A MULHER É O FUTURO DE DEUS
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“Se Deus existe, é óbvio que não tem sexo. Podemos portanto perguntar por que é que a maioria das grandes religiões fizeram dele uma representação exclusivamente masculina. Não foi, contudo, sempre assim.
O culto da Grande Deusa precedeu o de “Yahvé, senhor dos exércitos” e as deusas ocupavam um lugar de eleição no panteão das primeiras civilizações. A masculinização do clero é sem dúvida uma das principais razões para esta mudança a qual se operou através dos três milenios que precedem a nossa era: como poderia uma cidade e uma religião governadas por homens venerar uma divindade suprema do sexo oposto? Com o desenvolvimento das sociedades patriarcais, percebe-se a causa: o deus supremo, ou o deus único, não pode mais ser concebido como feminino. Não somente ...na sua representação, mas também no carácter e na função: os seus atributos de fortaleza, domínio, poder são valorizados. No céu como na Terra, o mundo é governado por um macho dominador.
Ainda que o carácter feminino do divino continue a subsistir no seio das religiões através de diversas correntes místicas ou esotéricas é só e finalmente na era moderna que esta híper masculinização de Deus vem a ser posta em causa. Não que se passe de uma representação masculina a uma representação feminina do divino. Assistimos sobretudo a um reequilíbrio. Deus deixou de ser percepcionado como um juiz temido, mas sobretudo como bom e misericordioso: há cada vez mais crentes a acreditarem na Sua providência benevolente. Poder-se-ia dizer que a figura tipicamente “paternal” de Deus tende a esbater-se em benefício de uma representação mais tipicamente “maternal”.
Da mesma forma, a sensibilidade, a emoção, a fragilidade, são valorizadas na experiência spiritual. Esta evolução não deixa evidentemente de estar também ligada à revalorização da mulher nas nossas sociedades modernas, facto que toca cada vez mais as religiões, permitindo nomeadamente o acesso das mulheres a funções de ensino e de direcção do culto. Ela traduz igualmente o reconhecimento nestas sociedades das qualidades e valores identificados como mais “tipicamente” femininos, embora estes, evidentemente, tanto digam respeito a homens como a mulheres: compaixão, abertura, acolhimento, protecção da vida. Face ao inquietante sobressalto machista dos integrismos religiosos extremistas, estou convencido de que esta revalorização da mulher e esta feminização do divino constituem a chave principal de um verdadeiro renascimento espiritual no seio das religiões.
Sem sombra de dúvida, a mulher é o futuro de Deus.”
Frédéric Lenoir, Le Monde des Religions
(tradução do francês: MI)
“Se Deus existe, é óbvio que não tem sexo. Podemos portanto perguntar por que é que a maioria das grandes religiões fizeram dele uma representação exclusivamente masculina. Não foi, contudo, sempre assim.
O culto da Grande Deusa precedeu o de “Yahvé, senhor dos exércitos” e as deusas ocupavam um lugar de eleição no panteão das primeiras civilizações. A masculinização do clero é sem dúvida uma das principais razões para esta mudança a qual se operou através dos três milenios que precedem a nossa era: como poderia uma cidade e uma religião governadas por homens venerar uma divindade suprema do sexo oposto? Com o desenvolvimento das sociedades patriarcais, percebe-se a causa: o deus supremo, ou o deus único, não pode mais ser concebido como feminino. Não somente ...na sua representação, mas também no carácter e na função: os seus atributos de fortaleza, domínio, poder são valorizados. No céu como na Terra, o mundo é governado por um macho dominador.
Ainda que o carácter feminino do divino continue a subsistir no seio das religiões através de diversas correntes místicas ou esotéricas é só e finalmente na era moderna que esta híper masculinização de Deus vem a ser posta em causa. Não que se passe de uma representação masculina a uma representação feminina do divino. Assistimos sobretudo a um reequilíbrio. Deus deixou de ser percepcionado como um juiz temido, mas sobretudo como bom e misericordioso: há cada vez mais crentes a acreditarem na Sua providência benevolente. Poder-se-ia dizer que a figura tipicamente “paternal” de Deus tende a esbater-se em benefício de uma representação mais tipicamente “maternal”.
Da mesma forma, a sensibilidade, a emoção, a fragilidade, são valorizadas na experiência spiritual. Esta evolução não deixa evidentemente de estar também ligada à revalorização da mulher nas nossas sociedades modernas, facto que toca cada vez mais as religiões, permitindo nomeadamente o acesso das mulheres a funções de ensino e de direcção do culto. Ela traduz igualmente o reconhecimento nestas sociedades das qualidades e valores identificados como mais “tipicamente” femininos, embora estes, evidentemente, tanto digam respeito a homens como a mulheres: compaixão, abertura, acolhimento, protecção da vida. Face ao inquietante sobressalto machista dos integrismos religiosos extremistas, estou convencido de que esta revalorização da mulher e esta feminização do divino constituem a chave principal de um verdadeiro renascimento espiritual no seio das religiões.
Sem sombra de dúvida, a mulher é o futuro de Deus.”
Frédéric Lenoir, Le Monde des Religions
(tradução do francês: MI)
2 comentários:
Não há dúvidas de que só o femonino pode recompor a sociedade em decadência e em rota de destruição.
A deusa precisa com urgencia ser resgatada e cultuada como a única e exclusiva forma de sobrevivência e continuidade. Agenor.
Não há dúvidas de que só o femonino pode recompor a sociedade em decadência e em rota de destruição.
A deusa precisa com urgencia ser resgatada e cultuada como a única e exclusiva forma de sobrevivência e continuidade. Agenor.
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