O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, abril 17, 2012

DE QUE DEUSA FALAMOS NÓS...

DE QUE MULHER FALAMOS NÓS...



NÃO, NÃO ERAM "PROSTITUTAS SAGRADAS",
MAS MULHERES CONSAGRADAS!

A Espiritualidade, em geral e como vimos no texto em baixo, mesmo abordada por um autor de grande integridade, pode falar da Deusa como Nossa Senhora quando muito, Maria, a Mãe imaculada…e Maria Madalena como prostituta…arrependida, mas esse aspecto do feminino cindido é-lhes ainda alheio...Eles não conseguem perceber essa cisão da mulher em duas e quase todos eles vêm a prostituição como uma realidade necessária e endémica – e é-o, ao sistema falocrático e patriarcal e não a natureza da mulher - nem perceber que aconteceu uma disfunção do ser mulher inteira ao separar-se a maternidade da sexualidade e portanto isso continua um certo tabu. Inclusive continuam a falar da "Prostitutas Sagradas" referindo-se erroneamente às sacerdotisas da Deusa Mãe que na antiguidade eram servas da Deusa e estavam ao seu serviço e não se vendiam, sendo as iniciadoras do homem ao amor terreno e divino, cumprindo uma função também sagrada, sendo uma dádiva da Deusa aos homens e não um comércio como hoje nos querem fazer crer a partir de uma visão deturpada pelo catolicismo e a mentalidade preconceituosa e misógina contra a sexualidade e as mulheres dentro da Igreja de Roma e outras religiões como a muçulmana.

Nessa antiguidade remota e tão mal compreendida, talvez matriarcal, ou pelo menos em que a função do feminino da deusa eram DIGNIFICADAS, as jovens das classes mais elevadas e não só, depois de aprenderem elas mesmas com as outras sacerdotisas mais velhas as  artes de amar, cumpriam um tempo de serviço nos templos para serem iniciadoras dos homens ao amor da Deusa e da ligação da Terra ao Cosmos, para que estes tivessem em si a consciência da sua manifestação plena. Os homens por sua vez deveriam fazer uma OFERENDA AO TEMPLO em sinal de retribuição á Deusa, uma oferta simbólica, e não como uma forma de pagamento à mulher e ao Templo.   

Houve mais tarde um aproveitamento por parte do sistema patriarcal, corrompendo a tradição milenar, que se aproveitaram dessas mulheres e templos, como na Índia, com as invasões arianas, e começou por todo o mundo a haver lugares de prostituição chamados lupanares ou bordeis nos nossos dias. Aconteceu também no Japão e na China com as gueixas etc. e consequentemente a subordinação e exploração sexual das mulheres começou aí, não sendo mais uma oferenda à Deusa, mas uma venda  aos homens.

Assim muitas vezes, e nos nossos dias, há autores que associam essa adoração da Deusa, e iniciação ao seu amor, à prostituição em que os próprios padres e proxenetas tornaram o sexo profano e a mulher promíscua e pecadora, impedida de falar nas igrejas e proibidas de entrar nelas quando menstruadas. Eles falam referindo-se a Maria Madalena e a essas sacerdotisas como prostitutas sagradas - sem perceber esse paradoxo e esse dano feito à mulher...porque o seu ponto de vista é sempre masculino e de acordo com a sua necessidade...eles homens vêm a prostituição como uma forma natural de o homem não iniciado, neste caso, poder ter relações sexuais primárias, ou de satisfazer necessidades básicas, sem perceber que a mulher está a ser usada pela sua compulsão...sim, eles nunca vêm a Mulher total...continuam a dividir a mulher em esposa e amiga e santa...companheira  etc., e a “outra” que sempre  a puta é uma...necessidade ao serviço das pulsões sexuais do masculino e não do feminino. A mulher nunca foi para aí chamada. O seu prazer nunca esteve em causa. Isso eles não vêm...mesmo os mais bem-intencionados!

Cabe a nós mulheres esclarecê-los e ao mesmo tempo trabalhar pela nossa integridade, pela união das duas mulheres…que é e sempre foi uma só.

RLP

Adenda:

Gostaria só de acrescentar que o Serviço das mulheres nos Templos da Deusa como sacerdotisas do Amor e da Vida seria sem dúvida um muito mais elevado, muito mais digno e dignificante serviço à Humanidade do que fazer Serviço Militar e aprender a matar o próximo…e o inimigo, em vez de amar a Terra e a Mulher como igual…E essa é a diferença fundamental entre matriarcado e patriarcado… As mulheres vertem o sangue da vida, os homens vertem o sangue da morte… Os homens ensinam os homens a matar e as mulheres ensinam os homens a amar.
Esta divisão milenar mantem o mundo em guerra. A  elevação do feminino e a união dos dois hemisférios beneficiará a Humanidade inteira, mas para isso a mulher tem de ter consciência da sua cisão interna.

3 comentários:

Unknown disse...

Muito esclarecedor o texto. Os homens dividiram a mulher porque eles próprios estão divididos, e as mulheres, de certa forma, acomodaram-se a esta situação. As poucas mulheres que rebelam-se e conseguem ser totais são exceções. Gosto muito dos seus artigos.

Solanggé M Moúram disse...

Olá, estou lendo a Prostituta Sagrada, e nossa que diferença, o que é realmente a Prostituta, seu texto resume todo o significado.
Sinto, por nós mulheres em não conhecer a real historia nossa, do feminino, como somos envolvidas numa mentira, numa lavagem cerebral, que desde tempos remotos vem corrompendo nossa integridade,e cada vez mas somos vitimas da nossa ignorância em aceitar o que o Patriarcado impõem.
Acredito, que todos que trabalham com o feminino sagrado,tem o papel de abrir os olhos, despertar a semente do autoconhecimento, e propagar cada vez mais nossa verdadeira história.
Gratidão.

Anónimo disse...

Cara mestra, devo dizer que na tradição religiosa africana, a menstruação, por exemplo, foi sempre motivo de orgulho. Acho que toda religião considerada "primitiva" e próxima da natureza, valoriza a essência do ser.