A CONSCIÊNCIA DE SI COMO MULHER
Sabemos todas nós mulheres, que
cada uma de nós está numa fase da sua vida e que isso corresponde a um idade; sabemos que cada um de nós, na melhor das hipóteses e neste âmbito, está a fazer o trabalho que deve
fazer consigo mesma. Nenhuma de nós pode julgar uma idade ou uma fase da vida da mulher através de um processo ou julgar uma mulher
melhor do que a outra através da sua própria experiência e menos ainda ajudar ou empurrar a outra para outra fase que não é
a sua, para uma experiência que ela ainda não fez…ou fazer o trabalho da outra ou ainda condicionar
e modelar a outra mulher, seja através de ideias seja através de que processo for.
Isto porque o caminho da mulher não tem nada a ver com uma mentalização
nem com nenhum conhecimento teórico, nem com a leitura de livros, embora também
reconheça o mérito em se ir sabendo um pouco de tudo o que se poder, e nos
acrescenta, mas não fazer do conhecimento teórico um sucedâneo de realização
pessoal nem de experiência vivida. Por esta razão, não sendo contra nenhum
método ou tentativa de evolução ou mudança na vida de uma mulher, a partir de
um qualquer processo, terapia ou iniciação, não defendo felizmente nenhum método que passe por qualquer tipo de mentalização, nem uso fórmulas, nem
mantras, nem técnicas...
Quando muito em relação às mulheres acredito nos Círculos…no
contar das suas experiências, na elevação da sua consciência a partir de
dentro, do útero e dos ovários, ao seu próprio ritmo e ao bater do seu coração…
Acredito no saber que
brota de dentro da Mulher integral.
Quando a mulher se toca no âmago, ela toca a sua própria
fonte...
Para mim ela não precisa de caminhos espirituais...Ela é ESPIRITUAL.
Essa é a Mística da
Mulher. Esse foi o segredo que se perdeu. Esse foi o mistério que o Homem e o
seu Deus lhe roubaram. Isso é que é preciso acordar nela. E embora para algumas
mulheres esses processos espirituais possam ser paralelos, uteis e até
necessários, também podem fazer atrasar essa consciência de si em si mesmas e
atribuí-la aos outros ou aos métodos…ou mesmo fazer com que se afastem de si próprias
enquanto mulheres. Esse é o perigo. Por isso o que eu falo e defendo é de um
processo de consciencialização interior lento e preciso, interior e subjectivo,
diria – que tem muito mais a ver com o plano psicológico e intimista – o acordar
desse poder da mulher em si, o escutar-se e o ouvir-se a si mesma e independente de tudo o que aprendeu; e isto é
completamente diferente de qualquer crença, fé, ou do apreender ideias, teorias
meditações ou ter metas fora de si...
Eu não tenho ou proponho
nenhum método! Nem metas a atingir. Mas alego e defendo uma Consciência precisa
dentro da mulher a despertar por si. Uma consciência inerente ao ser mulher, a
todas as mulheres, e a que toda a mulher tem acesso NATURALMENTE quando se
começa a consciencializar da sua divisão interna, da sua cisão psíquica e
começa então a perceber as causas das suas limitações e conflitos consigo mesmas e com
as outras mulheres. Aí sim há um fundamento ancestral compreensível que explica a mulher dividida em
dois lados da sua humanidade, antagónicos, sempre elegendo um em detrimento do
outro.
Deste modo, para mim
cada tomada de consciência nesse particular - e não há mesmo como confundir
consciência com teoria de tudo ou de nada - cada experiência integrada, cada
pequena coisa que nos clarifica da nossa divisão interior e das causas de toda
a problemática da Mulher - não como ser humano diria a par do homem, mas muito
particularmente no que diz respeito à sua psique e ao seu foro íntimo como
mulher nesta sociedade - a mulher condicionada desde que nasce a uma
determinada mentalidade patrista -, que a diminui e a coíbe de ser e expressar
a sua natureza profunda, que a impede de se ouvir, e toda uma influência nefasta
sobre o seu ser, que a marca e inferioriza; fazer isso já é um passo enorme e faz toda a
diferença, pois há um abrir de dentro,
já é um acontecer real e isso é tão válido como o que possa parecer chegar à
grande sabedoria da mulher integrada, porque essa Sabedoria na mulher é inata.
Lamentavelmente as
mulheres continuam a confundir as teorias e as ideias e os métodos com uma CONSCIÊNCIA.
Continuam apenas a confundir pensar e achar que o "saber" de cor (não de
coração, isso é realmente outra coisa) as leva a algum lado; e eu digo que o pensar algo muito
bonito e muito positivo como se isso mudasse alguma coisa de fundo, não muda
nada. A meu ver não muda mesmo nada, senão o próprio pensar. Porque em geral todos os
métodos têm muito de especulação ou são pura mentalização e neste caso muda-se do pensamento
negativo para o dito positivo; podem até ser e serão balsâmicos, aparentemente
transformadores a curto prazo, mas mais tarde ou mais cedo SEM A CONSCIÊNCIA
PROFUNDA, integrada, não há evolução nem transformação. Por isso tantas vezes
mulheres que parecem ser uma coisa e andam de mãos dadas com as outras a apregoar mundos e fundos, de repente viram-se
umas contra as outras e odeiam-se de morte…tornam-se “casos de polícia”…lamento
a ironia, mas é literal…Uma mulher ferida é sempre um drama senão um perigo iminente no círculo…
A Consciência de si
como mulher de que falo não tem nada a ver com a consciência dita do
"si mesmo" - junguiano -, mas trata-se de uma outra consciência inerente só à
mulher e essa conSciência é o que está aqui em relevo. Porque essa Consciência
em si mesma ela é já activa e transformadora de
dentro para fora; não é uma mera mentalização através do pensamento positivo ou
negativo...tal como: "achas que és feia agora pensa que és bonita...e já
não precisas de fazer uma plástica"...não. Quando uma mulher se
consciencializa de si mesma e acorda para essa consciência adormecida nos
séculos pode ver e entender que a origem de quase todos os seus dramas tem a
ver com a divisão das mulheres em duas, pode ver que no fundo é quase sempre
essa a origem dos seus conflitos, a sua ferida com a mãe ou com a irmã, então ela
pode começar já e a partir daí a integrar a verdadeira mulher, porque a outra
já não é uma “outra” fora de si, mas ela mesma.
Eu falo da mulher tocar o seu âmago. Tocar essa Essência que
é o seu centro. O seu Útero. Nele está a chave do seu poder interno. A mulher não tem de aprender
nem forçar-se a ser "objecto de prazer "ou de "procriação", "barriga de aluguer" como a mulher moderna faz nem a ser executiva e lutar com os homens por um lugar de chefia, nem forçar-se a ser o
que os homens e a sociedade querem ainda que ela seja. E se as suas raízes e estiverem
ligadas ao seu Útero e a Gaia, Ela nunca
mais poderá ser soldado, polícia ou ir à Guerra…ou deixar os seus filhos passar
fome… porque a Mulher é a Terra…e ela é abundante. Porque é dela que nasce o amor e a paz e a
dádiva.
Ela é a Deusa em Si mesma. É aí que eu quero chegar!
rlp
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