O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, novembro 06, 2005


A VISÃO INTERIOR DO SEMELHANTE:
VER DENTRO DE SI O OUTRO É DESEJAR...
- DESEJAR É INVEJAR SER O OUTRO?


A palavra francesa para desejo ENVIE é a meu ver a que melhor exemplifica a duplicidade do sentimento inveja-desejo porque na língua francesa temos a mesma raíz enquanto que em português a dividimos em dois conceitos distintos e separados criando a ilusão de serem diferentes os sentimentos e só em parte o são ou na aparência dos factos, porque a censura moral "CATÓLICA" nos impede de desejar o que não podemos possuir e assim achamos que o desejo é legitimado SÓ pela permissão social (RELIGIOSA) o objecto do nosso desejo - um outro possível - mas repudiamos a ideia da inveja como de um pecado quando os dois conceitos estão interligados e nascem ou fazem parte de uma só emoção inicial:

Ver o outro de dentro e confundi-lo connosco mesmos, o que acontece geralmente no desejo “amoroso” (desejo de posse e de onde deriva ainda o ciúme - medo de perder o que se julga possuir e também uma forma de inveja natural como se de nós mesmos se tratasse...)

Exemplo: “Envie” _ j’ai envie de toi...je t’envie tes seins...) (desejar-invejar) ; invidere (ver dentro) (invejar: desejar o outro que se vê dentro?)

O DESEJO E A INVEJA

“Ver-se a viver noutro, sentir o outro dentro de si mesmo sem o poder afastar. O invejoso, que parece viver fora de si, é um ensimesmado; invidere já diz pela sua composição, o dentro que há nesse olhar o outro. Olhar e ver o outro não fora, não ali onde o outro realmente está, mas sim num dentro abismal, num dentro alucinatório onde não se encontra o segredo que faz com que cada um se sinta a si próprio, em confundível solidão.

Ver-se a viver noutro ensimesmadamente. O ver viver outro no espaço externo, fora não provoca inveja. Ver objectivamente, isto é, ver cada coisa e cada ser no espaço que lhe for adequado, é próprio daquele que já não pode invejar.Porque só o semelhante pode invejar.
(...)
Ver um semelhante é ver viver alguém que vive como eu, que está na vida à minha maneira. Só ele pode ser sentido nesta implicação da inveja, porque só ele pode estar implicado na minha vida. É que ao ver o semelhante não o vejo objectivamente no espaço físico, sinto a sua vida na minha vida. Ver adequadamente o semelhante é a prova suprema da visão."

(...)
MARIA ZAMBRANO - Filósofa espanhola

Sem comentários: