O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, julho 17, 2010

BEBER NA FONTE DO FEMININO



"Abençoado e feliz aquele que conhece os mistérios das "deusas" e celebra nas montanhas orgias e purificações sagradas: tem vida santa e pura na alma"
Eurípedes


FEMiNITUDE…uma palavra que não existe em português, uma palavra que não consta no dicionário. Uma palavra que lembra o feminino eterno, o infinito, a amplitude da alma, a completude do SER Mulher!



“Quando uma mulher procura expandir-se, tudo colabora para que ela possa um dia descobrir o seu corpo, aceitá-lo, amá-lo, acarinhá-lo e a consentir que ele se abandone ao prazer e se acalme para fazer dele o seu lugar de paz e o seu verdadeiro templo.”



A primeira vez que eu imergi num círculo de mulheres, eu ignorava porque é que lá estava, era um chamamento sem dúvida, um encontro, uma urgência. Aquilo que me surpreende ainda, é esta ambivalência que me invadia em contacto com as outras mulheres, ambiguidade feita de atracção e medo. Nesse dia, nós éramos mais de trinta mulheres reunidas em círculo, cheias de sede pela nossa procura de identidade, prontas a manifestar as nossas dúvidas e a mergulhar nos nossos erros. Lembro-me deste ambiente feminino, contudo simples e íntimo, misturado por vezes de grandes silêncios, de interrogações, de tristeza e de risos deslocados. Esta procura incessante de um espelho feminino e esta incompreensão da mulher face a ela mesma era um grande mistério para mim. O que é que nós vínhamos ao certo buscar neste grupo feminino? Era de um sorriso aquiescido ou de uma espécie de autorização, alguma coisa parecida com um “sim, vai, vai agora, já estás pronta!” Ou então um sentimento de pertença e conforto que nós queríamos encontrar no meio de outras mulheres “como nós”? Ao menos que seja uma qualquer outra motivação, animada por uma necessidade de vir beber à fonte do feminino, à ressurgência de uma inteligência criativa esquecida, de um espaço sagrado que nos revele a nossa própria luz?


Alguns anos mais tarde, quando eu animei por minha vez um grupo de palavras de mulheres, mergulhei periodicamente em face a face análogas. Durante sete anos, procurei compreender as mulheres, e para isso pus-me a ouvir as suas histórias de vida e acompanhei as suas viagens interiores, ao mesmo tempo sombrias e alegres, terríveis e fascinantes. Muitas vezes elas eram testemunhas do poder do círculo, criador de um elo sólido, no qual podiam tirar de dentro de si a força, a luz e a alegria necessárias para percorrer os dias que as separavam do nosso próximo encontro. Elas colheram juntas os momentos importantes da sua vida, incarnando então toda uma paleta de personagens: a menina inocente, a rapariga sonhadora, a irmã de jogos, a irmã ciumenta, a jovem na flor da vida, a adolescente que se nega, a mulher livre, a rival, a mãe cuidadosa, a mãe poderosa, a muito boa, a marâte, a avó devotada, a velha sábia…atravessando assim os grandes arquétipos da psique feminina aproximando-se cada vez mais perto do lugar que cada mulher sonha se dar.”


Excerto da introdução de Monique Grande



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Na linha directa da célebre colectânia Féminitude, o novo livro de Monique Grande vem inscrever-se no círculo das obras que permitem às mulheres ligar a sua interioridade à sua expressão criativa.



“ Esta leitura tocou-me o coração, ou antes a Alma. Não há uma só palavra de Monique Grande que não tenha feito ressonância no meu eu feminino, e eu suponho que será assim com todas as mulheres que o lerem, seja qual for o caminho que elas tenham escolhido, e o ponto dele em que se encontrem. Porque à medida que lemos, parece evidente que nos concerne a todas, e a todos, este renascimento profundo de cada uma das vias da diversidade das facetas da feminilidade. E que o devir do nosso mundo actual depende disso sem dúvida. E que nós podemos todas, e todos, fazer qualquer coisa. E que isso dá vontade de viver, cada instante, cada palavra, nessa alegria.”


Aline, comité de leitura do Soufle d’Or

5 comentários:

Helena Felix (Gaia Lil) disse...

Muito bonito o texto e o seu carinho, obrigada pela compreensão.

rosaleonor disse...

Não posso imaginar o sofrimento de quem sente como você sente...o meu foi diferente...eu não tinha que mudar nada no meu ser e sim SER tudo o que sou, mas compreendo o drama quando se vive na alma o que se não pode viver no corpo...
Queira a Deusa que você saiba por sua inspiração sair da sua crise de identidade e superar todas as dúvidas e se torne um ser capaz de toda a plenitude dentro...porque tudo está dentro, é esse o segredo!!!Não esqueça. A aparência e a forma são transitórias...e a nossa alma é eterna, isto é um jogo que às vezes pode ser doloroso, mas também podemos ir para lá de toda a dualidade e ter PAZ no nosso coração...
um grande e terno abraço
rosa leonor

Cirandda da Lua disse...

Olá amada Rosa...Amei as inspirações e gostaria de compartilhar com você e todos que passam por aqui a emoção que sentimos hoje na Cirandda no parque... Ao chegarmos no parque, aproxima-se uma senhora linda, doce, amorosa, perguntando se era ali que teria dança...Percebi na hora que ela tinha uma certa idade, mas quando ela colocou ter 91 anos e veio para " balançar o esqueleto", quase a sufoquei com tantos abraços...
Tive a oportunidade de conversar com esta linda sabia anciã chamada Maria do Rosário...Quanta vida, amor, reverencia, sacralidade...Nos contou que quando tinha 42 anos 3 filhos o marido saiu de casa para um " passeio" e nunca mais voltou...Perguntei então qual o segredo de tamanha felicidade...Ela respondeu..." Danço, como muita polenta, amo os animais, as pessoas e acredito na vida!"E milhares de histórias foram compartilhadas nesta tarde linda de domingo...Senti que precisava te contar pois sei o quanto tecemos em busca desta verdade, desta sabedoria de coração da alma feminina....Depois passe no blog da cirandda pra ver a vida que ela passa no seu olhar, rugas, marcas de vida!!!!! Fica aqui um bocadinho de nós pra vocês... Com amor
Soraya

rosaleonor disse...

Obrigada querida Soraya pela partilha e que muito me sensibiliza. Muitas mulheres mais como essa hão-de aparecer na nossa vida e no nosso caminho.
Vou ver e gostaria de publicar o seu testemiunho, se não se importar.
Muito obrigada do fundo do coração.
rosaleonor

Cirandda da Lua disse...

Olá amada Rosa,
Tenho certeza disso! Gratidão pelo carinho e sinta-se a vontade com as mensagens....

Do coração uma bençãos de rosas.....