"... Foi dito: o homem obriga a mulher a não sair (de casa), porque cada mulher que sai, no final cai. E esta é a supremacia do homem sobre a mulher!" - disse o Rabi Johanan b. Beroqah
A Serpente Alada
Não é que esteja zangada, mas estou triste. Carrego este peso enorme de uma falsa culpa que me atribuíram os falsos juízes que me condenam ainda hoje seja eu inocente ou culpada …São tantas as histórias e as mentiras que contam a meu respeito, tantas e tantas falsidades que por vezes eu não suporto mais tanto ódio, tanta inveja e perfídia…
Em primeiro lugar…não destilo veneno como eles dizem, nem mato…mas às vezes estou tão cansada de toda esta história mal contada que tenho ganas de destruir tudo e sim de os ferir de morte!...
Porque têm tanto ódio e medo de mim os homens, não sei bem, mas sei que puseram inimizade entre mim e as mulheres de quem fui e sempre serei amiga e isso agora é o que me importa!
O certo é que as mulheres ANULADAS como escravas, ou por medo dos donos-maridos que as amarravam em casa e mais tarde, tornadas beatas dos seus padres, começaram a odiar-me sem pensar na sua própria causa ou pelo medo que lhes foi instigado pelos monges-guerreiros que as amordaçaram à sua causa “divina” e árida, ao seu deus déspota e demente… que separou as mulheres e lhes infringiu males sem fim…Eles eram os homens do deserto, homens sem Mãe, que vieram e destruíram a fecundidade das senhoras dos lagos e das águas…Mataram a Deusa Mãe, perseguiram as sacerdotisas da deusa…e as tornaram prostitutas do seu deus…Dizem hoje “prostitutas sagradas” para meu desespero…porque o sagrado não se prostitui…dá-se e não se vende…
Na verdade eu só queria que elas não perdessem a sua consciência de Deusas da Vida e da Cura, Rainhas e senhoras de si, todas elas Virgens afinal de contas, na verdadeira acepção da palavra! Mas eles inverteram tudo e só por isso dizem o que dizem ainda…
Disseram à mulher que eu lhes morderia o calcanhar, e obrigaram a VIRGEM
que eles elegeram aos altares das suas igrejas, a esmagar-me a cabeça a seus pés em todas as suas estátuas me mostram assim... Eu esmagada aos pés de uma deusa de pedra, morta, e criaram esta velha inimizade entre as mulheres da Terra…que reina em todo o Planeta…semeando a discórdia…e o ódio…
E é assim que eu apareço como o mais vil demónio, imundo e sujo, contra as mulheres, dizem, que lhes rouba os maridos e come as suas crianças ou as mata…a seu belo prazer! Disseram tantas e tão terríveis coisas sobre mim que eu pasmo de tanta ignomínia…inventaram amuletos de protecção e poções contra mim e o meu veneno…
Mas eu, quando no início desta história tentei EVA, que ademais era minha filha, juro, era só para ela se lembrar de que sem a Sabedoria da Grande Mãe, perderia a alma ou a liberdade de si mesma, o que veio a acontecer, e em nome dela, todas as mulheres se tornaram aos poucos obedientes e servis aos patriarcas, sendo obrigadas durante séculos a traíram-se ao esmagaram-me a cabeça, que lhes servira já de Coroa e com que andavam erguidas antes da minha Queda!
Não quero parecer cínica, mas não sei mesmo porque foi o Deus deles tão duro comigo.
Não lhe quis estragar os planos, porque Jeová no início estava do meu lado…mas não sei porquê mudou de opinião…e ouviu Adão; eu só queria ajudar as mulheres, que ao contrário do que dizem, não são uma costela de Adão, nem pecadoras…ou inferiores…mas iguais a mim, todas sibilinas e astutas, tão inteiras e completas como eu... que tenho cauda com que me satisfaço e reproduzo deuses... e asas para voar sempre que me dá na gana! E foi isso que enfureceu Adão…
E se elas me tivessem ouvido, em vez de rastejarem vazias e desprezadas toda a vida aos pés dos homens e dos filhos, vencidas e submissas, hoje erguer-se-iam na vertical e exigiam o Paraíso que é seu!
Mas eu voltei para repor a História verdadeira, para vos dizer de novo quem Eu Sou.
Eu sou Lilith, a Mulher Velha que todos desprezam e que detém a mais antiga Sabedoria do Mundo. Eu sou aquela que detém o segredo do Universo e das estrelas…
E digo-vos, qual é o meu segredo: o veneno da Serpente, transmudado, pode, alquímica e sabiamente usado, transformar-se em asas, elevando-vos aos céus sem vos tirar os pés da Terra nem abdicar do vosso Eu profundo e imenso...
rlp
O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
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