O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, julho 19, 2011

A questão da Sexualidade da Mulher

E AS DUAS MULHERES....




Resumidamente para mim a mulher perverte ou deixa perverter a sua sexualidade ao ser culturalmente manipulada pelo homem que lhe impõe as suas regras e o seu prazer e isto ao longo de anos e pouco se importou o homem com o prazer da mulher, bem pelo contrário: tapou-lhe o rosto, não a deixou sequer exprimir-se e chamou-lhe puta sempre que a mulher sentia prazer, violou-a, espancou-a etc....e digamos que este conflito vem desde Lilith...que se recusou a ficar por baixo de Adão...e as escrituras diabolizaram por desobedecer a Deus e ao Homem.
Claro que a questão não depende de práticas, nem de mentalizações, meditações ou de umas tantas posições do Kamasutras, nem de se realizar pelo Tantra… nem de qualquer outra especialização nas artes…Podem ajudar…mas sem a conciência e inteireza da mulher no seu veiculo físico e sem essa integridade interior, ela será sempre amputada de uma parte de si mesma.
Porque, quer queiramos ou não, antes de mais e à partida a sexualidade da mulher depende inteiramente dela ser uma mulher inteira e perceber quem é ela própria, depende de ela sentir-se livre para poder por si expressar-se à medida que se descobrir; e ainda que isso se possa revelar na relação homem-mulher ou mulher-mulher, tanto num caso como noutro, o modelo é-lhe imposto e não só num caso, a mulher vive a sua sexualidade manietada pelo homem-parceiro, como no outro entre mulheres, regra geral, uma delas faz-se de macho…e a outra tenta, como no casal “normal”, responder aos mesmos padrões....e o círculo é vicioso.
Seja como for, a mulher tem uma sensualidade própria, um erotismo que não se limita aos órgãos sexuais ou às zonas erógenas...e o homem como não ama a mulher de per se, não a conhece e raramente a respeita ao fazer sexo, (porque a sociedade não permitiu que a mulher fosse total e íntegra na manifestação do ser Mulher inteira) ela nunca se descobre e fica sempre aquém do seu potencial ou insatisfeita.
No entanto penso que se o milagre de Amor acontecer...e tudo depende do milagre de amor...o que é raro, pois não passa de um flache…pode-se ter uma percepção do que seria a fusão de duas almas e corpos…para além do orgasmo… o êxtase que não pode ser fabricado.
Enfim a questão é muito mais complexa e a continuar não sei onde iríamos parar…

Mas uma coisa eu sei, tudo se prende no facto de quem devia iniciar o homem ao amor deveria ser a Mulher, ela sim iniciada por natureza, e para isso teria de ser inteira – não poderia haver essa cisão das duas mulheres – erro (pecado?) que vem da profanação do sagrado que é em si o corpo da mulher, substituído pela ideia de corpo=objecto de desejo e não a mulher como pessoa que deseja…uma vez que lhe foi retirado esse direito.
Assim, a fragmentação da mulher em duas metades…a casta esposa virgem e sem prazer e a puta que dá o prazer e a quem se paga o serviço, é a causa directa do sofrimento da mulher em grande escala e à escala mundial. Manter essas duas mulheres, divididas nesta prática secular, é um crime e uma aberração contra a mulher genuína e inteira. E como digo algures, não é invertendo os termos do contracto e da exploração da mulher…que está a solução…
Porque a verdadeira mulher, a mediadora das forças cósmico-telúricas, que cumpria essa função de iniciadora do amor, revelação dada como sagrada, enquanto sacerdotisa da Deusa e iniciava os homens a essa união como Deusa do Amor, essa Mulher não existe há muito…
Não se tratava pois de “prostituição sagrada” como vulgarmente se diz, mas de uma iniciação no Templo da Deusa, uma preparação para a vida amorosa do homem. Quando o culto da Deusa foi suprimido isso sim e paulatinamente a mulher foi dividida nas suas funções, a de mãe por um lado e a de mulher de prazer por outro…digam lá o que disserem hoje, e tudo isto é escamoteado, nada mudou no inconsciente colectivo dos indivíduos…
E, para mim, sem essa grandeza de valores originados na Mulher Mãe e Amante, as duas na mesma mulher, vivemos num pântano de ideias, de conceitos, de obsessões, e de práticas e mesmo de iniciações falsas que não passam de abusos ou de aberrações…
rlp

1 comentário:

Astrid Annabelle disse...

Gosto imenso de ler seus textos Rosa, pois em simultâneo memórias da minha vida saltam à consciência. Fica tudo muito claro....
Minha intimidade com as palavras anda esgotada, mas o meu sentir está poderoso...e o que sinto nesse tempo de resgate do Feminino Sagrado não se escreve, se vive. Agradeço por demais a sua amizade, a sua sabedoria em conduzir, em iniciar.
Beijos
Astrid Annabelle