Demeter e os seus festivais são muito antigos. A Deusa mãe da agricultura era também a padroeira das mulheres e os seus festivais exclusivos para mulheres, que celebram o poder feminino mesmo em estados como Atenas, como as Tesmofórias, são muito antigos. Ela ascende provavelmente à idade do bronze e é possível que existisse uma Deméter na idade da pedra, visto que ela é venerada nos círculos de pedra não talhada que desta idade vêm.
Demeter significa simplesmente "A Mãe". Não somente a Mãe Terra, mas A Mãe. Ela é o cereal de ela é a aveia e a ela se reza na colheita e também na sementeira. A sua coroa é de espigas, o seu bastão um conjunto de espigas e nas mãos segura espigas. Mas ela é também a Mãe de todas as crianças e a Deusa responsável por cuidar destas e pelas pessoas que o fazem.
Os seus santuários localizam-se sobretudo por fora e até longe da cidade, mas o seu culto citadino é bastante forte e a Deusa não é apenas venerada pelos agricultores no campo.
Isto deriva em parte por Demeter estar também relacionada com o Hades através da sua filha Perséfone. Um dia, quando a rapariga, nessa altura chamada Kore, brincava nos campos floridos, um grande buraco no chão abriu-se e daí saiu Hades que a raptou.
Kore lançou um grito agonizada, grito esse que foi ouvido por três Deuses: Hélios, Hécate e, claro, a própria mãe, Deméter. Angustiada a Deusa procurou pela sua filha, que não encontrou. Até que com a própria Hécate foi a Hélios que lhe contou o que tinha acontecido.
Ela exigiu a Zeus que este mandasse Hades libertar Kore, mas este lembrou-lhe que Hades era seu irmão e que não podia exigir nada referente ao seu reino particular. Furiosa e triste Deméter fez lembrar a todos os Deuses que também ela é uma filha de Cronos e Reia: a terra deixou de produzir qualquer tipo de planta e os animais e os homens começaram a definhar, ao mesmo tempo que os sacrifícios aos Deuses pararam por completo.
Duranto este tempo a Deusa caminhou pela terra disfarçada de uma idosa, até que chegou a Elêusis, onde finalmente a fizeram rir. Aí ela cuidou do filho dos reis e ia torná-lo imortal, não fosse a mãe se afligir quando a viu mergulhar o pequeno no fogo. Então Deméter concedeu duas grandes dádivas: ensinou a agricultura e instaurou os mistérios de Elêusis.
Estes eram os Mistérios mais famosos da antiguidade e os de maior duração. Pouco ou nada se sabe sobre estes, uma vez que os participantes, que podiam ser de qualquer nacionalidade desde que falassem grego (para poderem perceber o que se dizia), estavam sob sigilo e este muito poucas vezes foi quebrado. Sabe-se que estes mistérios envolviam também Perséfone, Hades, Iaso e Dionisso, e pensa-se que estivessem relacionados com uma promessa de vida depois da morte, sendo referido que servem para nos livrar de uma culpa ancestral.
Voltando ao mito, Zeus depressa se apercebeu que sem Demeter todo o mundo colapsaria. Então enviou sucessivos mensageiros para tentar convencer a Deusa a voltar às suas actividades, mas esta recusava sempre. Até que o Senhor do Olimpo enviou Hermes que trouxe Kore de volta, em Elêusis.
O reencontro foi enternecedor, mas durou pouco. Rapidamente Hades emergiu e declarou que Kore teria que voltar para o submundo, pois tinha aí comido o grão de uma romã e quem quer que comesse algo no submundo aí tinha que permanecer para a eternidade segundo uma antiga lei. Demeter ficou furiosa e lembrou a Zeus dos seus poderes, enquanto que Hades o relembrou do juramento das antigas leis.
Por fim Zeus decretou que Perséfone passaria metade do ano com a mãe, a Primavera e o Verão, quando as flores e os cereais crescem, e a outra metade com Hades, o Outono e o Inverno. Desde então que Kore se chama Perséfone, a terrível Rainha do Hades.
O culto de Deméter era, contudo, predominantemente rural. Sacrifícios comuns eram os leitões, animais pecuários simbólicos, e as ofertas os cereais. Ele estava frequentemente enterlaçado com o de Perséfone (chamando-se as duas por vezes de Demeteres) que já foi interpretada como o cereal que nos meses do Inverno está debaixo da terra (no Hades) para depois se erguer em todo o seu esplendor. Por outro lado o seu culto embrenha-se como o de Hades por oposição: este dá a morte, Deméter a esperança.
~Miguel
2 comentários:
"No alto do ramo mais alto, uma tão rosa maçã. Mulher. Esqueceram-na os apanhadores de frutas? Não. Mãos não tiveram para a colher..." (Safo)
Creio que já conhece este poema, mas em todo caso...
sIM, CONHECIA...MAS LEMBROU-ME BEM A PROPÓSITO...
GRANDE BEIJINHO
rl
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