O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, maio 27, 2011

CANSAÇO...

(...)
Não me peças palavras, nem baladas,

Nem expressões, nem alma... Abre o seio,

Deixa cair as pálpebras pesadas

E entre os seios me apertes sem receio

(...)

José Régio
***
O amor ofereceu-me o teu rosto absoluto...

Esta noite morri muitas vezes, à espera de um sonho que viesse de repente e às escuras dançasse com a minha alma enquanto fosses tu a conduzir o seu ritmo assombrado nas trevas do corpo, toda a espiral das horas que se erguessem no poço dos sentidos.

Quem és tu, promessa imaginária que me ensina a decifrar as intenções do vento, a música da chuva nas janelas sob o frio de Fevereiro? O amor ofereceu-me o teu rosto absoluto, projectou os teus olhos no meu céu e segreda-me agora uma palavra: o teu nome - essa última fala da última estrela quase a morrer pouco a pouco embebida no meu próprio sangue e o meu sangue à procura do teu coração.


FERNANDO PINTO DO AMARAL
(n. 1960)


1 comentário:

Maruska disse...

os poetas sempre souberam trovar bem. alguns poetas, porque muitos desses, é apenas uma fumaça na cortina. eles amam o ideal, se fecham nele e nem uma janela deixam aberta para a possibilidade de amar um amor imperfeito, e que não tem meses, estações.
por isso os sonhos são feitos de algodões para esses poetas idealistas.
às vezes desconfio, eu sempre desconfio (é um estigma que não consigo libertar-me) que os homens não sabem amar. eles apenas imitam um amor. as mulheres, elas apenas fogem de encontrar um amor que não dependa de nada. talvez elas não saibam como ir para dentro, sem ir para fora. habituadas a procurar o amor por fora, nos olhos do outro...