O EXTERMÍNIO DAS MULHERES...
“No séc. XVII, desencadeou-se, como se sabe, uma campanha de extermínio contra estas mulheres, que passaram à história convertidas em bruxas. A natureza sexual dos jogos e círculos femininos foi também estudada a partir das letras das suas canções que chegaram até nós (1). O hábito quotidiano das mulheres se juntarem “para bailar”, e para se banharem, é ancestral e universal, e dá-nos um vislumbre do espaço coletivo de mulheres impregnado de cumplicidade e baseado na intimidade natural entre mulheres, que hoje apenas prevalece em recônditos lugares do mundo. Em África, existem aldeias onde as mulheres ainda se reúnem à noite para dançar (bailes claramente sexuais, como se pode ver numa reportagem do Sudão (2). A imagem das mulheres do quadro “o Jardim das Hespérides”, de FredericK Leighton (séc. XIX) é outro vestígio dessa relação de cumplicidade e de intimidade entre mulheres.
Os hábitos sexuais das mulheres remetem-nos para a sexualidade não falocêntrica das mulheres; para a diversidade da sexualidade feminina, e a sua continuidade entre cada ciclo, entre uma etapa e outra. Uma sexualidade diversa e que se diversifica ao longo da vida, cujo cultivo e cultura perdemos. (…) Vivemos num ambiente em que o sistema libidinal humano, desenhado filogeneticamente para travar relações humanas, está congelado. Hoje as mães vivem longe das suas filhas e as avós vão de visita a casa d@s net@s; a pessoa de família que nos dá a mão quando adoecemos vive no outro extremo da cidade, e mal conhecemos o vizinho ou a vizinha" (…)
“No séc. XVII, desencadeou-se, como se sabe, uma campanha de extermínio contra estas mulheres, que passaram à história convertidas em bruxas. A natureza sexual dos jogos e círculos femininos foi também estudada a partir das letras das suas canções que chegaram até nós (1). O hábito quotidiano das mulheres se juntarem “para bailar”, e para se banharem, é ancestral e universal, e dá-nos um vislumbre do espaço coletivo de mulheres impregnado de cumplicidade e baseado na intimidade natural entre mulheres, que hoje apenas prevalece em recônditos lugares do mundo. Em África, existem aldeias onde as mulheres ainda se reúnem à noite para dançar (bailes claramente sexuais, como se pode ver numa reportagem do Sudão (2). A imagem das mulheres do quadro “o Jardim das Hespérides”, de FredericK Leighton (séc. XIX) é outro vestígio dessa relação de cumplicidade e de intimidade entre mulheres.
Os hábitos sexuais das mulheres remetem-nos para a sexualidade não falocêntrica das mulheres; para a diversidade da sexualidade feminina, e a sua continuidade entre cada ciclo, entre uma etapa e outra. Uma sexualidade diversa e que se diversifica ao longo da vida, cujo cultivo e cultura perdemos. (…) Vivemos num ambiente em que o sistema libidinal humano, desenhado filogeneticamente para travar relações humanas, está congelado. Hoje as mães vivem longe das suas filhas e as avós vão de visita a casa d@s net@s; a pessoa de família que nos dá a mão quando adoecemos vive no outro extremo da cidade, e mal conhecemos o vizinho ou a vizinha" (…)
Cacilda Rodrigañez Bustos
AS MULHERES QUE NÃO SÃO...
OU A FALTA DE CUMPLICIDADE ENTRE AS MULHERES...
Será que algum dia as mulheres se vão recompor de tudo aquilo que os homens escreveram sobre elas ao longo de séculos?
Dos pais, dos padres, dos médicos, dos psicanalistas, dos filósofos, dos escritores, dos sexólogos, dos maridos e dos amantes...
Será que algum dia as mulheres se vão realmente libertar de milhões de ideias e conceitos sobre a sua natureza e serem elas mesmas?
Será que algum dia a mulher vai ter voz própria, sem ser para falar do pai e do filho e de Jesus Cristo?
Ainda hoje as mulheres não conseguem escrever ou pensar por si mesmas. Ainda hoje as mulheres pensam que sem "deus" e sem sexo não são ninguém... (e pensam..."coitadas daquelas que são velhas ou não têm um macho que as cubra" - ainda ontem li uma frase assim de uma escritora...) Quando uma mulher não se identifica com o seu feminino essencial, porque vive uma cisão interna como mulher, que desconhece, e portanto não se conhecendo por si mesma como mulher na sua totalidade, ela olha-se com os olhos dos homens com quem aprendeu a falar e a escrever… Ela nunca diz A Mulher, mesmo quando fala de si; ela diz O Homem e deixa-se aglutinar ao verbo. Não tem existência sequer na palavra…
Ela é e foi sempre o que o homem quis que ela fosse.
Há escritoras porém, como é o caso da Camille Paglia, que sendo uma mulher muito lúcida, senhora de uma cultura portentosa, deixa antever toda uma ideia do ctónico e do afastamento do homem das forças da natureza, e do consequente rebaixamento e anulação da mulher, mas a forma como ela abarca o conhecimento em geral não deixa de ser masculina, e sendo ela uma intelectual pura, como é mulher, por outro lado, acaba por estar muito perto intuitivamente da verdade da Natureza e da Mãe – evocando a importância das forças ctónicas, do feminino recôndito, mas a sua perspectiva freudiana, sexualizada ao extremo, não lhe permite sentir como mulher integrada e continua a ser uma mulher-homem pela sua cultura e racionalidade excessiva…
Talvez negando-se essa sensibilidade feminina a si mesma e sem fazer essa fusão das duas mulheres cindidas pelas religiões, o que faria com que SENTISSE as outras mulheres a partir de dentro de si mesma, ela não teria de considerar as mulheres poetisas todas como lésbicas...
Uma mulher que não goste de si no sentido de um saber-conhecer profundo da sua alma, que não tenha integrado essas duas mulheres cindidas pelo patriarcado e faça a apologia secular do lado masculino e apolínio da vida na arte e na cultura, o que significa um apagamento secular da Mulher AUTÊNTICA, ela não pode ter empatia com outras mulheres porque não deve conseguir gostar de si como mulher SEM O OLHAR DO HOMEM QUE LHE DÁ SIGNIFICADO...e portanto também não consegue gostar das outras mulheres.
Assim, pelo facto de as mulheres não se sentirem como mulheres e não viverem a sua essência feminina faz com que as outras mulheres sejam as suas rivais, em competição com o homem (que elas querem ser ou amar, pois se preenchem e vivem em função exclusiva do homem ), assim dizia eu, vêem as outras mulheres como seres alheios a si mesmas e por isso estranham que a haver outras mulheres que gostem de mulheres terão de ser forçosamente “lésbicas”, uma vez que o padrão dos afectos e elos entre si só podem ser de ordem sexual – não esqueçamos de que ela é freudiana.
Sentir amor por si e pelas outras mulheres não faz de uma mulher lésbica; desejar ser mulher ainda que por vezes reflectindo esse desejo na ternura ou no espelho de "outra" mulher que se admira não significa ser lésbica.
É aqui que começa uma nova visão do ser mulher...AMAR outra mulher a partir de si mesma não é ser lésbica...é ser Mulher...Uma Mulher que se aprenda a amar a si mesma e a SER ELA MESMA uma pessoa inteira, uma alma e não apenas um corpo de encher…um sexo de prazer…ela pode e deve amar as outras mulheres e isso não significa que as tenha de amar sexualmente!
Isto não nega a homossexualidade feminina, mas mais rara do que se possa pensar. É por isso mesmo que a homossexualidade feminina não tem a visibilidade que a masculina…quase sempre o amor de uma mulher por outra é projecção do que a mulher que deseja (inveja?) na outra e que gostaria de ser…mas a maior parte das vezes, tal como em geral acontece com o homem, que quase sempre procura na mulher amada a mãe, ela procura também a mãe que não teve…o colo da mãe…e não é também por acaso que uma mulher pouco feminina deseje uma mulher muito feminina…aliás tal como o homem que busca a sua anima…busca o seu outro lado e não parte de si como ente masculino. O homem não está dividido na sua psique nem nas suas emoções enquanto homem. Ele pode se menos masculino ou mais masculino mas não por ter sofrido a mesma cisão que a mulher.
Fala-se muito de que a mulher procura no homem também o pai, mas isso é só verdade em parte, quase sempre a mulher procura sim, o filho…é o filho que ela mais deseja…porque ela pensa que o filho é que lhe vai dar identidade…e razão de ser na vida…Porque à mulher falta-lhe uma metade mas é uma metade de si para ser uma mulher inteira. Quando a mulher reunir as duas mulheres divididas nos vários estereótipos em que ela está cindida, a mãe, a amante, a filha, a prostituta etc., ela será então una em si mesma e capaz de amar outras mulheres como iguais, assim como amar o homem sem depender dele para ser nem do filho e sem se anular, sem se reduzir a um corpo e a um sexo.
Esta é uma ideia minha a desenvolver...depois voltarei a questão.
ROSALEONORPEDRO
OU A FALTA DE CUMPLICIDADE ENTRE AS MULHERES...
Dos pais, dos padres, dos médicos, dos psicanalistas, dos filósofos, dos escritores, dos sexólogos, dos maridos e dos amantes...
Será que algum dia as mulheres se vão realmente libertar de milhões de ideias e conceitos sobre a sua natureza e serem elas mesmas?
Será que algum dia a mulher vai ter voz própria, sem ser para falar do pai e do filho e de Jesus Cristo?
Ainda hoje as mulheres não conseguem escrever ou pensar por si mesmas. Ainda hoje as mulheres pensam que sem "deus" e sem sexo não são ninguém... (e pensam..."coitadas daquelas que são velhas ou não têm um macho que as cubra" - ainda ontem li uma frase assim de uma escritora...) Quando uma mulher não se identifica com o seu feminino essencial, porque vive uma cisão interna como mulher, que desconhece, e portanto não se conhecendo por si mesma como mulher na sua totalidade, ela olha-se com os olhos dos homens com quem aprendeu a falar e a escrever… Ela nunca diz A Mulher, mesmo quando fala de si; ela diz O Homem e deixa-se aglutinar ao verbo. Não tem existência sequer na palavra…
Ela é e foi sempre o que o homem quis que ela fosse.
Há escritoras porém, como é o caso da Camille Paglia, que sendo uma mulher muito lúcida, senhora de uma cultura portentosa, deixa antever toda uma ideia do ctónico e do afastamento do homem das forças da natureza, e do consequente rebaixamento e anulação da mulher, mas a forma como ela abarca o conhecimento em geral não deixa de ser masculina, e sendo ela uma intelectual pura, como é mulher, por outro lado, acaba por estar muito perto intuitivamente da verdade da Natureza e da Mãe – evocando a importância das forças ctónicas, do feminino recôndito, mas a sua perspectiva freudiana, sexualizada ao extremo, não lhe permite sentir como mulher integrada e continua a ser uma mulher-homem pela sua cultura e racionalidade excessiva…
Talvez negando-se essa sensibilidade feminina a si mesma e sem fazer essa fusão das duas mulheres cindidas pelas religiões, o que faria com que SENTISSE as outras mulheres a partir de dentro de si mesma, ela não teria de considerar as mulheres poetisas todas como lésbicas...
Uma mulher que não goste de si no sentido de um saber-conhecer profundo da sua alma, que não tenha integrado essas duas mulheres cindidas pelo patriarcado e faça a apologia secular do lado masculino e apolínio da vida na arte e na cultura, o que significa um apagamento secular da Mulher AUTÊNTICA, ela não pode ter empatia com outras mulheres porque não deve conseguir gostar de si como mulher SEM O OLHAR DO HOMEM QUE LHE DÁ SIGNIFICADO...e portanto também não consegue gostar das outras mulheres.
Assim, pelo facto de as mulheres não se sentirem como mulheres e não viverem a sua essência feminina faz com que as outras mulheres sejam as suas rivais, em competição com o homem (que elas querem ser ou amar, pois se preenchem e vivem em função exclusiva do homem ), assim dizia eu, vêem as outras mulheres como seres alheios a si mesmas e por isso estranham que a haver outras mulheres que gostem de mulheres terão de ser forçosamente “lésbicas”, uma vez que o padrão dos afectos e elos entre si só podem ser de ordem sexual – não esqueçamos de que ela é freudiana.
Sentir amor por si e pelas outras mulheres não faz de uma mulher lésbica; desejar ser mulher ainda que por vezes reflectindo esse desejo na ternura ou no espelho de "outra" mulher que se admira não significa ser lésbica.
É aqui que começa uma nova visão do ser mulher...AMAR outra mulher a partir de si mesma não é ser lésbica...é ser Mulher...Uma Mulher que se aprenda a amar a si mesma e a SER ELA MESMA uma pessoa inteira, uma alma e não apenas um corpo de encher…um sexo de prazer…ela pode e deve amar as outras mulheres e isso não significa que as tenha de amar sexualmente!
Isto não nega a homossexualidade feminina, mas mais rara do que se possa pensar. É por isso mesmo que a homossexualidade feminina não tem a visibilidade que a masculina…quase sempre o amor de uma mulher por outra é projecção do que a mulher que deseja (inveja?) na outra e que gostaria de ser…mas a maior parte das vezes, tal como em geral acontece com o homem, que quase sempre procura na mulher amada a mãe, ela procura também a mãe que não teve…o colo da mãe…e não é também por acaso que uma mulher pouco feminina deseje uma mulher muito feminina…aliás tal como o homem que busca a sua anima…busca o seu outro lado e não parte de si como ente masculino. O homem não está dividido na sua psique nem nas suas emoções enquanto homem. Ele pode se menos masculino ou mais masculino mas não por ter sofrido a mesma cisão que a mulher.
Fala-se muito de que a mulher procura no homem também o pai, mas isso é só verdade em parte, quase sempre a mulher procura sim, o filho…é o filho que ela mais deseja…porque ela pensa que o filho é que lhe vai dar identidade…e razão de ser na vida…Porque à mulher falta-lhe uma metade mas é uma metade de si para ser uma mulher inteira. Quando a mulher reunir as duas mulheres divididas nos vários estereótipos em que ela está cindida, a mãe, a amante, a filha, a prostituta etc., ela será então una em si mesma e capaz de amar outras mulheres como iguais, assim como amar o homem sem depender dele para ser nem do filho e sem se anular, sem se reduzir a um corpo e a um sexo.
Esta é uma ideia minha a desenvolver...depois voltarei a questão.
5 comentários:
... para mim foi perfeita essa colocação ...
"Fala-se muito de que a mulher procura no homem também o pai, mas isso é só verdade em parte, quase sempre a mulher procura sim, o filho…é o filho que ela mais deseja…porque ela pensa que o filho é que lhe vai dar identidade…e razão de ser na vida "…
... vou aguardar o desenvolvimento dessa questão !!!
Um abraço
"É aqui que começa uma nova visão do ser mulher...AMAR outra mulher a partir de si mesma não é ser lésbica...é ser Mulher...Uma Mulher que se aprenda a amar a si mesma e a SER ELA MESMA uma pessoa inteira, uma alma e não apenas um corpo de encher…um sexo de prazer…ela pode e deve amar as outras mulheres e isso não significa que as tenha de amar sexualmente!"
Aprendi isso por mim mesma. Por conta dessa idéia patriarcal de que amor entre mulheres significa homossexualidade, foi bem difícil entender o que acontecia entre mim e uma amiga mais próxima... quando deixei de procurar respostas, percebi que tinha criado um monstro em cima de algo que não existia. Era apenas amor, amor por alguém que eu admirava, por quem nutro um carinho incondicional. Não é algo sexual, não é desejo físico, é conexão, sintonia, entendimento, compreensão, admiração, respeito... se tornou tão difícil construir essas coisas hoje em dia, onde todas, com essas mesmas idéias que me confundiram, vêem esse carinho como segundas e terceiras intenções, e já de primeira sentem a repulsa, o nojo... amor se constrói, e hoje parece que sente-se nojo de construí-lo.
Espero não ter sido inconveniente em meu relato, um pouco pessoal demais, talvez... (se for conveniente, remova-o, Rosa. não me ofenderei)
Um abraço.
É assim como sente de facto. Muitas mulheres sentem esse nojo ou repulsa e é o nojo e a repulsa que tem de si mesmas pelo facto de serem mulheres...elas não suportam serem gostadas por si e isso reflete-se no espelho de outra mulher...e ficam angustiadas pelo carinho de outra mulher possa independemente de ser ou não um interesse sexual, manifestar. mas o amor nunca é só sexual...é sempre outra coisa...mas que pode expressar-se sexualmente se houver reciprocidade, seja em que situação for.
Portanto Nunca será incoveniente por ser sincera e verdadeira e por se expor com tanta naturalidade. Gosto muito e é isso que temos de ter coragem de fazer. Tomara eu que muitas leitoras tivessem a sua coragem de dizer o que realemnte sentem!
Muito pbrigada pro partilhar o que sente.
um grand eabraço
rosa leonor
acha que posso partilhar o seu comentário publicando-o com um comentário meu? se não quiser diga.
claro que pode partilhá-lo, sem problema algum, Rosa... me sinto honrada :)
Adorei ! O argumento da beleza, da amizade, é o que mais uso para tentar conscientizar amigas que vejo que nunca pararam pra pensar sobre o patriarcado,sobre as questões feministas...Mostro como estamos competindo pela beleza, competindo pela atenção do homem, o quanto sentimos inveja da beleza das outras mulheres, enquanto poderíamos usar a beleza em homenagem umas às outras, criando uma cultura da beleza todas nós, juntas,celebrando a vida, o colorido, as formas,os tecidos.. E encerrando, de uma vez por todas, a nossa desunião, o isolamento a que fomos submetidas....
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