O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, maio 26, 2012

A VOZ DA MÃE…




“Um Sifu me contou que lutadores de certos clãs no antigo Cantão quando tinham um oponente muito forte procuravam antes estudar o tom de voz da mãe deste (na época era fácil isso, as famílias viviam juntas, numa mesma casa várias gerações).
O tom de voz da mãe atravessa as barreiras defensivas em nós porque o ouvíamos como vibração, quando estávamos no útero.”
 
In pistas do caminho – nuvem  que passa


LEMBRAM-SE? OU ESQUECERAM?


Muitas mulheres estão a despertar...elas começam a sentir o que está mal...elas sentem na sua pele o incómodo, mas ainda querem ser boazinhas...balbuciam meias verdades...Todavia ainda não conseguem resgatar a sua palavra a partir do útero, de verdade, do seu amago. ainda disfarçam. Não conseguem gritar o que lhes vai na alma. Ousar dizer o que as oprime. Um enorme peso, o silêncio de séculos, o medo - pesa sobre as suas cabeças...Cabeças sempre postas a prémio..."se falas...morres...se dizes mato-te...se ousas abandonar-me, direi que és louca, se te atreves a denunciar-me vais para o hospício...direi que és bruxa...que és puta, que és má mãe...Vão tirar-te os meus filhos...eles são meus e trazem o meu nome. Tu mulher és nada...És um verbo de encher com esperma, uma barriga de aluguer..."

Lembram-se...é esta história repetida em todas as histórias velhas e novas...e de todos os cantos do mundo ela vem...ah! não, os filmes e as telenovelas... esses são já para nós fazer esquecer, para nos iludir, para nos confundir...eles dizem, "tu és livre, dizes e fazes o que queres, tens tudo o que precisas, carros e batons e és presidente e médica e política, escolhes e dormes com os homens que queres"...E assim tu esqueces.  Eles dizem, não, "não houve opressão da mulher, ela é que teve a culpa...ela é Lilith, um demónio, ela é astuciosa e má, a mãe negra que come os filhos a mulher vampira que engole meninos à nascença...ela é a vlha bruxa megera..."

Parece que esta história já não se usa...que foi ultrapassada, mas é a história que está selada nas nossas células, na nossa memória...no nosso ventre, que nos persegue e não é branqueando e fazendo de conta que não foi nada, que já não dói, que eu sou livre... que ela se apaga...Não. É lembrando é integrando essa Sombra que nos atormenta, essa memória que nos angustia, indo ao fundo de nós mesmas e ao magma da terra, bem ao fundo da nossa psique ver essa cisão intertna quenos separa umas das outras, para a resgatarmos e só assim a libertaremos para sempre e sermos quem sempre fomos...unas e inteiras, mães mulheres e amantes...como um todo e não fragmentadas e separadas, e fechadas em prisões onde nos meteram para nos usar de acordo com as suas leis...esposas e prostitutas, concubinas e escravas...

A mulher tem de acordar e resgatar a Voz do Útero, é urgente e é preciso. O mundo depende da Mulher...agora mais do que nunca a Terra e a Mulher têm de ser Uma.

 Rlp



A voz de uma leitora:


Uma coisa que sinto é que a voz do útero é a voz do amor. Ele se contorce porque ainda estamos amarradas e aprisionadas a estas questões, sofrendo por elas. Os tempos atuais são outros, o feminismo abriu caminho às avessas mas foi um movimento importante de conscientização. As mulheres confusas e por isso cindidas não reconhecem a supremacia do amor que brota do seu ser. Esta é a sua finalidade última. É a questão de sua energia, é a função de sua essência. Sinto que há um aprisionamento deste útero que quer amar e não sabe porque se aprisiona em sua própria dor, não vê saídas, não vê perspectivas, se vê algemada o tempo todo. Vê que o mundo ainda lhe submete, a constrange por toda essa história que já conhecemos. Será que não está na hora de olharmos para este corpo de dor e fazer um ritual de despedida? De limpeza, de cura? Não conseguimos ser inteiras porque o corpo de dor vive nos remetendo a essas injustiças que recebemos, tal qual uma criança que não aceita mas também não se mexe, só reclama e se submete. Amar é essencialmente a nossa função. Não é ser boazinha é ser boa. Não é ser passiva, é ser consciente de seus movimentos e quando deve fazê-los. É ter voz. É alcançar a nossa SABEDORIA perdida por entre várias opiniões, teorias e etc... É reconhecer e se apropriar inteiramente de nosso poder. Já está na hora a meu ver da força se expandir, não é lutar é amar. Lutar aqui num sentido de guerra dos sexos ou coisa que o valha. Mas é lembrar de como se ama, e devemos nos amar, e nós já sabemos, para poder curar o que nos cerca de ignorância e temor, dentro e fora de nós. Consciência sim, tudo o que é exposto aqui e é com muita propriedade, é necessário mas precisamos nos libertar emocionalmente e mentalmente dessas questões para sermos verdadeiramente LIVRES. Eu não sei se vou me fazer entender mas eu acho muito necessário conhecermos nossa história antropológica, nossa história espiritual, etc... Mas precisamos SER ESTA MULHER, ainda estamos profundamente condicionadas as nossas dores. Uma coisa é ter consciência delas, outra coisa é tê-las como "armas" de proteção ou mesmo vinganças veladas ou não. Livrai-nos oh mãe dessa dor que a mulher acaba cultivando em si. Para além de todas as pressões que ainda sentimos e vivemos, devemos seguir sem medo a mensagem da rosa, a essência do feminino em sua leveza, pureza, em seu aroma, em sua beleza, no amor que espalha e nos seus espinhos que revelam que ela não é frágil e nem tampouco desprotegida. É consciente de sua força, beleza, sabedoria e dignidade!

 Rosa Barros


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