O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, fevereiro 21, 2024

AS MULHERES PATRIARCAIS...

 


As Mulheres Também Podem Ser Patriarcais

O patriarcado também penetra na psique das mulheres, condicionando muitas  de nós a concordar e incorporar valores patriarcais.

Assim como um homem não é automaticamente patriarcal em virtude de ser um homem, uma mulher, em virtude de ser uma mulher, não está impedida de ser patriarcal.

Como uma mulher branca que foi criada em uma sociedade patriarcal, sei muito bem como posso ficar atordoada com meu condicionamento. Eu sei o quão facilmente muitas de nós podemos ficar impressionadas com o absolutismo em preto e branco e a autoconfiança dogmática do patriarcado, e como é fácil ser intimidada a ceder nosso poder a uma figura de autoridade patriarcal e confiar nele para nos dizer o que é certo e errado.

Quando as mulheres se encontram impotentes para identificar abusadores e sermos capazes de nos proteger da masculinidade abusiva, é porque temos dentro de nós a voz crítica de um homem patriarcal nos colocando para baixo, nos diminuindo, nos fazendo sentir inferiores e erradas. Esta sombra masculina insidiosa dentro de nós concorda com o comportamento abusivo dos homens patriarcais que encontramos em nossas vidas. Em seguida, nos alinhamos com a visão de mundo do nosso agressor ou opressor.

É por isso que algumas de nós, mulheres, acabamos defendendo líderes abusivos e apoiando uma legislação que vai contra nossa própria igualdade, auto-soberania e segurança como mulheres. Como consequência, acabamos abraçando as próprias crenças que desrespeitam as mulheres, colocam em risco a vida das mulheres e diminuem o valor das mulheres.

Este é um caminho que inexoravelmente nos leva a nos tornar mulheres patriarcais.

Há muitas maneiras pelas quais uma mulher se torna patriarcal, mas vou delinear três padrões principais aos quais muitas de nós somos particularmente suscetíveis, na esperança de que nossa consciência dessas tendências nos capacite para transformá-las.

1. Mulheres que incorporam um tipo de autoridade patriarcal

A primeira maneira pela qual uma mulher se torna patriarcal é renegar completamente sua identidade como mulher e se tornar “um dos meninos”. Esta é uma estratégia para evitar pertencer a um grupo que é considerado inferior e sujeito a discriminação e sexismo. Se ela adotar atitudes, crenças e comportamentos patriarcais, ela se sentirá precariamente igual aos homens no poder e se sentirá privilegiada pela associação. Ela pode então competir com eles dentro da estrutura de poder existente e até mesmo ganhar uma posição de poder sobre alguns deles. O perigo é que, quando chegar ao topo da escada patriarcal, ela não considerará mais as necessidades e desafios específicos das mulheres, como os associados à maternidade, nem defenderá os valores femininos de colaboração, flexibilidade e inclusão como sendo importantes. Este é um produto de seu condicionamento patriarcal para vencer a todo custo e ver o feminino como fraqueza.

Nossa sociedade está-se transformando rapidamente, e precisamos desesperadamente de mulheres líderes em todos os campos. Mas essas mulheres devem integrar valores e atitudes saudáveis em seu estilo de liderança, a fim de harmonizar o masculino saudável com o poder do feminino, permitindo assim que as mulheres mudem a estrutura de poder da sociedade de dentro para fora. Porque, caso contrário, mulheres poderosas também podem ser homens patriarcais. Se nossos líderes expressam sua autoridade através de valores patriarcais, não faz diferença se são mulheres ou homens.

2. Mulheres Que Se Tornam Submissas À Sombra Masculina

A segunda maneira pela qual uma mulher se torna patriarcal é aceitando uma posição de inferioridade e tornando-se subserviente ao masculino patriarcal. Ela perde seu poder, seu senso de si mesma e seu melhor julgamento, abdicando de tudo para uma autoridade patriarcal, a fim de receber reconhecimento e validação de si mesma, ganhando sua aprovação.

Essa autodiminuição insalubre não deve ser confundida com aceitar e abraçar os papéis tradicionais das mulheres como mães e cuidadoras. Na verdade, uma mulher pode ser uma mãe que fica em casa e ainda ser perfeitamente empoderada e auto-soberana porque ela vê seu trabalho como criticamente importante para sua família e para a sociedade e valoriza sua própria sabedoria.

Pelo contrário, uma mulher se torna patriarcal quando internaliza a mentira perniciosa de que os valores femininos e todas as características do feminino e, por extensão, das próprias mulheres, são inerentemente inferiores. Essa mentira se manifesta como uma autocrítica muito subtil ou através de uma crença enraizada de que as contribuições dos homens para a sociedade são mais importantes, ou que os homens são mais adequados para empregos que exigem a projeção de autoridade. Isso leva muitas mulheres a acreditar que as mulheres devem obedecer aos homens de forma inquestionável e, portanto, é perfeitamente natural que os homens sejam desproporcionalmente representados na política e nos negócios.

3. Mulheres que são privilegiadas por seu status em estruturas patriarcais

O terceiro padrão pelo qual uma mulher apoia a estrutura patriarcal acontece quando ela não quer balançar o barco porque perderia seu status privilegiado. Essa posição é mais prevalente entre as mulheres brancas de classe alta porque temem que, se o patriarcado entrar em colapso e a sociedade se tornar mais inclusiva e igualitária, elas possam perder seus privilégios. Esse tipo de padrão patriarcal muitas vezes leva a mulher a aceitar compromissos difíceis em troca da proteção do homem do qual ela depende.

 Extratos dum texto de Tiziana Dellarovere

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