O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, março 30, 2014

VENDEMOS A ALMA AO DIABO...

 
PARTOS
 
"Não há nenhuma cena de parto. Agora há tecnologia. Máquinas. Homens. Tempos programados. Drogas. Punções. Ataduras. Tortura. Silêncio. Ameaças. Resultados. Olhares invasivos..."

 "Nós mulheres ficamos vários séculos de história mergulhadas na repressão sexual. Isto significa que temos considerado o corpo como baixo e lascivo, os impulsos sexuais malignos e todas as sensações corpo...rais, indesejáveis. Quando é que aprendemos que não há lugar para o corpo no prazer? No exato momento do nascimento. Segundos após o parto já desejamos ser tocados. Perdemos o contato que era contínuo no paraíso uterino. Nascemos de mães reprimidas por gerações e gerações de mulheres ainda mais reprimidas, rígidas, congeladas, dura, paralizadas e temerosas em tocar. Então o instinto maternal se deteriora, se perde, se torna turvo.

Neste contexto, as mulheres com mais de séculos de patriarcado, longe de nossa harmonia interior, não querem parir. É lógico, porque os nossos úteros estão duros. Nosso ventre está acorrentado e nossos braços nos defendem. Não temos sido abraçadas e embaladas por nossas mães, porque têm elas não sido cunhado pelos nossos avós e tantas gerações de mulheres perderam qualquer vestígio de suavidade feminina. Por isso que, quando chega o momento de parir, dói o corpo todo por inflexibilidade, subjugação, a falta de ritmo e toque. Odiamos desde os tempos remotos nosso corpo que sangra, muda, ovula, que se mancha e é incontrolável.
É importante notar que, além da subjugação e repressão sexual histórica, as mulheres dão à luz em cativeiro. Durante um século, as mulheres entraram no mercado de trabalho, universidades e todos os circuitos ..e temos cedido o último bastão de poder feminino: o parto. Uma vez que temos pouco ou nenhum canto da antiga sabedoria das mulheres. Acabou-se. Não há nenhuma cena de parto. Agora há tecnologia. Máquinas. Homens. Tempos programados. Drogas. Punções. Ataduras. Tortura. Silêncio. Ameaças. Resultados. Olhares invasivos. E medo, é claro. Reaparece o medo no único refúgio que durante séculos ficou restringido aos homens. Acontece que temos abandonado a caverna. Ter entregue os partos foi como vender à alma feminina ao diabo. Agora cabe às mulheres fazerem algo sobre isso, se quisermos recuperar o prazer do orgasmo dos nascimentos e poder assumir que podemos implantar, na medida em que os partos voltarem para nós."

Laura Gutman

3 comentários:

www.pedradosertao.blogspot.com disse...

Essa reflexão precisa ser feita por muita gente...penso que pelas futuras mães, pelos médicos que também planejam articulam os partos e não deixam mais a natureza agir!

Abraço do Pedra

www.pedradosertao.blogspot.com.br

Anónimo disse...

Adorei !! Agenor

rosaleonor disse...

Obrigada meus amigos...para mim é muito importante a vossa participação..

um abraço grande

rlp