“Um Sifu
me contou que lutadores de certos clãs no antigo Cantão quando tinham um
oponente muito forte procuravam antes estudar o tom de voz da mãe deste (na
época era fácil isso, as famílias viviam juntas, numa mesma casa várias
gerações).
O tom de
voz da mãe atravessa as barreiras defensivas em nós porque o ouvíamos como
vibração, quando estávamos no útero.”
In pistas do caminho – nuvem que passa
LEMBRAM-SE? OU ESQUECERAM?
Muitas
mulheres estão a despertar...elas começam a sentir o que está mal...elas sentem
na sua pele o incómodo, mas ainda querem ser boazinhas...balbuciam meias
verdades...Todavia ainda não conseguem resgatar a sua palavra a partir do útero, de verdade, do seu amago.
ainda disfarçam. Não conseguem gritar o que lhes vai na alma. Ousar dizer o que as oprime. Um enorme peso, o silêncio de séculos, o medo -
pesa sobre as suas cabeças...Cabeças sempre postas a prémio..."se
falas...morres...se dizes mato-te...se ousas abandonar-me, direi que és louca,
se te atreves a denunciar-me vais para o hospício...direi que és bruxa...que és
puta, que és má mãe...Vão tirar-te os meus filhos...eles são meus e trazem o meu
nome. Tu mulher és nada...És um verbo de encher com esperma, uma barriga de
aluguer..."
Lembram-se...é esta história repetida em todas
as histórias velhas e novas...e de todos os cantos do mundo ela vem...ah! não,
os filmes e as telenovelas... esses são já para nós fazer esquecer, para nos
iludir, para nos confundir...eles dizem, "tu és livre, dizes e fazes o que
queres, tens tudo o que precisas, carros e batons e és presidente e médica e política, escolhes e dormes com os homens que queres"...E assim tu
esqueces. Eles dizem, não, "não houve opressão da mulher, ela é que teve a culpa...ela é Lilith,
um demónio, ela é astuciosa e má, a mãe negra que come os filhos a mulher
vampira que engole meninos à nascença...ela é a vlha bruxa megera..."
Parece que esta história já não se usa...que foi ultrapassada, mas é
a história que está selada nas nossas células, na nossa memória...no nosso
ventre, que nos persegue e não é branqueando e fazendo de conta que não foi nada, que já não
dói, que eu sou livre... que ela se apaga...Não. É lembrando é integrando essa
Sombra que nos atormenta, essa memória que nos angustia, indo ao fundo de nós
mesmas e ao magma da terra, bem ao fundo da nossa psique ver essa cisão intertna quenos separa umas das outras, para a resgatarmos e
só assim a libertaremos para sempre e sermos quem sempre fomos...unas e
inteiras, mães mulheres e amantes...como um todo e não fragmentadas e
separadas, e fechadas em prisões onde nos meteram para nos usar de acordo com
as suas leis...esposas e prostitutas, concubinas e escravas...
A mulher
tem de acordar e resgatar a Voz do Útero, é urgente e é preciso. O mundo
depende da Mulher...agora mais do que nunca a Terra e a Mulher têm de ser Uma.
Rlp
A voz de
uma leitora:
Uma coisa
que sinto é que a voz do útero é a voz do amor. Ele se contorce porque ainda
estamos amarradas e aprisionadas a estas questões, sofrendo por elas. Os tempos
atuais são outros, o feminismo abriu caminho às avessas mas foi um movimento
importante de conscientização. As mulheres confusas e por isso cindidas não
reconhecem a supremacia do amor que brota do seu ser. Esta é a sua finalidade
última. É a questão de sua energia, é a função de sua essência. Sinto que há um
aprisionamento deste útero que quer amar e não sabe porque se aprisiona em sua
própria dor, não vê saídas, não vê perspectivas, se vê algemada o tempo todo.
Vê que o mundo ainda lhe submete, a constrange por toda essa história que já
conhecemos. Será que não está na hora de olharmos para este corpo de dor e
fazer um ritual de despedida? De limpeza, de cura? Não conseguimos ser inteiras
porque o corpo de dor vive nos remetendo a essas injustiças que recebemos, tal
qual uma criança que não aceita mas também não se mexe, só reclama e se
submete. Amar é essencialmente a nossa função. Não é ser boazinha é ser boa.
Não é ser passiva, é ser consciente de seus movimentos e quando deve fazê-los.
É ter voz. É alcançar a nossa SABEDORIA perdida por entre várias opiniões,
teorias e etc... É reconhecer e se apropriar inteiramente de nosso poder. Já
está na hora a meu ver da força se expandir, não é lutar é amar. Lutar aqui num
sentido de guerra dos sexos ou coisa que o valha. Mas é lembrar de como se ama,
e devemos nos amar, e nós já sabemos, para poder curar o que nos cerca de
ignorância e temor, dentro e fora de nós. Consciência sim, tudo o que é exposto
aqui e é com muita propriedade, é necessário mas precisamos nos libertar
emocionalmente e mentalmente dessas questões para sermos verdadeiramente
LIVRES. Eu não sei se vou me fazer entender mas eu acho muito necessário
conhecermos nossa história antropológica, nossa história espiritual, etc... Mas
precisamos SER ESTA MULHER, ainda estamos profundamente condicionadas as nossas
dores. Uma coisa é ter consciência delas, outra coisa é tê-las como
"armas" de proteção ou mesmo vinganças veladas ou não. Livrai-nos oh
mãe dessa dor que a mulher acaba cultivando em si. Para além de todas as pressões
que ainda sentimos e vivemos, devemos seguir sem medo a mensagem da rosa, a
essência do feminino em sua leveza, pureza, em seu aroma, em sua beleza, no
amor que espalha e nos seus espinhos que revelam que ela não é frágil e nem
tampouco desprotegida. É consciente de sua força, beleza, sabedoria e
dignidade!
Rosa
Barros
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