O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, julho 30, 2010

CAMINHO PARA A INICIAÇÃO FEMININA


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O INCESTO UROBÓRICO

INCESTO COM A MÃE OU COM A IRMÃ
"Da boca do corpo sai a filha que simultaneamente devora os seios da mãe.
As duas serpentes que se entredevoraram, são as míticas serpentes que criaram o mundo.
Este foi o primeiro incesto"
in "A Morte da Mãe" de Isabel Barreno
"Quero levantar o tema do incesto com a mãe ou com a irmã porque ele está claramente implícito na bipolaridade da deusa. Isto tem muitas conotações para a mulher. No presente contexto trata-se de uma maneira de “incorporar as forças obscuras da mãe, ao invés de fugir e destruí-las”. A ligação erótica pode permitir uma conexão íntima com qualidades positivas da sombra às quais a mulher nunca teve acesso dentro de si mesma. E também o retorno à possibilidade de estar intimamente religada a outrem igual a si mesma, e que pode ratificar plenamente o feminino.

Neste domínio está incluído o mistério do amor entre mãe e filha e entre mulheres iguais. Anne Sexton escreveu sobre “a caverna do espelho, aquela mulher dupla que olha para si mesma”, no poema “A Imagem Dupla”. (...)E Adrienne Rich: o “Espelho em que duas são vistas como uma. É ela a quem chamamos de irmã”. Uma paciente pintava duas irmãs se abraçando e “os dois corpos apertados um contra o outro pareciam uma só pessoa”.
E ela explicava:
“Duas irmãs abraçadas fazem uma pessoa forte. E é a maneira pelo qual consigo abraçar-me quando preciso de uma mãe e não há ninguém que me ajude: Eu a mim, como uma irmã a sua irmã”.
(...)

Este incesto sugere cuidados e protecção a nível urobórico, ao nível dos laços simbióticos que firmam a mulher na sua auto-estima, permitindo-lhe ir em frente com a sua alma feminina, livre de amarras do colectivo exterior.
(...)

É frequente ocorrer uma fixação de transferência muito erotizada quando a terapia atinge esse nível - é uma fusão urobórica que derrete as defesas do animus e permite o renascimento com a capacidade de exprimir necessidades e sentimentos activa.
(...)

Há ainda um outro aspecto do incesto com a mãe que quase sempre aparece na análise das filhas do pai as quais energicamente repudiam as mães fracas, identificando-se excessivamente com o espírito e o intelecto masculinos. Suas mães eram vistas como o modelo de inferioridade do qual elas tentavam escapar a qualquer preço. Nesse caso, o incesto com a mãe pode ser o despertar doloroso para as qualidades com ela compartilhadas, a identidade com a fêmea humilhada e desprezada.
(...)
Em todos os exemplos a mãe pessoal é idêntica à sombra negativa da mulher, que então a projecta sobre a mãe. Quando adultas as filhas do pai ficam humilhadas ao verem os laços de fraqueza e auto-rejeição que compartilham com a mãe. O insigtht prega-as na realidade, destrói-lhes o ideal grandioso e heróico do ego, iniciando um período de mergulho
-->na depressão, enquanto as faz sofrer pela identificação com o feminino ferido e desprezado.”
(...)
In
CAMINHO PARA A INICIAÇÃO FEMININA
De Sylvia B. Perera

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Rosa.
Estava lendo sobre o caso da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani e não tenho como me sentir com um nó na garganta. Sei que tenho que respeitar outras culturas e tudo o mais, mas isso é demais para mim. Fico me perguntando se essa sentença seria imposta a um homem.
Estão rolando na internet abaixo assinados, mas isso não resolve o problema, pois podemos ajudar essa Ashtiani, mas e as outras mulheres iranianas, afegãs, e todas as outras que existem no mundo...
Me sinto tão impotente e espantada com tanta agressão.

rosaleonor disse...

Tem razão em se sentir assim...de facto há muito pouco que possamos fazer, nós mulheres comuns, a não ser estarmos cada dia mais conscientes de nós mesmas e do nosso poder ancestral e sacrificar o nosso ego social ao nosso ser interior...se quisermos não sermos apanhadas na rede...
Quanto a mim já não é culturas, mas diferentes opressões que recaem sobre a mulher no mundo e a causa é quase sempre religiosa onde o poder do homem - deus - é absoluto. Para negar a liberdade e o amor a paz e a partilha eles têm de humilhar e matar a MUlher...uma velha história mal contada...só a podemos mudar dentro de nós mesmas através da consciência do feminino sagrado e da DEUSA.

Fique em paz centre-se no seu coração..um dia será diferente.
Abraço
rleonor