O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, dezembro 18, 2012

Não muita gente ouviu falar de Nzinga Mbande



NZING - UMA RAINHA ANGOLANA

Não muita gente ouviu falar de Nzinga Mbande. Porém, no seu tempo, muitas dores de cabeça esta rainha Angolana causou neste reino à beira mar plantado. Nzinga reinou na região de Ndongo no século XVII, numa época em que os Portugueses se entretinham com as lides pouco louváveis da escravatura, assim criando um dos primeiros mercados globais da história da humanidade.

Nzinga sucedeu ao irmão, morto em circunstâncias incertas, e durante os seus cerca de 40 anos de reinado, revelou-se uma soberba negociadora e governante, aliando-se a Portugueses, Holandeses e reinos vizinhos em função dos seus interesses e dos do seu povo. Conseguiu considerável controlo territorial enquanto reinou, controlo esse rapidamente perdido após a sua morte. Mulher inteligente, converteu-se ao catolicismo como forma de fortalecer um tratado de termos iguais estabelecido com Portugal. Foi então baptizada de Dona Ana de Sousa.

Apresentamos aqui Nzinga, primeiro porque nunca é demais valorizar figuras femininas poderosas da nossa História, que infelizmente não abundam. Depois porque, de acordo com algumas más-línguas, Nzinga terá levado uma vida de devassidão sexual sem paralelo.

Senão vejamos, Dona Ana alegadamente teria um vastíssimo harém constituído por homens que ela com regularidade mandava lutar até à morte. O prémio do vencedor seria passar uma noite com sua majestade, mas não por favoritismo, porque muitas vezes o pobre coitado era morto logo pela manhã. Quem sabe por a sua prestação não ter sido satisfatória. Além disso, como que para manter contagem de quantos já lá iam, guardava os genitais dos amantes, tendo assim constituído uma colecção sem par. Diz-se ainda que mandava vestir os seus criados homens com roupas de mulher e que, uma vez, ao ir para uma batalha, instruiu os seus guerreiros para que a chamassem de “meu rei”.

Com tais referências, não é de estranhar que Nzinga tenha sido mencionada pelo Marquês de Sade na sua obra “A Filosofia da Alcova”. Resta saber até que ponto essas alegações são verídicas. É que era rotineiro na época exagerar aquilo que à luz dos costumes Europeus era considerado bárbaro no comportamento de povos escravizados. Era uma forma de desumanizá-los e assim justificar a sua utilização como mercadoria, prática contra a qual Nzinga lutou ferozmente. Assim, era fácil para as mentalidades delicadas do burgo horrorizar-se com a vida íntima dos africanos, esquecendo-se que outras práticas não menos selvagens ocorriam por sua iniciativa, como é bom exemplo a própria da escravatura.

Independentemente do que Nzinga faria na intimidade do seu harém, o que ninguém lhe pode tirar é a coragem que teve em impor-se num mundo masculino e de lutar pelos seus súbditos. E é acima de tudo por isso que é importante recordá-la.

Publicado por Nuno Nodin - psicólogo- no Blog  "Coisas boas e pecaminosas" 
in revista Pública a 15/11/09

2 comentários:

Anónimo disse...

Vixe, a Dona era danada então, hein?

rosaleonor disse...

Sim, ela era danadinha mesmo...

grande abraço Else...
rl