O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, maio 25, 2017

A VIDA NA TERRA


NATUREZA E ESPIRITUALIDADE
A Terra é um ser vivo, dado que todos os seres dela emanam.


"Como a Vida é consciência, obedeceu o planeta, no seu progresso evolutivo, à emergência de níveis sequenciais de consciência, desde a simples, correspondendo ao reino mineral, à sensitiva, presente no reino vegetal, à emocional, emergente no reino animal, e à mental, que floresce com a autoconsciência, característica do reino humano, o qual se direciona gradualmente para a emergência do plano espiritual, última etapa da evolução da consciência nesta dimensão do universo em que nos situamos.
Esta espiral obedece a um esquema em que se passa para uma etapa de grau superior, integrando e transcendendo a anterior, tudo se transformando, nada se perdendo.
Esta inter-relação nada mais é do que o Todo em que tudo se integra, nada estando separado, senão para os nossos olhos, emersos na superficialidade e por isso incapazes de verem o fundo onde reside o Real.
Vivendo nós adormecidos na inconsciência dessa essência profunda, concebemos a vida como um conjunto de elementos dissociados entre si, separando o dentro do fora, o eu dos outros, a pessoa da natureza, a matéria do espírito.
Importa, nesta ótica, preencher o vazio que nos habita com a aquisição daquilo por que ansiamos, lutando e destruindo, se necessário, desde que consigamos buscar fora de nós aquilo que desejamos e rejeitando aquilo que nos incomoda.
Tudo isto implica desarmonia e destruição, porque contrário às leis da vida, que obedecem à lógica da interação, que é Unidade ou Amor.

Consideremos, no entanto, que o processo de evolução da consciência se faz paulatinamente, obedecendo a uma escala de necessidades, que começa pelas que concernem ao aspeto material e biológico, em vista da sobrevivência do corpo físico, substrato básico de realidades imateriais mais subtis e de maior nível de consciência, que gradualmente virão a ser descobertas e consciencializadas.
Nesta primeira fase, o ser humano, inconsciente de si ao nível mais profundo do ser que é, visa apenas a aquisição de bens materiais e busca de prazer, que rotula de felicidade.

Se, nos primórdios da evolução do Homem, essa busca fazia todo o sentido, já que se procurava apenas sobreviver perante a adversidade das forças da natureza e dos riscos daí advindos, presentemente é apenas o vazio interior, por desconhecimento de si próprio, que justifica o anseio exagerado de ter e possuir.

O poder interior que nos determina, não descoberto por falta de auto-conhecimento, é substituído pelo poder sobre o exterior, nele incluídos todos os seres, manifestando desta forma a insegurança inevitável de quem não se define de forma própria, ponto de partida para se estabelecerem pontes de ligação com tudo quanto se manifesta.

Parece, pois, que quanto mais o Homem se prende à dimensão material ou exterior da Terra, num anseio de ter, menos capacidade tem de a amar, tendo presente que o apego é contrário à noção de Ser, isto é, ao Amor.

Nesta ótica, considera o ser humano, como desenvolvimento e progresso de uma qualquer sociedade a riqueza económica que advém da produção e aquisição de bens materiais, que julga serem as prevalecentes e quase únicas necessidades humanas, ignorando que a verdadeiro desenvolvimento - não descurando o necessário suporte básico material indispensável à sobrevivência -, assenta na abertura a níveis superiores de consciência, que realizem o ser nas suas várias dimensões ontológicas, considerando a dimensão do Ter como pressuposto elementar para a condição de Ser.
Parece, pois, ser nossa missão converter o plano do Universo em que nos situamos, caracterizado pela ênfase no Ter para a dimensão do Ser. É esta a busca que nos compete fazer, como mediadores que somos entre a Terra e o Céu, dado sermos, de entre todos os seres da natureza, os que se encontram no patamar cimeiro da espiral de consciência.

Teremos, pois, de espiritualizar as nossas vidas, para que isso seja irradiado em redor, iluminando a natureza e tudo quanto dela emerge e assim descobrindo a Vida e a sua sabedoria.

Dotados de autoconsciência, tal tarefa terá de começar por um trabalho sobre nós, de forma a encontrarmos a Luz que nos habita, iluminando as trevas da ignorância, geradora do mal.
Ao aprofundarmos a consciência de quem somos, descobrir-nos-emos como expressões da VIDA UNITÁRIA QUE TUDO É e assim como nos amaremos, por sermos Vida, igualmente o faremos em relação a tudo quanto o É também.

Importa, pois, assumirmos a responsabilidade do estado em que se encontra o mundo, dado que a realidade mais ampla e a mais pequena são uma só. A natureza também nos habita, fazendo nós dela parte e apenas a ignorância justifica a ideia de separação entre a mesma e o ser humano.
Teremos, assim, de descobrir a Vida, que integra todos os planos do Ser, a que teremos de aceder, se queremos ser completos e realizados.
Não ficamos, pois no primeiro degrau da escada infinita que nos compete subir, já que a humanidade se encontra predominantemente no patamar inferior, no plano material e fisiológico.

Quando subimos um pouco, percebemos que o que antes víamos era apenas uma parcela ínfima daquilo que é a Realidade a encontrar, e o nosso olhar pasmou com a paisagem mais ampla que agora se manifestava. Confrontámo-nos, assim, com a ignorância que anteriormente tínhamos, julgando que o mundo era o pequeno quintal onde nos situávamos.
Integrando esta etapa na escalada a percorrer, como suporte da ascensão, paralelamente teremos de a transcender para aceder aos patamares seguintes.
Caso permaneçamos na destruição ambiental, originaremos a prazo a morte do planeta e de sucessivas reencarnações, para que no final da viagem se transforme num sol, que alumiará e dará vida a outros planetas, em resultado da iluminação de todos os seres que nele habitam.

Estará, então, completa a missão que nos foi cometida de espiritualizar a Terra, mediante a nossa própria espiritualização, como intermediários que somos entre o Céu e a Terra.
A Terra é, pois, o nosso berço, onde nascemos para crescer e evoluir e assim, atingir os diferentes planos que, no final da viagem se abrirão para a Luz que é a realização almejada desde sempre. "

(Margarida Branco)

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