Kathy Jones é uma Mulher de Poder.
Vi-a como tal. Tal como ela se afirmou no início da sua apresentação. E deu para SENTIR. Alta, nobre, de pé, afirmou-o sem reticências. Ela é uma mulher empoderada. Pela Deusa...E testemunhou isso no seu percurso, no desafio de lançar e abrir de novo o Caminho para Avalon e os seus mistérios. Mistérios esses que para mim são inerentes ao SER MULHER e que qualquer mulher consciente de si, pode ser empoderada pela Deusa Mãe, assim que atinja um certo nível de entrega e isenção egoica e sem correr mais o risco da tentação do poder material em troca...
O ambiente e o Espaço foi sem dúvida energizado pela sua presença e pela evocação da Deusa, e ainda pela nomeação de Cale, a Deusa que representa a Ibérica na nossa tradição celta...segundo a pesquisa e o estudo feito pela Luiza Frazão, também sacerdotisa da Deusa em Avalon..
Hoje posso dizer que me sinto mais enriquecida...pela experiência de sentir uma Mulher que fez um percurso importante e conseguiu reunir mulheres de todo o mundo a sua volta. Ela é, além de uma pioneira no seu tempo, uma mulher de acção empenhada em tornar o culto da Deusa Mãe uma realidade neste nosso tempo pela sua coragem de se devotar inteiramente a essa causa e construir o Templo da Deusa em Glastonbury, seguindo a Voz da Deusa que se manifestou para si em momentos que lhe deram o impulso não só para escrita, como para a acção.
A diferença entre Kathy Jones e a grande maioria das mulheres da nossa geração pelo menos aqui em Portugal é a de que por cá não foi possível ainda re-construir nem fazer nada a não ser no plano intelectual, muito isoladamente. Essa acção, e essa possibilidade devo dizer, não me foi concedida a mim...e ainda hoje procuro um lugar e um Espaço onde possa tornar real esse sonho de mais de 30 anos...Uma pequena comunidade de mulheres dedicadas à Deusa e à realização do seu Ser mulher - não apenas viradas para o passado por mais belo que seja, nem evocativo, mas para a realidade dos nossos dias e dentro dos nossos contextos pessoais para um encontro efectivo com a Deusa dentro de si mesmas. Um lugar onde a mulher pudesse fazer esse trabalho consciente e deliberado de integrar AS DUAS MULHERES CONDIDAS...
Considero-me igualmente uma pioneira deste tempo no caminho da Deusa, mas apenas pelo domínio exclusivo da palavra e da poesia, da experiência numinosa com a Deusa e com as mulheres ao vivo, porque quanto à realidade prática, fiquei anos a fio só e sem eco nenhum, sobretudo em Portugal. Sempre me valeram as irmãs brasileiras... antes das irmãs portuguesas acordarem, como é o caso agora da parte das mulheres mais jovens...
Felizmente que alguma coisa já está a mexer e a acontecer em Portugal e tive a grata satisfação - a bênção e a recompensa de ver e encontrar muitas mulheres jovens e de entre as quais algumas vieram ter comigo, abraçar-me e dizerem que estavam ali porque descobriram a Deusa através do meu livro e do meu Blogue e que eu as tinha impulsionada nessa busca. Isso deixa-me sem dúvida muito grata à vida por assim ser.
No lugar do Fauno, em Sintra, espaço onde a Palestra aconteceu, estavam cerca de 30 a 40 mulheres... das quais uma boa parte se reuniria ontem e hoje num encontro de fim de semana na Praia das Maçãs. Acredito que seja muito produtivo e enriquecedor para as mulheres que tenham estado presentes. Disso não tenho quaisquer dúvidas. Contudo há uma coisa que sempre digo e penso e sinto falta nestes encontros...- faltou e falta ainda perceber que chegar à Deusa sem fazer o trabalho da união das duas mulheres cindidas, as mulheres vítimas do patriarcado e directamente associadas ao cristianismo, à divisão ancestral das duas mulheres baseada na cisão da santa e da prostituta, da Virgem imaculada e da pecadora Maria Madalena, e este é o foco do meu trabalho, cisão essa fomentada na obediência e na falsa humildade ao patriarcado e ao clero, e na negação da sua identidade como mulheres, etc. ao longo de séculos que dificilmente o trabalho feito em muitos sentidos, como pesquisa e história passada e oculta, muita informação, muita dedicação, pode não ser suficiente. A questão vital para mim é, o amor, e se o AMOR das mulheres e entre mulheres - como eu digo sempre - não for uma realidade...não há amor da Deusa que nos valha, porque o amor da Deusa manifesta-se em nós e através de nós, nos nossos olhos e nos nossos gestos, nas nossas palavras, pela união já que nem todas temos a graça de sermos abençoadas pela aparição da Deusa ou a visão da sua invisível Presença...
Isto não quer dizer que eu não tenha sentido o amor da Deusa nessas mulheres, bem pelo contrário. Há muito amor na dedicação, e no trabalho dessas mulheres, e pude senti-lo, embora a minha ênfase recaia sempre sobre o trabalho interior da mulher ao nível psicológico e dessa cisão interior na mulher.
Portanto minhas amigas, a minha mensagem é e continuará a ser que se o trabalho ao nível da Psique e o trabalho de consciencialização do processo de integração das duas mulheres em nós, não for feito e enquanto as mulheres continuarem cindidas, tudo o que possa acontecer na sua expressão máxima não será colmatado por não haver esse espelho de Amor da Deusa nos nossos olhos da alma, mas apenas lindas palavras e ideias e cultos e tudo o que de mais extraordinário se possa tornar realidade como culto e prestação de honras a grande Deusa Mãe e a à terra.
Mas não esqueçam, o AMOR DA DEUSA começa em nós... no entanto, enquanto virmos na outra mulher a rival, a inimiga, a que julga ou a que condena...NÃO HÁ CAMINHO DA DEUSA. E esta é a minha posição e o que definitivamente marca o meu caminho ...e por mais solitário que seja e inglório, é este que me foi dado...e de qual não me desviarei.
Lilith está aminha espera...e isso não será fácil...
Ela é a Mulher do futuro...não apenas uma devota da Grande Mãe, mas o potencial de cada mulher per se, o de cada mulher a ser empoderada pelo amor da Deusa a partir do magna de fogo da terra, o grande Sol central...e da sua base, e não apenas a Lua reflectora do Sol ou da Natureza ...e tal como me dizia uma amiga há pouco, creio que a mulher tem em si mesma o masculino integrado, e por isso não lhe falta nada como complemento. Falta-lhe sim integrar o feminino sagrado, que passa pela integração das duas mulheres. Portanto o que eu digo é que para sermos inteiras não precisamos de buscar a complementaridade com o homem para a realização do nosso ser integral. A união com o homem é um acréscimo ou uma escolha amorosa da mulher mas não uma condição para a mulher SER em si MULHER.
rlp
2 comentários:
Rosa, qualquer dia ou em outra vida, precisamos conversar.
Nem que seja em outra realidade, se possível for ainda coma personalidade e o conhecimento dessa encarnação, precisamos conversar.
Um Abraço.
Também gostaria muito e quem sabe não vai acontecer mesmo, de uma maneira ou outra...
um abraço grande
rl
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