a emergência da união das duas mulheres que se digladiam entre si e dentro de si!

Com todo o meu respeito pelo seu trabalho e desejo do maior sucesso na sua carreira. Não se zangue comigo por eu ser tão afirmativa, mas é mesmo o meu coração que me salta da boca…

rosaleonorpedro


"O retorno à Deusa, para renovação numa base de origem e num espírito feminino, é um aspecto vitalmente importante na busca que a mulher moderna empreende em direcção à totalidade."


De SYLVIA B. PERERA

Sem comentários: