"Tu, palidamente, tu, flébil, tu, liquidamente,
Aroma de morte entre flores, hálito de febre sobre margens,
Tu, rainha, tu, castelã, tu, dona pálida, vem..."
A.C.
A MULHER DEUSA... É A MUSA E A INICIADORA DO HOMEM
Essa Mulher só poderia ser a mulher que integra as duas mulheres na sua plenitude e consciente da sua sabedoria inata e não a mulher dividida e dominada pela cultura patriarcal debaixo dos efeitos perniciosos do poder religioso misógino, destituída dessa identidade profunda desde que nasce numa sociedade feita para homens, seria a antiga eleita Dama ou Rainha adorada pelo cavaleiro, ou a “soror mística” dos alquimistas, a Musa dos poetas, a iniciadora por excelência que elevaria o homem ao espírito uno, e portanto todo o ser humano a um plano de consciência divina. Pela integração dos pólos opostos complementares cada ser humano pode chegar à realização ou consumação dos dois princípios recuperando assim a unidade perdida, mas essa consumação passa pela mulher amante.
Sem que a Mulher porém se realize ela própria e atinja essa plenitude do seu ser que é aceder ao seu próprio potencial, para assim poder ter acesso à Consciência do Poder do Feminino, nem ela nem o homem poderão atingir um grau superior de Consciência Cósmica.
E como diz Jung, "O ser humano que não se liga a outro, não tem totalidade, pois esta só é alcançada pela alma, e esta, por sua vez, não pode existir sem o seu outro lado que sempre se encontra no “tu”. A totalidade consiste em uma combinação do eu e do tu, ambos se manifestando como partes de uma unidade transcendente, cuja natureza só pode ser apreendida, simbolicamente, como por exemplo pelo símbolo da rosa, da roda ou da “coniunctio solis et luna”. Sim os alquimistas chegaram até a dizer que o “corpus, anima et spiritus” (corpo alma e espírito) da substância arcana são todos três em uma e a mesma coisa, “pois todos vêm do Uno e com o Uno, o qual é a sua própria raiz. Um ser que é fundamento e origem de si mesmo não pode ser outra coisa senão a própria divindade...”*1
*1 C.G.JUNG
O homem a mulher, o casal alquímico.
"(...) no homem existe a vontade, vontade de se realizar e de fazer isso em contacto com a mulher. Enquanto a mulher tem em si a sabedoria, um tipo de sabedoria inata, um catalisador único da realização.
(...)
A mulher potencialmente está ligada ao conhecimento e à sabedoria que são duas forças complementares na grelha de base. A mulher realizada domina a dualidade e ajuda o homem a transcendê-la. Enquanto o homem tem acesso ao conhecimento que está no início de tudo e além disso tem a vontade.
(...)
A busca da verdade é também a busca do outro. Essa questão toca bem claramente o problema da dualidade masculino /feminino, dia/noite...Quando essa dualidade é dominada, leva a um outro nível de consciência, tal como a expressão na grelha integrada. A mulher - conhecimento/sabedoria - tem um substrato de facto, enquanto o homem precisa partir sem demora em busca de si mesmo. A mulher é para ele uma iniciação ao progresso, um catalisador de futuro. Nesse sentido a mulher parece Ter vantagem em relação ao homem.
(...)
Chegarei mesmo a dizer que, nessa evolução do conhecimento, a mulher leva vantagem, mas não tenho a certeza se ela sabe disso. Ainda mais que em ralação à situação actual ela se choca com o poder do homem. Sejamos claros: constitutivamente, não existem relações de superioridade ou inferioridade entre homem e mulher. Tudo depende do contexto sociocultural da época considerada cujas consequências extremas se manifestam nas sociedades do tipo patriarcal e matriarcal.
(...)
A mulher já é portadora do mundo transcendental - a Virgem Maria, Ísis, as Virgens negras. O homem, em contacto com a mulher, teria acesso ao germe da iluminação. E o casal alquímico exteriorizaria isso."*2
*2 In O HOMEM ENTRE O CÉU E A TERRA
De Étienne Guillé
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