- Esta rapariga é maluca!
Sem medir o excesso daquilo que dizia e do demasiado que adivinhava, Cassandra era uma menina esquivosa, com a lividez das velas dos altares, de quem as pessoas se afastavam, supersticiosas, temendo que tamanha afoiteza a pudesse levar a devassar-lhes o olhar maldoso, encontrando no lodo desse fundo os muitos pensamentos de inveja e traição, de ódio e sordidez que escondiam nas mentes e nos corações mirrados, sempre temendo que Cassandra, ao desco...bri-los, os tornasse visíveis diante de todos.
- Ela consegue adivinhar o que nos vai na alma - preveniam-se uns aos outros, temendo-a; embora sem jamais confessarem com clareza o medo que sentiam dos seus poderes divinatórios. E menos ainda dos seus poderes proféticos, que constava ela possuir no devassar do passado e no desvendar do futuro; embora admitissem a possibilidade de Cassandra poder escutar-lhes as falhas, as faltas culposas, pela calada da noite.
Então tentavam desacreditá-la, afirmando no disfarce da raiva:
- Esta rapariga é maluca!
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Maria Teresa Horta / Meninas
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Maria Teresa Horta / Meninas
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