O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, junho 20, 2002

FINAL DA CARTA DE Cecília Meireles a Fernanda de Castro

"Vê se melhoras do teu pessimismo! Si soubesses o que eu dadria para arrancar-te disso! Verei se te convenço em 1940.
Tenho grandes missões a cumprir em Portugal, quando lá fôr!
A vida não é assim tão ruim,Fernanda. É apenas horrível. Mas nós podemos salvar-nos da vida: Como? Perguntarás. Vivendo do além vida. Se fores uma boa menina, daqui a um ano te explicarei essa e outras coisas. Adeus, saudades muitas. Lembra-te de mim e escreve-me. Tua, muito amiga, apesar de um pouco pateta...”
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Esta troca preciosa de correspondência entre duas mulheres que marcaram uma época e perduram na nossa literatura como testemunho humano primeiro e depois literário é para mim profundamente significativo do elo que se devia estabelecer e manter entre nós, portugueses e brasileiros... A mim toca-me profundamente! Até porque acredito que o Brasil tem muito mais vantagens culturais e éticas em se virar para a velha Europa e não sòmente para viajar, mas para trocar experiências e sentimentos através da nossa língua Matria ou Matriz, do que se americanizar... Assim como acredito que nós portugueses temos tudo a ganhar nos laços de solidariedade que se possam estender de lá para cá e vice-versa. Na verdade, o Brasil está, de muitas maneiras, empregnado em nós... e é para nós uma extensão, não como "pertença" mas como continuidade. Portugal é fiel às suas raízes de expanção e a nossa língua contém os ingredientes, como que especiarias e aromas que colheu em todas as pontes que estabeleceu no mundo desde a Ásia a África... Mas foi e é em emoção, visível na corrente espontânea de fraternidade popular a favor dos timorense, que estes laços de amor se manifestaram, quando essa pequena nação estava tão longe do nosso pensamente. E assim é na cultura popular e no futebol: uma vez saída a selecção portuguesa do Mundial, Portugal em geral, torce pelo Brasil...
Ademais, a nossa língua Mãe pode ajudar-nos a fugir da cultura de plástico e de consumo americano que invade o mundo...
Porém, aqui para nós, eu acho que o Brasil tem em geral uma ideia demasiado folclórica e anedótica de Portugal...A visão que os brasileiros têm de Portugal é perfeitamente "atrasada" e ainda caracterizam as mulheres portugueseas de bigode...Eu cheguei a comentar isto com as "Artémis"... Aí eu também acho que qualquer vedeta americana é mais bonita (graças ao silicone e às operações de estética)... eh! eh! eh! Certo?

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