O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, maio 27, 2017

O ESPAÇO TEMPO DO HOMEM

“Quando mulheres adormecidas despertam, montanhas se movem!”
(provérbio chinês)

A PERGUNTA DE UMA MULHER 

- "O que faz uma mulher consciente de si ? Qual sua atitude perante a vida /mundo/cultura/território / espaço tempo do Homem e com o qual co habita?"


Antes de tudo a mulher tem de despertar para si. A Mulher tem de ser uma ser autónomo. Com voz e linguagem própria. Porque sem que a mulher seja consciente de si como MULHER e a partir de dentro como Ente - sem se identificar mais com o seu papel social e familiar que prolonga na politica e no trabalho - isto é: em que não existe como Ente, como ser independente ou individuo e é apenas a esposa-mãe ou a funcionária ou então a executiva...e até pode ser a deputada e a ministra - dentro do Sistema e sabendo nós que a vida que ela ocupa no "mundo/cultura/território/espaço-tempo que coabita " é o do HOMEM - a pergunta devia ser:

"Como é que a mulher pode mudar ou vai mudar esse Espaço que é dominado há séculos pelo Homem? Com que armas, com que meios?"

...e ai vemos as mulheres quase todas, desde as feministas e as marxistas ou as Femen e as "vadias" (em marcha)  a lutarem cada uma à sua maneira, e a fazerem-no dentro Sistema que as anula e as abate...Fazem-no dentro de um mundo que é do Homem e onde ela nem é nomeada na gramática - afastada do léxico - onde não tem nome senão o do marido tal como os filhos e não tem lugar na sociedade a não ser como mulher ou filha de...mesmo que seja escritora ou cientista médica...

Há quem ache que  já não é nada assim...mas o que aconteceu é que tudo isto foi escamoteado e finge-se apenas que já não é assim; Finge-se que a mulher é livre...que é emancipada, mas a verdade é que esse modelo de mulher manteve-se ao longo destas décadas de dita "emancipação" tal como  foi  sempre para lá desse verniz cultural e ideológico deste ultimo meio século  e continuará a ser assim até que a mulher ACORDE E SE TORNE NUM ENTE autónomo e que justifique a sua existência sem  ser apenas como mãe  ou  amante ou filha de etc.
Mas não vou eu escamotear a pergunta que certamente quer dizer o que deve fazer a mulher consciente nesse espaço tempo do Homem?

Eu já disse: a não ser que a mulher acorde e ganhe uma consciência de si como ente e se valorize por ser apenas Mulher ela não vai conseguir chegar a lado nenhum: a mulher  pode gastar toda a sua energia na luta pela justiça e na luta pela igualdade social com o homem  mas ela nunca acontecerá de facto dentro do Sistema - o Sistema (seja capitalista, monárquico ou democrático) vive da dependência e anulação da mulher que o serve e é serva do homem e dos filhos e da família. Podem embelezar isso de muita coisa nobre e bela e até de amor e tudo o que quiserem - mas não fogem a esta realidade...a mulher serve o Sistema  anulando-se na sua identidade.

O Sistema vive de base da Família e da propriedade privada - a mulher é pois propriedade privada do homem pelo casamento quer ela queira ou não...e assim é tratada pelo Sistema. Querer mudar o sistema em seu beneficio é o mesmo que o destruir e isso ele nunca irá consentir, como não está a consentir ...Basta ver o que está acontecer no mundo inteiro contra a mulher, não é só o mundo islâmico...nem os fundamentalistas que são um perigo para mulher no mundo.
Basta olhar como a América elege hoje um Presidente machista misógino e racista, casado com uma barbie, como no Brasil uma mulher foi destituída e um Macho conservador e a sua mulher do lar e recatada, tal como em toda a Europa os direitos das mulheres estão a recuar e a mulher é violentada e abusada dentro das grandes cidades do mundo dito civilizado por bárbaros...
Na verdade o Sistema não pode perder o seu poder falocrático, em vigor desde há séculos, e todo ele é baseado no modelo da Família Patriarcal em que o Homem é a cabeça do casal e a mulheres e os filhos devem sujeitar-se a eles de todas as formas; Portanto as mulheres pensaram que tinham chegado a algum lado - como emancipação, igualdade ou direitos iguais - basta olhar este retrocesso cultural em marcha para ver que o que conseguiram foi mais aparente e muito apenas teoricamente, tirando algumas conquistas no campo académico e profissional. 
Assim a minha conclusão é: se querem continuar a seguir as teorias (ideologias machistas e idealizações ou religiões misóginas) e a perder energia contra o Sistema, façam-no; Mas  se querem ser conscientes de si como MULHERES tornem-se Mulheres de poder em si mesmas e imediatamente não haverá nenhum poder sobre si que não o da sua vontade.
E digo: mulheres se querem ser livres, realmente livres, vivam o vosso prazer sem depender do homem...não casem, não tenham filhos, e mesmo que tenham de conviver com o Sistema a nível exterior - porque estão dentro dele - presas a uma família e a um emprego, não lhes deem a vossa energia de luta nem a vossa força apoiando as suas causas fraudulentas...
Sim, deixem de lhes dar poder a eles alimentando a sua arrogância, ou a sua carência ...ou então se é essa a vossa escolha, sejam pois as escravas do lar ou as criadas para todo o serviço como o foram as vossas mães e avós...repitam o filme... 

rlp

A IMPORTÂNCIA DE RESTAURAR A NOSSA INTUIÇÃO

" O rompimento do vínculo entre a mulher e a sua intuição selvagem é muitas vezes encarado erroneamente como se a própria intuição é que estivesse destruída. Não é o que ocorre. Não foi a intuição que se partiu, mas, sim a bênção matrilinear da intuição, a transmissão da confiança intuitiva de todas as mulheres de uma linhagem, que já se foram, para aquela mulher especifica - é esse longo rio de antepassadas que foi represado. A com...preensão da mulher da sua sabedoria intuitiva pode ser fraca em consequencia do rompimento, mas com exercício ela poderá se restaurar e se manifestar em sua plenitude. As bonecas servem de talismãs. Os talismãs são lembretes do que é sentido, mas não visto, do que existe, mas não é de evidência imediata. O numen talismânico da boneca é o que nos recorda, o que nos diz, o que vê adiante de nós. Essa função intuitiva pertence a todas as mulheres. É uma receptividade maçica e fundamental. Não uma receptividade do tipo alardeado no passado da psicologia tradicional, que é como um recipiente passivo, mas sim, uma receptividade como a da posse de acesso imediato a uma sabedoria profunda que atinge as mulheres até aos próprios ossos."

Clarissa Pinkola Estes , em Mulheres que correm com os lobos.

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