Às vezes penso se as mulheres percebem o que as leva ainda a
exacerbar os seus ideias e crenças em vez de viver a realidade a partir de si
mesmas e do que são capazes na prática em vez de se alienarem em projecções
incríveis que nada têm a ver com a sua vida em concreto. Sim as mulheres
preferem ainda idealizar mundos e fundos...para fugir a si mesmas e aos seus
abismos...Quando não vivem para a moda e para o “amor” de um homem que há-de
vir, o príncipe sapo ou o marido ideal, elas preferem, as mais “religiosas”, projectar
ou “canalizar” imaginando mundos maravilhosos e totalmente idealizados com um
senhor no céu…um extraterrestre que as vem salvar…Ou então se são intelectuais…continuam
a acreditar nos filósofos e nos psicólogos que formataram as suas mentes e as
tornam dependentes de um Falo…sem o qual nada são, como diz Lacan…
No que me concerne, talvez porque sou mais velha, escrevo e
falo de acordo com a minha realidade e em geral tento viver com os pés bem
assentes na Terra e olhar em meu redor em vez de especular sobre deuses ou mesmo
a Deusa ou sobre o que quer que seja. Talvez seja por isso que não granjeio muita popularidade e até sou acusada de ser céptica e derrotista...
Pode ser verdade...mas para mim é muito mais importante cada passo dado no chão térreo da nossa vida do que mil passos dados no ar a sonhar...em nome de milagres e deuses/as ou crenças e de outros mundos que não nos servem para nada senão para nos iludir e afastar do nosso caminho pessoal...
Eu me pergunto porque preferem as mulheres toda essa idealização, a fantasia dos mitos e dos seus heróis, a projecção de deuses e anjos, doutros mundos e de coisas fantásticas e inacreditáveis, inverosímeis, que nunca acontecem em vez de acreditarem em si mesmas, em vez de procurarem ser elas mesmas...
Sim eu pergunto porque será assim há centenas de anos, dezenas de anos e elas continuam a acreditar no Pai e no Filho...e renegam a Mãe e a Filha, renegam-se a si mesmas e às outras mulheres, rivalizam entre si, odeiam-se visceralmente, repelem-se umas às outras, e aquelas que lhes dizem as pequenas e insignificantes verdades...Continuam a disputar o macho...a odiarem-se por isso...miseráveis, infelizes, inseguras...fragmentadas…
Sim, eu entendo…porque não gostam de me ler…lembro-me como eu detestava o que a minha mãe me dizia...quando ela me chamava à realidade e me dizia certas verdades a contrabalançar as minhas crenças de adolescente e o meu idealismo de mulher jovem, os meus sonhos e as minhas fantasias sobre o futuro...
Sim, um dia eu havia
de ver com os meus próprios olhos...mas a diferença entre mim e a minha mãe...é
que eu pude ver a Mulher que eu sou em essência e em vez de procurar no homem a
minha felicidade/escravidão como ela ou seguir os padres, os ídolos e os
mestres do passado...e ficar escrava da sexualidade do predador, do medo e do pecado
e viver toda a vida como ela, em luta e conflito em dor e em depressão, presa a
um casamento infeliz (porque uma mulher separada ou divorciada era uma mulher
condenada moralmente e as mais pobres à prostituição...) ou então presa nos
filhos e depois nos netos, sem vida própria sem afecto ou auto-estima, presa ao
ciclo que se repete há milénios. A grande diferença é que eu sou livre e Sei hoje
quem sou...
EU SOU MULHER e não preciso de mais ninguém para Ser... nem
de deuses para me elevar aos céus...eu sou Mulher Terra e barro e alma e
espírito encarnado...eu Sou Eu...e a Vida pulsa em mim em todas as veias e
artérias e o meu coração rejubila na exactidão do que sou...aqui e enquanto
viver na terra não reconheço mais deuses nem poderes que não os da Grande Deusa
e da Grande Mãe...
Quando será que as mulheres caminharão na terra sem
promessas de céu nem de amores ou de prazeres e se focarão em si mesmas como
fonte de um poder que nem sonham ainda qual seja...Um poder que lhes daria a
força e o ânimo – a força da alma - e a certeza de que não estão sós e a Grande
Mãe está com elas...e que enquanto se desconhecerem em essência continuarão
devotas de mestres e guias e a acreditar no Pai que as vai salvar e levar para
um lugar seguro...longe daqui...
A Mãe está na Terra, Ela é a Terra, ela é cada árvore e cada
pássaro e cada formiga...Ela é cada grão de areia, cada lágrima...Ela é cada
mulher que se olha nos olhos e firme sabe que a Mãe é a Vida e a Morte e não
tem que buscar mais do que a si mesma e ser-lhe fiel por dentro e por fora...E
que quando isso acontecer, naturalmente a Paz virá e a Harmonia e o Seu Coração
Supremo reinará sobre o medo e os abismos...e uma Nova Terra nascerá...
rlp
2 comentários:
Tenho filhos e sou muito feliz com estes companheiros, mas sinto exatamente como você e antes de mim, minha mãe.
a nossa história mudará...
rl
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