O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, dezembro 04, 2014

A PROPÓSITO DA CRESCENTE VIOLÊNCIA SOBRE AS MULHERES


As traições dos homens...e a violência implícita.

Será que existe tal coisa ou isso é só e apenas uma das consequência das relações de dependência que a mulher tem e aceita do homem? A mulher quando casa, desde há muitas gerações e a começar pela minha avó e a minha mãe NUNCA mudaram e sejam o que forem os homens de hoje, modernos, cultos, evoluídos, espirituais ou mesmo  femininos, muito compreensivos...etc., nunca deixam de ser homens a não ser que virem gays, mas mesmo assim serão sempre homens, serão sempre hemisfério masculino a funcionar e a rebaixar a mulher, a tutelar a mulher,  a prender a mulher a controlar a mulher e por fim até a imitar a mulher, a querer ser mulher e a suprimir a mulher como género e por último até como mãe... esta é uma formatação milenar do homem na sua forma de ser e de pensar, e esta é a única forma da relação homem-mulher. Ela nunca mudou. Não há outro modelo e eu vou-vos dizer porquê...
 


Um homem que casa ou se apaixona por uma mulher tem todas as garantias à partida e todas as leis, história, arte, música e cultura, até publicidade a seu favor: a favor dessa forma de pensar, que diga-se o que disser, nunca mudou ao longo dos anos e só meramente na aparência e de forma muito, muito, mas muito superficial por vezes podemos ficar com um ideia diferente de um homem...e dizermos... Ah! Este homem é diferente. Mas não é. Porque essa não é a natureza das coisas. Aquilo que está lá no fundo, que é o exemplo dos pais e irmãos e até das mães e a de todos os machos da família, incluindo os amigo e amigos dos amigos, lhe deram explícita ou implicitamente desde criança. O homem domina e a mulher submete-se. Mesmo que a mãe tenha mandado lá em casa  porque o pai era fraco…ele fará justiça a esse pai…Um homem nunca larga as suas benesses nem o património que lhe foi legado…
Agora queremos saber que mulher é essa face a este homem.
E aqui temos então de olhar para a Mulher porque aquele é Sempre o Homem...E nem o teu filho nem o teu pai será ou foi diferente...

PORQUÊ, sim PORQUÊ?

PORQUE A TRAIÇÃO E A VIOLÊNCIA SOBRE A MULHER NÃO É TRAIÇÃO MAS APENAS UMA SEQUÊNCIA DE FACTOS, de realidades incontornáveis e viciadas que as pessoas gostam de ignorar e branquear...e no fundo é nelas que reside o germe da violência contra a mulher, essa prepotência e posse do homem sobre a mulher QUE GERA E ACABA EM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA QUASE SEMPRE...quando não mesmo no assassínio de mulheres.

Vamos então ver as coisas como elas são e não como as sonhamos, idealizamos ou pensamos que são. Porque nós queremos que o homem e o pai e o irmão sejam outra coisa, que sejam fraternos e amigos, mas a verdade é que o homem só se serve da mulher e dela abusa , quando não da filha e não quer sequer saber dos filhos quando se separa da Mãe...

Mas a  mulher, QUEM É A MULHER, em relação a esse homem no mundo, que mulher é a mulher sujeita como o homem às mesmas circunstâncias sociais e políticas, sim, de um aldo sujeita como o homem às mesmas influências sócias económicas e outras, sem dúvida, mas afinal de contas…todas elas viradas contra si pois ela é sempre a “vítima”, ela é o sujeito-objecto de utilização em causa…o suporte escravo deste sistema, desse machismo milenar, dessa prepotência masculina; a escrava do lar, a esposa fiel, a mãe dedicada, a fiel e submissa tantas vezes violada em casa em nome de um dever a cumprir…senhora de nada…porque pouco ou nada sobra para ela. Mas a mulher habituou-se, sujeitou-se e rendeu-se há muito a todas essas circunstâncias. Ela nem percebe como está subjugada. Pois esta é a parte que lhe cabe no jogo/jugo social e psicológico da história da família e do mundo. Uma mulher explorada e violentada. Uma mulher passiva, submetida, entregue, que sacrificou a sua vida e o seu curso e fosse o que fosse que ainda podia ter, liberdade aparente porque o papá era liberal…ou distraído ou indiferente...para ter o Homem da sua vida...



Uma mulher que é forçada a abdicar da sua vida e individualidade para cumprir uma função social/sexual...

Portanto é esta mulher cativa e humilde que aceita tudo o que homem lhe impõe a que corresponde pois a esse homem-social, a esse perfil psicológico arcaico….arcaico? Não actual…
Mas eu ainda não disse porque o homem afinal trai essa mulher que se dá e entrega sem mais, que dá tudo e se renuncia a si mesma…

Não. E não adivinham?

Pois então lá vai…a razão da traição do homem a esta mulher submissa e passiva que ele domesticou… é que este homem afinal que quer a mulher em casa e fechada, fiel, ele precisa das duas mulheres. Ele precisa da santa e da puta…ele não se contenta com uma metade mulher…e ele quer assim…uma metade em casa fiel e  a outra metade que lhe falta na “outra”…na eterna rival da santa…na rua no bordel ou no bar ou seja uma colega emancipada e moderna,  mais livre que a sua tão querida e requintada esposa…

Ora aqui temos a questão fundamental da traição…nenhum homem pode prescindir da MULHER INTEIRA, uma puta a cama e uma senhora a mesa...mas como ele a dividiu há séculos…tem de ter as duas ou talvez três ou quatro, depende do garanhão ou do simulacro impotente do dom Juan que não é capaz obviamente de amar nenhuma…e quase sempre odeia a mulher e a mãe.

 Mas voltemos a Mulher…


Porque a mulher está cindida em duas, entre a Santa Maria e a M. Madalena, a prostituta arrependida, (assim reza a bíblia) fragmentada em faces de Eva…ou já antes com os romanos e gregos a mistura, as faces da deusa em Héstia ou aquela…nunca sendo completa, tantas faces como a Lua tem a Mulher – mais uma desculpa para nunca ser inteira – e assim o coitado do homem é óbvio que ele precisa mais de uma mulher: precisa da mulher casta e da fatal…da mulher sexual, da Afrodite se a sua mulherzinha é uma tímida Perséfone, raptada por Hades…ou uma Atena envolvida no seu sucesso profissional que não tem tempo para ser uma senhora…na cama…

E aí está o quadro…a mulher dividida e fragmentada que não sabe de si que não se encontra nem se busca senão em função do homem do par e do amante ou mesmo do filho, essa mulher não é uma mulher inteira.

É ESSA MULHER PORTANTO QUE ESTÁ SUJEITA A TODAS AS TRAIÇÕES…E SABEM PORQUÊ?

Porque a sua maior traição é a si mesma, à sua essência…porque ela não se encontra como MULHER em si, e não é senão um ser dividido e repartido em duas, e em todas as situações da vida, em vez de se encontrar a si mesma, como ser individual, ela não faz mais do que se precipitar na busca do par, do homem, de forma a preenche esse vazio que é a falta de uma parte integrante de si mesma, a falta da sua outra mulher que ela odeia na outra…e que é a sua rival, mas não passa de um espelho…Porque assim foi educada para servir o homem…esvaziando-se de si…

Por tudo isto É tempo, mais que não seja ainda pelo amor do homem, sim, e já nem falo do seu amor por si, do respeito por si própria, que não tem nem nunca teve, que se reveja então em qual é neste caso o inconveniente de não ser ela própria inteira também; que veja como o não ser inteira ela mesma, reunindo em si essas “duas” mulheres, (e não é na cuequinha vermelha que está a integração de Vénus, nem na camisinha… de noite…), integradas a sua natureza instintiva e sexual e a maternal afectiva, a prejudica; que veja como a continuar essa divisão de si lhe trás esse prejuízo em relação ao homem… que afinal tem sido e é o centro do seu interesse na vida. Sim, mais que não seja por isso…

E quando a mulher se virar para si mesma, para dentro de si e verificar que o que lhe falta é uma parte de si, que é a ela mesma que ela procura no homem e que portanto não é no par que encontra a felicidade, mas sim que o que lhe falta de facto é uma parte dela própria, então talvez um dia ela conheça e possa formar ou educar um homem que não a traia…e lhe seja fiel para sempre como ela o é a SI MESMA!


rosaleonorpedro

(republicando)

1 comentário:

Ná M. disse...
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