O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, agosto 07, 2014

...emoção e atracção sexual...?



O que é uma relação de amizade e uma relação amorosa? Há pessoas que têm dificuldade em distinguir isto.”

António Coimbra de Matos* (psicanalista)

"Fala-se de se ser capaz, ou não, em discriminar, entre a diversidade de emoções que envolvem uma relação de amizade, das nuances que envolvem uma relação amorosa.
A importância de se ser específico: naquela relação, sentimos raiva, ou vergonha? Ou raiva, porque na realidade, sentimos culpa? 
Para melhor compreendermos de que estamos a falar, há dias perguntava a alguém “Estás triste?”, ao que ela me respondeu: “Não. Estou desiludida comigo”, e acrescentou: “Porque sei que podia ter feito melhor.” 
É revolucionário o quanto esta complexidade em distinguir os sentimentos e as significações pessoais, poderão ajudar-nos a lidar com os problemas e a melhorar a vida. É um tipo de inteligência emocional. 
Revolucionário, também o conceito, se tivermos em conta que todos nós evoluímos desde bebés, de uma sensibilidade grosseira para uma sensibilidade descriminada, na vida adulta - processo de diferenciação emocional -, e que nem todos lá chegamos, àquele estado de exatidão na distinção dos sentimentos.
Continuando, não deixei de me surpreender com Coimbra de Matos,  naquela conferência, com o exemplo que escolheu para ilustrar as dificuldades no dito processo: um homem heterossexual que só mantinha relações de amizade e de intimidade emocional, com homens, e com as mulheres, relações desprovidas de convívio e intimidade, mas reservando para elas, a componente sexual, e a sua vontade, não conseguida, de alterar esta condição. Podemos catalogá-lo como um individuo cindido, fragmentado, ou à luz da diferenciação emocional, um individuo que apresenta fixidez - sensibilidade grosseira - e que (ainda) não evoluiu para um estado homogéneo, maturo, socialmente mais ajustado e desenvolvido cognitivamente e emocionalmente - sensibilidade discriminada."   

A EVOLUÇÃO nas palavras de Coimbra de Matos:
 
 “Nos primeiros tempos de vida extra-uterina o bebé vive um estado de indiferenciação anímica - uma sensibilidade geral de tipo protopática (grosseira, difusa, sincrética, não discriminativa), desenvolvendo-se na sequência, e a pouco e pouco, para a sensibilidade diacrítica (descriminada, ou seja, consciente das diferentes subtilezas das emoções e sentimentos).”

*Psicanalista, na conferência “Promoção da Saúde Mental na Criança”, organizada pela CPCJ, que decorreu no Funchal no passado dia 27.6.2014

 in INCALCULÁVEL IMPERFEIÇÃO

2 comentários:

cristina simões disse...

olá Rosa Leonor.
Alegra-me que esta abordagem lhe faça sentido. Eu desde há muito que vou-me interessando sobre as questões do desenvolvimento...e neste âmbito, achei super interessante o exemplo dado por Coimbra de Matos.
Fique bem

rosaleonor disse...

Olá Cristina...
Sim, o texto pareceu-me muito interessante e as suas observações, mas a minha ideia era justamente dizer-lhe se depois de eu escrever um pequeno texto que vou publicar sobre o período que eu sublinhei no seu texto a vermelho se a Cristina quereria então depois comentar, dando-me o seu parecer...(eu comentar no seu blog nem sempre é fácil...o sistema não aceita, mas continuo assídua leitora...)
obrigada
rlp