"Segredos que nos guiam pelo forte instinto que ladra aos que nos ofendem, rasga com caninos decididos todo empecilho que encontra a sua natureza inteira, e segue suas próprias patas para um lugar que não sabemos onde é, mas que temos certeza que é onde pertencemos..."
Maria Eduarda
VIVEMOS TODA A VIDA RODEADA DE "PENSADORES" E
PROFESSORES, ESCRITORES E PADRES e donos da nossa vontade...da nossa vida...primeira
era o pai e o irmão depois o marido e o filho e senhor padre...o vizinho e depois o
patrão...e por aí fora.
Por isso é importante que pensemos que a coerência não é uma
ideia linear...nem fazer ou dizer o que achamos certo de acordo com algo que
pensamos...mas sermos apenas coerentes com o que sabemos e somos e sentimos
agora, não mais do que isso, e isso é que é importante para começar o nosso
processo de auto-conciencialização. Para o conseguirmos temos de ser bem espertas…astutas como a nossa
Mãe a Grande Serpente…e não perder o controlo e dizer tudo o que pensamos e que
é “descontrolado” e irracional…Devemos é calar e manter a lucidez interior
diante de quem nos julga ou quem nos faz mal…Sim, não pensemos que temos força
para lutar contra o inimigo, o predador em igualdade…mas apenas nos podemos
valer da astúcia e inteligência que eles não têm…é isso que temos a nosso favor.
Mas antes temos de perceber que ser coerente não é despejar tudo o que sentirmos
e expor-nos em vão; temos de perceber que não podemos ser coerentes de acordo
com um qualquer princípio exterior que nos diz isto está certo e aquilo está
errado. Temos de sair desse ciclo vicioso e para tal temos de seguir o nosso
sentir profundo e não deixarmos que os conceitos e ideias do mundo e as suas
estruturas nos impressionem e continuem a condicionar! Nem vale a pena contra argumentar.
Nós sabemos que foram essas mesmas estruturas que nos dominaram e torturaram,
que nos exploraram e nos mantêm ainda sob controlo. Através de conceitos e
preconceitos aparentemente insignificantes. O que nos mantém nessa prisão é o sentimento
de culpa atávico em nós. Cessemos de nos sentirmos culpadas pelo mal do mundo…
Maria Eduarda
MULHERES:
Vivemos debaixo da pressão de termos de ser assim e
assado...e uma menina não faz isto e uma menina não mostra as pernas (no meu
tempo) etc. Agora poderá até parecer diferente...mas acontece na mesma por outros
termos. A mulher quer-se com rédeas curta, dizem os que mantêm as rédeas...e se
nós julgamos que já não temos ninguém que nos segure...o marido, vem o
filho...ou sogro...etc. Há ainda e sobretudo na moral que tem mudado bastante
com os tempos, parecendo liberalizada, mas quando chega a altura de um
diferendo a mulher é sempre a culpada...Não vale a pena escamotear o assunto e
dizer que já nada é assim porque é...o assédio no trabalho, a violência doméstica,
as violações, a prostituição…tudo isso continua…e prolifera por aí…
Por isso não vale a pena a mulher continuar a querer agradar
a ninguém ou a ser de acordo com qualquer parâmetro ou seguir qualquer via de
afirmação social dentro do sistema; será sempre a primeira a ser culpada...Há
séculos que os homens vivem da nossa culpa e ela foi bem disseminada e está lá
no fundo sempre a moer mesmo que nem sequer saibamos o que temos...e dai a uma
depressão ou um cancro vai um passo. É assim a angústia a neurose e as doenças
das mulheres...a mais famosa ou a mais comum agora: ser bipolar...e é onde essa
imensa contradição da mulher vem ao de cima em extremos convulsivos ou em
apatia total...ela quer romper o ciclo vicioso e não sabe, ela quer rebentar as
correntes e não sabe como...e digo-vos: É por dentro, sub-repticiamente que a
mulher vai minar o sistema...quando começar a ser ela mesma a ter consciência
de si e da sua prisão mental, emocional, a perder o medo do que esses
"PENSADORES" dominadores pensam ou dizem de si...Começa aí o
processo. A mulher não ter que agradar a ninguém... mas para isso ela tem de se
isolar um pouco ou ter a coragem de lhe ser indiferente o que a sociedade pensa
dela...e então começar o seu processo de auto-libertação dos conceitos e das
ideias que despejaram sobre ela uma vida inteira e com as quais ela foi
formatada...
Quando começamos a perceber quem somos e a nossa luta normalmente
exigimos coerência de nós e começamos a querer afirmarmo-nos antes de tempo
expondo as nossas novas ideias e sentimentos, a desafiar o patriarcado…asneira
minhas amigas, asneira de grossa…Eles apanham-nos e até se põem do nosso lado…são
os homens feministas…muito bondosos…ou gays, os transexuais, que aproveitam a
boleia das novas travestis, que se fazem passar por deusas elas próprias, “deusas”
que se mostram muito Afrodite e especialistas em artes do sexo e de seduzir e no
fundo tudo o que querem é casar com o sistema estando do lado, claro, dizem das
minorias…
Querem contudo é ganhar dinheiro ou promoverem-se como
modelos falhados na passerelle e agora vêm com a “dança no ventre” ou os workshops…elas são
apenas “umas e as outras” – umas contra as outras - sempre divididas e
rivalizando pelo par ou pelo preço do trabalho…ou pela fama de deusas no Olimpo de Zeus, seja qul for o seu deus, cornudo ou outro…
Basta de cedermos a nossa vida e a noss vontade e sermos o “bode expiatório”
do mundo, o cordeiro do sacrifício…A mulher crucificada na cruz e não o filho
do homem…
Não vamos mais entregar o “ouro ao bandido”. Não é por aí
que vamos...
Não, nada disso...a mulher à partida é de natureza
incoerente e paradoxal e isso para mim, essa é a sua coerência; a coerência da
mulher é precisamente ser fiel à sua aparente incoerência…é ser fiel a sua
intuição e não só a razão do outro. E ser fiel a si mesma é não ter medo de SER
ELA! SER MULHER É ser igual a si mesma, e não ao modelo que dela criaram os homens…e
com os quais isso sim estamos em contradição e por isso sofremos tanto!
Esse é o caminho para nós. O que SENTIMOS é que É o
importante...mas mesmo aí havendo “sentimentos contraditórios”, se nos
continuarmos a deixar levar pelo sistema – a lógica e a razão – como imperativo,
caímos de novo na armadilha…por isso não podemos preocuparmo-nos com essas “contradições”…tudo
o que temos a fazer é começar a sentirmo-nos bem na nossa pele, não nos
preocuparmos com o que os outros pensam repito, não nos preocuparmos. Temos que
nos sentir bem na nossa pele, aceitarmo-nos com somos; por isso sintam-se bem
como são, por favor, porque nós não somos o que os homens quiseram que nós
fossemos, nós não somos esses modelos de virtudes nem de prazer, não somos mães
e esposas ou putas...Nós somos UMA SÓ MULHER. Ter essa consciência, é o segredo
e a base da nossa fronteira. Não temos que provar nada a ninguém nem ser fiel a
nenhum modelo. Só temos que ser fiéis a nós mesmas, ao que sentimos bem no
fundo, confiar na nossa plena intuição. Acreditar e confiar nessa foça indomável
que nos sustenta e apelar para ela…Não vos falo da Deusa, porque já há
simulacros de deusas por todo o lado…Mas Ela está dentro de cada uma de nós e
acorda no momento em que nós unirmos as duas mulheres cindidas pelo patriarcado
em nós. Essa é a Chave e sem ela não vamos a nenhum lado!
A mulher não vai resolver nada no mundo antes de ser senhora
de si mesma…capaz de ficar firme sem medo do julgamento e do que vale ou não vale
por si mesma, perante os outros e o mundo que a desacreditou e anulou ao longo
de milénios e que a transformou numa boneca de trapos ou de silicone....
Espero que me compreendam...porque muitas "deusas" não gostam do meu estilo...preferem rituais e dogmas do passado, preferem viver fórmulas e ritos, a TOMAR CONSCIÊNCIA de si mesmas no presente e dentro da nossa realidade...
Por hora e neste presente tempo que é o nosso não há uma base sólida para nos agarrarmos a nada e
estarmos categoricamente certas...mas há um trabalho interior que implica à partida que a mulher procure
sentir-se e viva, o mais que poder, fora de contexto social, no bom sentido...e basear
a sua vida a partir de dentro dela, sendo ela a sua prórpia força, baseada na sua
consciência. Se continuar a apoiar-se no mundo, na religião, qualquer que seja, na sociedade e na família e
toda a sua história familiar e social poucas hipóteses terá. A luta social em
prol dos outros/as poderá acontecer quando a mulher estiver estruturada em si,
confiante em si, e esse é que é o trabalho que eu proponho. Trabalhar as nossas
bases de ser mulher, unir as duas mulheres em nós, em interioridade, ou até no
silêncio, para vencer essa velha rivalidade entre mulheres...pois é nessa divisão
das mulheres que os homens baseiam a sua supremacia e nos dominam, nos impedem
de ser nós mesmas. Curar essa ferida em nós, mãe e filhas, irmãs…e só em nós, e
depois logo se verá...mas, por experiência própria, eu sei que á medida que fizermos esse trabalho connosco e
nos distanciarmos da velha e atormentada mulher confinada a vontade alheia,
directa ou indirectamente, também mudaremos face aos outros e ao mundo...Mas
sem nos mudarmos a nós…sem essa Consciência não haverá Força para vencer…Continuaremos
esmagadas e forçadas a ceder a pressão dos outros e do mundo e continuaremos a
viver em nome de muitas coisas mas nunca de nós próprias.
O caminho é sempre interior e virado para dentro. É no nosso
coração que temos de manter as reservas de força e amor para darmos a quem como
nós, mulheres e homens porventura, façam o mesmo caminho para sair da luta deste
Sistema que nos aprisiona a uns e outros há milénios. Este é o tempo Mulheres!
rosaleonorpedro
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