O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, dezembro 12, 2012

A SOLIDÃO DAS MULHERES

 
As mulheres

Não creio que as mulheres tenham problemas de solidão. Estão preparadas para a solidão e, em geral, para toda a espécie de sofrimento; a natureza dotou-as com singulares poderes de resistência, o que os doutos alquimistas diziam ser humor frio e incapaz de maturidade intelectual. Acho mesmo que a solidão é um estado natural da mulher; e por isso todos os movimentos ascéticos que envolviam retiro e culto da experiência espiritual, desde as vestais de Roma até às Damas do Amor Cortês, na Provença, partiam dum sentimento feminino muito acentuado. Os homens não encaram bem esse protótipo de mulher espiritual, porque ele é o único que recria a independência feminina depois do primeiro Éden. E diz-se primeiro Éden porque, segundo as Escrituras, houve, antes de Eva, uma mulher pura, inteligente e igual ao homem, de grande condição metafísica, porém cruel e sumamente poderosa. Chamava-se Lilith. Em suma, o mito da mulher fatal, que o homem teme e, ao mesmo tempo, pretende conhecer como sua verdadeira metade.

O dilema é este: nós as mulheres, somos prosaicas, sobretudo quando somos naturais. É próprio daqueles que são delicados e frágeis o serem terra-a-terra, porque isso lhes dá a impressão de estarem mais protegidos. A realidade protege mais do que os sonhos, do que as coisas imaginárias.


Agustina Bessa-Luís
In "Dicionário Imperfeito"
 
GOSTARIA de saber o que é que pensam deste texto...como sentem a solidão?

5 comentários:

Anónimo disse...

Quem escolhe este caminho, há de passar duras provas na atual sociedade e suportar os rótulos.

Quando encontro mais uma marionete se iludindo, então sinto-me como uma extraterrestre. Não necessariamente só, mas cansada... desesperançosa...

Como disse Schopenhauer, só temos a escolha entre a solidão e a maldade.

rosaleonor disse...

Concordo consigo...

ME disse...

Toda a minha vida desde que me lembro me senti solitária. Poucas vezes comprendida ou aceite, a começar pela minha própria mãe, cedo senti necessidade de me resguardar para fazer caminho -sozinha.
Não sei se as mulheres são mais resistentes à solidão - quem o pode saber, se somos todas fruto da queda? Eu sinto-me marcada pela solidão, que no meu caso surgiu para proteger o ego, e que agora é uma segunda pele; tenho de ser resistente à solidão, senão já teria morrido (e na verdade já quase morri de solidão numa fase da vida em que mais gente se nutriu da minha existência...). A solidão é um refúgio e uma cruz que carrego.

rosaleonor disse...

a SOLIDÃO CONDUZ-NOS AO NOSSO SOL....INTERIOR...sem negação da nossa lua...por isso diz: "a solidão é um refúgio e uma cruz que carrego"...da união das duas forças em nós...nasce a consciência do nosso mistério e também a paz e o amor...creia em si...
abraço

rl

Ná M. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.