“Eros que personifica o amor divino, apaixonou-se por Psique, que representa a alma humana. Levou-a para um palácio encantado, onde a visita todas as noites. Todavia, é-lhes colocado um interdito: ela nunca deve ver o rosto dele (*). As irmãs de Psique murmuram-lhe que, se assim é, dever-se-á certamente ao facto de Eros ser um monstro. E esta dúvida insinua-se em Psique, a qual não aguentando mais, acende uma lâmpada de azeite para poder confirmar, por si mesma, a beleza do seu amante. Mas no instante em que ela o descobre maravilhosamente belo, uma gota de azeite cai da lâmpada e acorda-o imediatamente. Eros e o palácio desaparecem. E Psique fica sujeita ao poder da ciumenta Afrodite, que a leva consigo para os Infernos.
Apesar de tudo, a história terá um fim feliz: Eros conseguirá recuperar Psique, mas “com o favor do sono”, e Psique permanecerá para sempre unida ao amor divino.
O que surge duas vezes sublinhado nesta história – através do interdito de ver o rosto, e depois pelo sono que permite os reencontros – é a necessária aceitação no outro de uma identidade que lhe é própria, de uma radical alteridade.
…
Pelo contrário, os Infernos simbolizam um universo no qual o outro não tem direito de ser outro: qualquer alteridade, qualquer diferença não fazem senão atiçar o fogo da inveja; Afrodite, tal como a serpente, reúnem assim toda a sua energia com o fim de nivelarem e reduzirem no exterior delas tudo aquilo, que, não se lhes assemelhando, ataca a sua identidade.
Nicole Jeammet O Ódio Necessário Editorial Estampa
(*) Não ver o rosto é também não possuir o outro... em que cada um pode ser ele próprio, no segredo do seu próprio coração.
1 comentário:
Eu adorooo essa história...remete-nos tb a do Barba azul, não? lindo,lindo...
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