O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, novembro 25, 2005

A METADE MASCULINA DA HUMANIDADE DOMINA E EXPLORA A PARTE FEMININA DA HUMANIDADE HÁ MILÉNIOS.
A GRANDE ALIENAÇÃO DO HOMEM RECAI DIRECTAMENTE SOBRE AQUELA QUE LHE DÁ VIDA E ALIMENTO QUE ELE DESPREZA E INFERIORIZA DE TODAS AS MANEIRAS, A MULHER-MÃE.
COMO PODE O HOMEM AMAR "O PRÓXIMO" SE RENEGA UMA PARTE DE SI MESMO, O SEU LADO FEMININO, O LADO FEMININO DA HUMANIDADE?


25 De Novembro

CONTRA A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

A violência doméstica, tenho aqui dito repetidas vezes, não é apenas um factor social económico ou mesmo de ordem “moral”, mas o resultado de um desvio cultural histórico a partir do momento em que as sociedades patriarcais ascenderam ao poder, nomeadamente o poder religioso, destronando a Deusa Mãe e o seu culto de fertilidade em que a Mulher era honrada e o seu amor sacralizado para estabelecer um culto único a um Deus Pai todo poderoso e vingativo contra a mulher! Esse espírito patriarcal e dominante é ainda difundido e cultivado através da educação generalizada e das ideias machistas que vigoram desde sempre e que nunca as ideologias ou Governos fizeram nada para minorar, aceitando ao longo dos séculos e das décadas a supremacia do homem e a inferioridade da mulher, nomeadamente a divisão da mulher em duas, a esposa legítima, propriedade do seu senhor e abençoada pela igreja e a mulher que não se sujeita aos seus códigos e leis, a prostituta, criando uma dicotomia interna e externa na mulher cindida em santa e puta… Ainda recentemente o Cardeal de Lisboa, tal como a anterior Papa, falava com grande ambiguidade da “santidade” como condição excelsa e única via para o amor da mulher…
Da mesma maneira o Governo socialista fez tábua rasa das mulheres socialistas e elevou-as à máxima insignificância dentro do aparelho de estado. Estes são factos bem evidentes em estados e governos do Mundo inteiro. Depois da Inglaterra é a primeira vez que a Alemanha elege uma mulher 1º ministro…Mas a Tatcher considerada a Dama de Ferro, era sem dúvida, tudo menos uma “mulher feminina” na acepção ontológica do termo...
As mulheres activistas, sejam elas feministas ou artistas ou escritoras que se consideram mais independentes e que ousem expor as suas ideias são normalmente ridicularizadas tal como o foram as feministas da geração dos anos 60, e a sua intervenção acaba sempre minimizada quer pelos políticos quer pelos intelectuais machos e tudo se resume a uma aparência de igualdade - e tudo anda à roda de uma pretensa paridade, ou legalidade da interrupção da gravidez - porque as mulheres aceitam este estado de coisas para defender os poucos lugares a que têm acesso sem que nunca sejam verdadeiras líderes: ministras ou directoras de empresas ou bancos. E as que singram na vida ou são “meretrizes” como eles dizem ou têm cabeça de machos e são-lhes fiéis no trato e nos gestos, ingressando na política de forma agressiva e dura ou indo para a vida militar, assim como o foram activas na tortura no Iraque.
Todavia A mulher comum, a que verdadeiramente sofre todo o tipo de afrontas e violências, em todos os continentes, essa não têm voz activa nem identidade própria porque a verdadeira voz da mulher, a Voz do Oráculo e da Deusa, assim com a sua essência, foi extirpada das entranhas há muito… Muito antes do cristianismo e desde que o Oráculo de Delfos foi usurpado por Apolo na velha Grécia á imagem do que fizeram na pré-história os invasores bárbaros dórios equeus e hebreus, a Igreja católica fez o mesmo bastante mais tarde com culto da Grande Deusa-Mãe e que representava ou ritualizava as Forças da Natureza.



Todas nós pagamos ainda o preço da renúncia forçada por esse desvio cultural e histórico e da anulação sexual e psíquica da mulher sofrendo todas nós na pela essa divisão e fragmentação sexual e psíquica. Porque se a mulher não for santa é condenada ao ostracismo e ao Bordel...Por essa razão fomos perseguidas e queimadas vivas. Fomos denegridas e acusadas de feitiçarias, males e culpa sem fim sendo a Eva a grande pecadora apontada como a causadora do infortúnio dos homens. Como querem que as mulheres não sejam desrespeitadas e mal tratadas pelos maridos e filhos se essa é ainda a educação que milhares de homens e mulheres recebem na escola e no catolicismo? E se o próprio Papa vem apontar o dedo inquisitorial às mulheres e o Cardeal de Lisboa fala em santas para abraçar de amor o mundo, o que é a seus olhos a mulher senão uma coisa moldável e sem alma que eles querem controlar e reduzir “enaltecendo-as” à condição exclusiva de santas...
Assim, tal como o padre, também o marido o amante ou o patrão acabam por condenar a mulher por qualquer outro sinal de expressão feminina menos “casta” e devota, seja o prazer e a sensualidade ou a sua liberdade de escolha como sinal de insurreição, e a descriminação ou violência sobre a mulher aparece de forma acentuada ou subtil em toda o lado principalmente em casa onde ninguém vê…
A Única coisa que nos impede de ver claramente os factos á a grande hipocrisia da sociedade moderna que pretende ter dado valor à mulher sem que nada de efectivo e prática tenha feito para mudar de fundo as coisas. Só as mulheres por elas próprias, sem paternalismos, e a Nova Consciência do Feminino - que passa por uma dimensão do Sagrado aliada às forças da Natureza e a compreensão da Grande Deusa Mãe, como princípio gerador e criador do mundo - poderá alterar os factos quer ao nível global do Planeta quer das sociedades em particular.
A manifestação popular em massa na procissão da Nossa Senhora de Fátima na passagem por Lisboa, considerada uma manifestação de fé católica está mais perto de uma manifestação pagã do que se possa imaginar, pois ela não é senão um reflexo da grande premência do Princípio Feminino há muito calcado e apagado do mundo patriarcal, e não só da Compaixão e Amor da Mãe eterna. Apesar da manipulação religiosa Patriarcal dos fenómenos ligados às “Aparições” da Deusa que reflectem ou não o imaginário colectivo como a necessidade fulcral no mundo do Seu Amor não só maternal, mas também erótico, é sem dúvida O Princípio Gerador, a Face Feminina da mulher sensual e lenitiva, adulterada pelo dogma católico da Mulher Deusa que faz falta para salvar o Planeta da violência do masculino sobre o feminino mas sobretudo sobre a Natureza Mãe e a sua destruição iminente.


Sem a participação efectiva da Mulher na sociedade e o respeito pela sua integridade - na união das duas mulheres que a Igreja dividiu – pela afirmação da consciência do feminino como força telúrica, inata, não haverá sequer solução nem política nem social para a violência doméstica porque esta não é senão um pequeno rasto de uma muito maior violência exercida há séculos pela Igreja de Roma que dividiu a mulher entre a santa e a puta e insiste nessa dicotomia como o mais terrível e calamitoso erro jamais igualado na terra e que consiste em privar a humanidade de um dos seus lados relegado para os infernos há séculos no catolicismo!

Precisamos recuperar a Voz do útero que nos roubaram os padres e voltar a servir como sacerdotisas a Grande Mãe e a Deusa!

R.L.P.

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