“O que é uma relação de amizade e uma relação amorosa? Há pessoas que têm dificuldade em distinguir isto.”
António Coimbra de Matos* (psicanalista)
"Fala-se de se ser capaz, ou não, em discriminar, entre a diversidade de emoções que envolvem uma relação de amizade, das nuances que envolvem uma relação amorosa.
A importância de se ser específico: naquela relação, sentimos raiva, ou vergonha? Ou raiva, porque na realidade, sentimos culpa?
Para melhor compreendermos de que estamos a falar, há dias perguntava a alguém “Estás triste?”, ao que ela me respondeu: “Não. Estou desiludida comigo”, e acrescentou: “Porque sei que podia ter feito melhor.”
É revolucionário o quanto esta complexidade em distinguir os sentimentos e as significações pessoais, poderão ajudar-nos a lidar com os problemas e a melhorar a vida. É um tipo de inteligência emocional.
Revolucionário, também o conceito, se tivermos em conta que todos nós evoluímos desde bebés, de uma sensibilidade grosseira para uma sensibilidade descriminada, na vida adulta - processo de diferenciação emocional -, e que nem todos lá chegamos, àquele estado de exatidão na distinção dos sentimentos.
Continuando, não deixei de me surpreender com Coimbra de Matos, naquela conferência, com o exemplo que escolheu para ilustrar as dificuldades no dito processo: um homem heterossexual que só mantinha relações de amizade e de intimidade emocional, com homens, e com as mulheres, relações desprovidas de convívio e intimidade, mas reservando para elas, a componente sexual, e a sua vontade, não conseguida, de alterar esta condição. Podemos catalogá-lo como um individuo cindido, fragmentado, ou à luz da diferenciação emocional, um individuo que apresenta fixidez - sensibilidade grosseira - e que (ainda) não evoluiu para um estado homogéneo, maturo, socialmente mais ajustado e desenvolvido cognitivamente e emocionalmente - sensibilidade discriminada."
A EVOLUÇÃO nas palavras de Coimbra de Matos:
“Nos primeiros tempos de vida extra-uterina o bebé vive um estado de indiferenciação anímica - uma sensibilidade geral de tipo protopática (grosseira, difusa, sincrética, não discriminativa), desenvolvendo-se na sequência, e a pouco e pouco, para a sensibilidade diacrítica (descriminada, ou seja, consciente das diferentes subtilezas das emoções e sentimentos).”
*Psicanalista, na conferência “Promoção da Saúde Mental na Criança”, organizada pela CPCJ, que decorreu no Funchal no passado dia 27.6.2014
in INCALCULÁVEL IMPERFEIÇÃO
2 comentários:
olá Rosa Leonor.
Alegra-me que esta abordagem lhe faça sentido. Eu desde há muito que vou-me interessando sobre as questões do desenvolvimento...e neste âmbito, achei super interessante o exemplo dado por Coimbra de Matos.
Fique bem
Olá Cristina...
Sim, o texto pareceu-me muito interessante e as suas observações, mas a minha ideia era justamente dizer-lhe se depois de eu escrever um pequeno texto que vou publicar sobre o período que eu sublinhei no seu texto a vermelho se a Cristina quereria então depois comentar, dando-me o seu parecer...(eu comentar no seu blog nem sempre é fácil...o sistema não aceita, mas continuo assídua leitora...)
obrigada
rlp
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