O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, agosto 03, 2013

DA VERDADE E DA MENTIRA…


 
 
UMA REFLEXÃO SOBRE AS RELAÇÕES "PRÓXIMAS"

Nós não somos seres perfeitos…mas podemos ser verdadeiros…essa é a grande vantagens que temos…em relação a todas as incongruências da vida e a todos os reveses que enfrentamos. Contra uma cultura de medo e alienação. Pela verdade e pela sinceridade, custe o que custar.

As relações humanas tem muitas variantes e níveis...Não podemos equiparar uma relação de amizade com uma relação amorosa, nem uma amizade com uma relação formal de alguém que conhecemos mal...Nem podemos confundir as relações de trabalho com relações pessoais ou mesmo as relações entre um grupo de terapias, com o médico ou com o merceeiro. Pois há em todas essas relações circunstâncias que pedem, digamos, normas de relacionamento adequado e uma descrição ou reserva do indivíduo a nível pessoal de acordo com o que lhe é pedido ou exigido na circunstância. Com um psicanalista é totalmente ao contrário…se não dissermos tudo como os malucos…não há análise possível…Mas como em tudo e no geral é sempre uma questão de bom senso. Não podemos é meter tudo no mesmo saco e dizer que eu sou verdadeira com toda a gente porque isso é impossível e contraproducente. Não podemos dizer que pelo facto de não dizermos ao merceeiro que temos um amante estamos a mentir. E claro há aquela situação caricata ou anedótica de a mulher (a esposa) não poder dizer ou o homem claro que tem uma amante ao fim de uma vida matrimonial longa e…acabada…porque considero o casamento uma quase hipocrisia…e não estou a falar de instituições, mas relações de verdade! Portanto é sempre relativo e aí temos não a mentira mas a omissão da nossa intimidade ou da nossa vida privada – no caso da pessoa estranha - o que é perfeitamente normal e aceite. Portanto não podemos exigir uma transparência, nem uma verdade absoluta de cada pessoa em todas as situações da vida, e esta noção é elementar…depende do nosso discernimento e da nossa consciência.

 Assim, nas situações comuns da vivência em grupo e da vida em sociedade eu não sou obrigada a expor-me de forma alguma e é de bom-tom ser-se reservado e discreto…Portanto a mentira ai não conta nem entra. A não ser, claro, quando o indivíduo faz de conta que é rico ou nobre ou tem uma profissão que não tem etc. Mas não é isso que nos interessa aqui. O que nos interessa aqui é a verdade entre amigos/as e entre amantes…Aí é que a verdade a transparência, a honestidade, a confiança contam porque a relação de VERDADE depende inteiramente desses factores…e é ai que a mentira e a omissão estão e entram para minar a relação porque em qualquer uma dessas relações, embora com diferentes intensidades, depende da verdade de cada um na sua troca e evolução, para ser uma relação saudável e profunda.

É verdade que nas relações, em que os afectos são privilegiados, mais no amor do que na amizade, existe o risco da posse e do ciúme…e aí vem o controlo do outro e a obsessão por vezes na busca de saber tudo da vida do outro e se existe alguém ou alguma sombra de traição etc. Claro que todas nós sofremos em um grau maior ou menor de posse e ciúme…e para mim não depende da auto-estima da pessoa sentir ou não ciúmes, mas da confiança que o outro inspira…das bases de verdade e confiança que se geraram, porque os ciúmes e a posse (dentro dos seus limites) são até poderia dizer, saudável e naturais e diria mesmo até legítimos…numa relação a dois… senão passa a suposta aceitação da liberdade do outro o admitir de outros parceiros que para mim simplesmente passa a promiscuidade…

Não sou dada a relações abertas nem a aceitar 3ªs pessoas numa vida íntima…e nas amizades, embora não haja esse sentido de exclusividade,  nem sempre é fácil ser preterida ou trocada e mesmo traída, porque não sendo tanto como na paixão, em que há partilhas do mais intimo do ser, na amizade , sendo ainda uma  relação de duas pessoas, existe, embora em  muito menor grau, os mesmos ingredientes que no amor…porque afinal é afecto…e os afectos afectam-nos sempre…
É verdade que há pessoas que podem ser mais independentes que outras e não se importarem aparentemente com o que o outro faz ou se anda com outra pessoa etc., mas todas as relações intimas e próximas trazem estes sintomas e nem todos são patológicos a não ser se forem despropositados ou em excesso. Mas considero que é normal haver toda essa mescla de emoções um pouco conturbadas nas relações e não é a mentira nem é a omissão caridosa que ajuda o ciumento e o possessivo a libertar-se, mas sim a transparência e a verdade por mais dura que seja…

Numa relação íntima, se um dos dois se apaixonar por outra pessoa e omita esse facto ao parceiro e queira manter as duas relações isso não é só uma mentira fatal como uma traição enorme e geradora de patologias, porque o outro sente e de algum modo sabe que está a ser traído e se essa verdade lhe é negada em nome da privacidade ou da soberania do indivíduo, entre o intuir e o ter a percepção da mentira isso é uma coisa dolorosa e grave que confunde enormemente o ser quer a nível emocional quer a psicologicamente; o que “trai” mesmo que já não ame a pessoa e tenha pena dela e por isso não a quer enfrentar ou fazê-la sofrer, a meu ver, deve sempre dizer a verdade e deixar o outro fazer o luto e também, caso necessário afastar-se. Tantas vezes queremos fazer do ex-amante um amigo sem deixar fazer a transição, sem dar tempo ao luto! Não se pode transitar de uma relação íntima e profunda para uma simples amizade só porque uma das partes deixou de amar a outra ou encontrou outra paixão… e quer ser só “amigo”… Não. Tem que haver um luto ou um afastamento. Porque justamente a amizade vai depender dessa transparência e por mais dolorosa que seja a verdade, tarde ou cedo haverá entendimento e aceitação…dos factos.
Na amizade já é um bocadinho diferente, mas parecido…menos intenso menos conflituoso mas é parecido às vezes…Há grandes amizades que são amorosas quase…
Mas na amizade não havendo nem a posse nem o ciúme no mesmo grau não só não se justifica a mentira ou a omissão, como é absolutamente essencial a transparência e a verdade e qualquer mentira por mais insignificante que seja mina a relação…porque precisamente não se justifica que exista e não tem razão de ser pois já bastam por vezes as incompreensões provenientes das diferenças entre os seres e os equívocos, que se manifestam mesmo sem mentiras para toldar uma amizade se esta não for verdadeira. Essas amizades só singram por um enorme esforço de verdade e confiança mútua sem a qual não se pode consolidar esses laços de amizades duráveis entre as pessoas. As vezes e por esse esforço mesmo duram a vida toda.

Portanto Verdades e Mentiras…são fáceis de destrinçar…saber onde são necessárias e onde e como as apanhar…digo eu…porque só no campo muito íntimo das amizades profundas e das relações amorosas elas por vezes são paradoxalmente necessárias quando não se tem a honestidade nem a coragem de enfrentar as situações e as suas alterações que os afectos sofrem. E nada é fácil na verdade…nem na mentira…tanto uma como outra podem trazer sofrimento, mas a verdade cura e mentira mata… a verdade constrói sempre e a mentira destrói mais tarde ou mais cedo…

 rleonorpedro

1 comentário:

Ná M. disse...

" O masculino ferido, em geral excessivamente mimado e profundamente frustrado, procura o seu êxtase perdido em lugares errados - na violência, no poder, no materialismo e na busca hedonista do prazer - sem entender que ele só pode ser encontrado na relação com o feminino.
"Uma das realidades mais tristes de nossa cultura é o fato de o predomínio do masculino ferido ter levado ao esgotamento emocional. Nas situações em que o feminino não é valorizado, um homem não tem verdadeira intimidade com sua contraparte, sua "outra metade". Com frequência, ele não consegue canalizar suas energias para uma relação amorosa, uma vez que sua parceira não é considerada digna e respeitável. Privado de seu oposto igual, o frustrado macho provoca uma combustão. " Onde o Sol sempre brilha há um deserto sob a Terra". As florestas morrem, os rios secam, a terra se fende. A devastação prevalece".
Margaret Starbird em Maria Madalena e o Santo Graal - capítulo O Deserto Florescerá"