O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, novembro 15, 2010

RETRATO FIEL DE UMA REALIDADE CAMUFLADA



AS MULHERES EM PORTUGAL COMO HÁ 40 ANOS...



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Milhares de tarrafais*

Só este ano, já matou trinta mulheres. A culpa é nossa. Porque a violência doméstica, que transforma milhares de lares em campos de concentração, resulta da desigualdade e de uma cultura que infantiliza as mulheres.
Daniel Oliveira (www.expresso.pt)


A insegurança e a criminalidade são temas muito do apreço dos que vivem do medo. Não que sejam irrelevantes. Eles limitam o bem mais precioso para qualquer sociedade que se queira decente - a liberdade - e são sintomas da desigualdade. Mas, quase sempre, aqueles que as têm como prioridades do debate político usam-na para nos oferecer como cura a própria doença: limitar ainda mais a nossa liberdade e promover, através do estigma, a desigualdade. Não é por isso de espantar que a criminalidade que não sirva esta agenda raramente esteja na ordem do dia.

Exemplo: a violência doméstica, que tem as mulheres como vítima quase exclusivas. Passa-se dentro de portas, não parece perturbar o quotidiano dos que não a experimentam e destrói essa cândida ideia que temos de nós de próprios enquanto sociedade moderna e evoluída. Este ano já tirou a vida a trinta mulheres. E estes são apenas os casos limite. Os espancamentos, as limitações violentas à liberdade individual, as humilhações que destroem até aos ossos a auto-estima de tantos seres humanos são banais. Fazem parte de um quotidiano que olhos e ouvidos de tantos decidem ignorar. Porque entre marido e mulher não se mete a colher.



Escondida entre quatro paredes, a violência doméstica deixa a vítima na mais completa e angustiante solidão. Muitas vezes corroída pela culpa, numa sociedade que ainda aceita com naturalidade que alguém pode ser propriedade de alguém. Que infantiliza as mulheres, tratando-a como um mero adereço. Que as trata como palradoras compulsivas, fadas do lar ou meninas mimadas viciadas em compras, que cada classe social trata dos seus próprios estereótipos. Que convive bem com a figura da "primeira-dama", uma espécie de penacho de um Chefe de Estado. Que pergunta a uma mulher como concilia a vida familiar com a vida profissional mas nunca se lembra de fazer a mesma pergunta a um homem. Que trata a infidelidade masculina como sinal de virilidade e a infidelidade feminina como sinal de promiscuidade. Que paga, em média, mais aos homens do que às mulheres pelo mesmo trabalho. Que, tendo mais mulheres a sair das faculdades, não as deixa chegar aos lugares de topo, porque homem que é homem não aceita ordens de mulher. Que vê a função de "doméstica" com uma estranha naturalidade e a de "doméstico" como uma bizarria.



Uma mulher que me ensinou desde o meu nascimento muito do que sei fez-me saber sempre uma verdade fria: só é realmente independente e livre quem pode garantir o seu próprio sustento. Quando se pode fechar a porta sem olhar para trás. Por isso, podemos mudar muitas leis (e, ao tornar a violência doméstica num crime público, deixámos claro que, como comunidade, não aceitamos ficar em silêncio), mas nada conseguiremos enquanto as mulheres não conquistarem a igualdade como profissionais, trabalhadoras e cidadãs.
Só aí a violência doméstica deixará de ser uma questão de género. Só aí, milhares de homens demasiado inseguros para amar uma igual deixarão de conseguir transformar as suas casas em campos de concentração. Só aí conseguiremos punir estes selvagens como merecem. Só aí passarão a ser olhados com asco pelos seus vizinhos, amigos e familiares. Só aí ficarão sós até meterem nas suas fracas cabeças que ninguém pertence a ninguém. Só quando for maior vergonha ser um agressor do que ser "corno", "banana" ou apenas civilizado, é que estriparemos do nosso quotidiano este crime que confunde amor com tortura. Só aí faremos justiça às trinta mulheres assassinadas em 2010 pelos seus companheiros, maridos ou namorados. No século XXI. Num país europeu.

*Tarrafal, uma prisão política do tempo da ditadura; tarrafais, sinónimo de prisões…

3 comentários:

Nana Odara disse...

sem independência financeira a mulher não terá a sua dignidade de volta. O maior problema é q elas se acomodam na dependência e julgam q se é ruim com eles, pior será sem eles...
Ainda investem mais no casamento, na promessa do macho salvador do q na própria carreira, muitas deixam de trabalhar com o casamento e a chegada dos filhos, depois ficam acomodadas... dão suporte para os maridos crescerem enquanto se anulam... envelhecem... e são trocadas...

nem assim cai a ficha... continuam esperando o principe chegar... continuam isoladas das outra mulheres, qdo tudo está bem, vira a cara pras outras, qdo tudo está mal as outras viram a cara tbm...

um dia haverá de acordar a bela adormecida, e desencantar: nenhum príncipe virá... o único caminho é dar a mão às suas irmãs... é criar laços de amizade e fraternidade entre si... lealdade feminina...

infelizmente, para o problema da violência doméstica, só a lei, por mais dura q seja não serve pra alterar a impunidade acoitada pela lealdade masculina q une agressor e policial sob o mesmo manto.
Por isso elas denunciam, mas permanecem em casa esperando um milagre - do sapo virar principe - e na esfera da lei nada acontece, nem qdo ela denuncia nem qdo ele realmente mata... pq os homens nesse caso, agressor e policial são farnha do mesmo 'saco'...

só a lealdade feminina poderá fazer face à lealdade masculina... qdo as mulheres se unirem e deixarem de ser a base dos machos...

rosaleonor disse...

Esperemos que um dia as mulheres se unam...querida Juliana, o sonho é a última coisia a morrer, mas as mulheres contiuam a estar umas contra as outras: feministas contra místicas, intelectuais contra domésticas, artistas contra prostitutas etc...
Sonhemos pois com a Lealdade Feminina...eu sei que ela existe!!! mais não fosse, porque você existe!

abraço grande
(e comece a escrever as palavras todas...senão dá muito trabalho copiar...eh eh eh...)

rosa leonor

Nana Odara disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...
ando cansada bruxinha...
mas continuo construindo a esperança...

kkkkkkkk...

não sei tc as palavras todas... não sou eu, é a entidade q escreve assim...
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... mas não posso comprovar cientificamente... kkkkkkkkkkkk