O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, junho 02, 2002


Novo problema com o Moden de ligação à Netcabo! Vou estar sem comunicação alguns dias...
Espero que ninguém dê pela minha falta. O conveniente aqui é que não fazemos falta a ninguém mas a nós mesmas...
Porquê? Porque isto é viciante...Uma vez que se entra neste universo imprevisível que toca o onírico não mais conseguimos sair...Foi o que me disseram...Será? Vou ver nestes dias como me sinto e dpois conto...


Entretamos fiquemos com a última carta deste livro de Fernanda de Castro...neste caso, a carta de Cecília Meireles a Fernanda de Castro.


CARTAS PARA ALÉM DO TEMPO
Carta de Cecília Meireles a Fernanda de Castro


15 de Junho de 1939
“Minha querida Fernanda:
Recebi a tua carta agora. Contei pelos dedos e vi que se não lhe escrevo hoje mesmo, com o tempo que leva este maldito correio, não a encontro mais em Nova York. E então vim escrever-te uma carta bem sentimental e cheia de profundas confidências. Antes desta, deves receber uma outra, polpuda, em prosa e verso não em homenagem a Mr. Jourdain, mas a ti, Fernanda, a ti, que és uma incrível amiga, tão ingrata como agradável, e tão linda como perversa. Já te ofereci o “Punhal de Prata”.Era a melhor coisa do livro. E parecido contigo.Lembras-te quando te fui esperar aquela tarde em que voltaste pelo Sud-Express? Quando procurava umas flores para levar-te. - e eu crio que estava enamorada de uns crisântmos doirados - disseram-me: “para a senhora D. Fernanda só há uma flor - cravos vermelhos”. E levei-te cravos.Creio que és meio antropófaga. Uma antropófaga bonita, é certo mas...quand même...
Em matéria de penteados, tenho evoluido muito. Agora estou de cachinhos e, em lugar de chapeu, uso um dedal e no alto do dedal um barquinho cheio de flores. Uma gracinha imagina! Essa moda da guedelha pendurada também é muito simpática. Sobrtudo quando se serve com mayonese. Mas não te queixes dos teus cabelos brancos que não devem ser assim tantos! A mim embranquece-me tudo ao mesmo tempo: barba, bigode e sobrancelhas.E como tanto desejas confidências - ah Fernanda, Fernanda!...lá vai: estou apaixonada por um militar. Os militares sempre foram o meu fraco. Nunca to havia dito? Ah! Uma obsessão .Tu sabes: aquele ouro dos almares, dos botôes, das dragonas... e o penacho...desde pequena eu sonhava com um cadete. Veio um general reformado. Já dizia Vigny que a vida é uma sonhoda adolescência realizado na idade madura...O meu cadeteamadureceu, ageneralou e apareceu-me. Um herói, compreendes?Esteve no Paraguai, entrou nas revoluções, tem uma bala no ante-braço, coomo um bocado de óbus. Tudo isto impressiona e comove. E as belas histórias que ele sabe contar do tempo em que o Imperador era menino! Até adormeço ouvindo-º E sinto-me tão feliz! Penso que ele me vai tomar nos braços, astirar-me para a garupa do cavalo, arrebatar-me pela Patagônia afora! Depois lembro-me que isso é pedir muito a um herói aposentado, mas fecho os olhos e sonho que estamos em 1865 e dançamos o Danúbio Azul ( o Danúbiio Azul já existia nesse tempo, não?) e que ele me chamava de Vossa Mercê, que é o tratamento que me põe mais emocionada. Coisas Fernanada, coisas! Como elegância, nem sei o que dizer. Entre as medalhas de campanha ele usa agora o meu retrato em esmalte colorido.Teve a gentileza de explicar-me "“ueueu fui a melhor campanha da sua vida”...Confessa que é gentil! Para alegrar a cadência dos anos passados, usa no cinturão um sininho de ouro como os do poema de Edgar Poe. Caso-me este ano e se estivesses mais perto, ias ser minha madrinha.
Vê se melhoras do teu pessimismo! Si soubesses o que eu dadria para arrancar-te disso! Verei se te convenço em 1940.
Tenho grandes missões a cumprir em Portugal, quando lá fôr!
A vida não é assim tão ruim,Fernanda. É apenas horrível. Mas nós podemos salvar-nos da vida: Como? Perguntarás. Vivendo do além vida. Se fores uma boa menina, daqui a um ano te explicarei essa e outras coisas. Adeus, saudades muitas. Lembra-te de mim e escreve-me. Tua, muito amiga, apesar de um pouco pateta...”


ATÉ QUE PONTO HOJE EM DIA A MULHER AINDA SONHA COM O pRÍNCEPE eNCANTADO E LHE SAI O sAPO?

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