“Eu digo que o momento presente da civilização – quer ela seja judaico-cristã, muçulmana, budista, hindu ou africana – é um momento doente. A natureza do mal é a mesma para todos, só diferem os graus segundo os povos, as regiões e os contextos históricos e económicos. E o que caracteriza esta doença a meus olhos, é o ser humano seja qual for o seu nível de pertença e o seu país, ele perdeu a sua alma e o seu prazer. Ele foi reduzido ao estado função, de serviço, de instrumento, de coisa. Ele transformou-se ele mesmo em máquina. E da mesma maneira que ele se virou contra o seu criador, a máquina esta em vias de se voltar contra ele mesmo”.
(…)
O autor sugere que é ilusório querer “restaurar e menos ainda reconduzir uma relação de forças e de pressões em que vivemos é um falhanço. Se existe uma saída para este estado de decomposição, só nos conduzirá a isso um pensamento novo do homem e da cultura.”
Adónis (2001) – escrito e poeta sírio
SEM O FEMININO O HOMEM NÃO TEM SAÍDA
Mesmo culturalmente é um absurdo continuar a dizer o Homem sem incluir a Mulher, falando naturalmente em Ser Humano, mas o facto é que a mulher não está apenas anulada na cultura linguística…E este não se trata de um problema de semântica, mas de consciência profunda, de revisão de toda a história e cultura patriarcal…
O homem não se voltou contra o criador abstracto e ausente, Deus-Pai, mas contra a Natureza Mãe, sempre presente…contra a Deusa Terra e tudo o que dá fruto e que ele esmagou ou roubou apoderando-se do que a Terra dá em abundância criando a desordem, a desigualdade e a fome ao cimo do planeta. Ele voltou-se contra a Mulher e o Feminino na Terra, roubou a sua essência para a transformar em corpo objecto e hoje apenas plástico e silicone, um corpo doente… Foi aí sim, que ele perdeu a sua alma e o seu prazer ao perder a mulher real que ele subjugou e destruiu até ficar uma mulher sem alma mesmo, sem prazer ele não fez mais do matar a sua fome de ódio e desprezo por si mesmo atacando e matando outros seres humanos!
O Homem voltou-se contra a Mulher Mãe e foi contra a Sua criação toda e de tudo o que é vida na terra que ele procurou possuir e destruir. Quis possuir e fazer à sua maneira, quis ser dono e senhor das terras e dos mares, dos animais, dos recursos naturais, de outros seres humanos e violou todas as leis usurpando tudo o que encontrou, terras, diamantes, ouro, petróleo, carvão, prata e tudo o que na terra mantém o seu equilíbrio, pensando que assim seria igual ao deus que ele criou à sua imagem criando armas de destruição das mais elementares às mais sofisticadas de acordo com a sua (in) evolução! Ele violou a Terra como violou a mulher nas suas entranhas com a sua enorme sede de vingança e de poder! Criou mundos fictícios de pedra e metal, criou um mundo totalmente inútil e supérfluo de produção consumo e morte e que envenena o ambiente e o cosmos, criando o dinheiro e mata por ele sem qualquer ética nem respeito pela Vida.
Seja o Homem o que for, a besta ou a raça primeira, macaco ou sapiens, sem a mulher realizada, sem a Mulher consciente da sua herança perdida e roubada, sem que a mulher se erga na vertical e exija a sua total identidade e o seu lugar no mundo, não serve de nada nenhuma ciência sistémica nem nenhum pensamento novo ou cultura, de nada vale qualquer nova espiritualidade!
O mundo e a sua queda, ontem como hoje, baseia-se apenas no poder da força exercido durante milénios pelo poder patriarcal e as suas religiões, o poder de domínio e escravização dos outros seres.
Começou antes de Abel que matou Caim…desde Adão que a história nos é contada assim.
E como diz Joelle de Gravelaine a esse propósito, no seu livro Deusas Selvagens:
“pobre Adão, que não suportou a sua divina solidão e adquiriu uma “má companhia”, porque a seus olhos ele perdeu a sua alma imortal e perfeita…Ele decidiu nunca mais perdoar esta história da “maçã”, recusando-se a tomar consciência do presente que teve – obrigado e colocado na sua mão por Iavé – que Isha, a sua consciência revelada, lhe faz oferecendo-lhe a sua morte. Da serpente de vida e da morte, macho e fêmea, ao andrógino perfeito passando pela bissexualidade e o hermafroditismo, o pensamento humano – asseguram-nos disso – progrediu, evolui e apurou-se. Nesta evolução – seguramente nobre e espiritual – visando a magnitude da alma e a transcender o corpo e a sexualidade, alguma coisa se perdeu, uma outra dimensão, de do ser vivo e carnal, e “inocente” porque ela estava bem longe de qualquer noção do pecado e portanto de perversão. E precisamente esta perda de inocência, esta perda sobretudo do sentido do sagrado, introduziu no nosso universo as piores perversões. O que é que há de mais “culpado”: praticar a omofagia, quer dizer, devorar carne crua – por vezes é verdade, como os tigres que se sacodem na boca um animal vivo – ou prostituir crianças nas ruas de Manilha por dinheiro ou utilizá-los com o mesmo fim, em filmes pornográficos que incluem por vezes a morte real dos actores involuntários?”
J.G.
Resta-me acrescentar que esta perda de sentido do sagrado começa com efeito na destruição da Deusa como Mãe e da Mulher na sua dimensão ontológica, condenada que foi pela queda do homem…
Na verdade, a queda do homem, reside na sua depredação da terra, da mulher e da criança, na destruição dos alicerces da vida Natural e perda do respeito pela vida dos animais.
Esta foi a Queda do Homem e não da mulher. A Mulher foi abolida da história religiosa tendo ficado como um utensílio do homem ao serviço do homem, uma escrava do prazer fictício baseado na violência e na agressão. Desde o início de qualquer das religiões citadas que a mulher passou a ser, em todo o mundo, “mão-de-obra” do homem, escrava da concepção ou prostituída.
A doença deste mundo e a queda desta civilização passa pela negação sistemática da mulher essência e o deixar que a mulher continue a ser um fragmento dela própria e humilhada pelo poder económico hoje como o foi ontem pelo esclavagismo ou feudalismo, ainda que ela seja no poder mais máscula do que qualquer homem o que acontece nestas sociedades ricas e falsas, totalmente erguidas na iniquidade.
A única saída é o resgate da Mulher, da Mulher verdadeira e da sua inocência que lhe foi roubada pelos patriarcas do deserto. Restaurar o mundo no respeito pela Nova (velha) Mulher, pela Mãe e a criança, por toda a Natureza Viva é a única solução para o Planeta!
Voltando a citar Joelle de Gravelaine para acabar, tenhamos em conta um princípio anunciado por Cristo, uma resposta, a uma pergunta da samaritana? QUANDO VIRÁ O TEU REINO?
“É preciso voltar sem dúvidas ao Evangelho de Tomás, de essência essénica certamente, para entender a verdadeira palavra reconciliatória (ou salvar a mulher do pecado da Génese) de Jesus que constitui a mais bela das mensagens:” - “Quando tornarem os dois seres em um e tornarem iguais o interior e o exterior e que o exterior seja igual ao interior, e o de cima seja igual ao debaixo, e se fizerem com que o macho e a fêmea sejam um só afim que o macho deixe de ser macho e a fêmea não seja mais fêmea, então entrarão no Reino!”
J.G.
- Mas mesmo aí eu digo que antes disso tem a mulher de ser mulher ela mesma inteirinha primeiro…porque senão ela só encontro no seu interior o macho e não a fêmea…
Rosa Leonor Pedro
Colocando este discurso no passado, temos a história do mundo.
"A sociedade patriarcal valoriza e promove apenas os aspectos masculinos, subestimando e até mesmo reprimindo os aspectos femininos. O resultado é que a mulher se esvazia, perde sua identidade feminina essencial e se torna uma “cópia” caricatural do homem; o homem, por sua vez reduzido à masculidade bruta e unilateral, perde a ligação com os valores femininos do seu mundo interior e passa a ter uma relação opressiva para com a mulher. Como restaurar a feminilidade, despontenciando a unilateralidade do mundo patriarcal, a fim de reequilibrar a identidade psicológica dos sexos e planificar a relação entre o homem e a mulher?"
In AMOR E PSIQUE (autor ?)
1 comentário:
Quem é J.G. ?
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