O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, novembro 05, 2011

Negação da Humanidade MULHER,

QUE MULHER?

" Enquanto as mulheres heterossexuais começam a caminhar na direção de uma maior liberdade, no sentido de manifestar e discutir as questões relativas à sexualidade, as lésbicas exercem e discutem a sua sexualidade à margem da sociedade, tolhidas pela discriminação.

Em relação ao homoerotismo feminino pode ser percebido através de uma economia do silêncio e da in-visibilidade provinda de longa data. No antigo Testamento, mais precisamente no capítulo XVIII do terceiro livro de Moisés, chamado Levítico, aparecem significativas considerações acerca dos "casamentos ilícitos" e das "uniões abomináveis". Entretanto, nesta ampla lista de advertências não consta qualquer referência ao homoerotismo feminino. Mas, o silêncio que parece emudecer a homossexualidade feminina não se restringiu às escrituras bíblicas. Até o Tribunal do Santo Ofício Português fez "vista grossa" ao lesbianismo. Tamanha complacência adquiriu o status de lei a partir de 22 de março de 1646, quando o Conselho Geral da Inquisição de Lisboa, num ato surpreendente, decidiu ignorar a prática sexual entre mulheres (MUNIZ,1990).

Conforme esclarece Mott (1987), antes mesmo do Santo Ofício formalizar esta postura de tolerância, ou melhor, de desconfiança acerca da possibilidade deste tipo de pecado existir, já se podia detectar uma expressiva descrença em relação ao homoerotismo feminino. Segundo o historiador, "raríssimos são os processos de mulheres-sodomitas existentes na Torre do Tombo, não havendo registo de nenhuma lésbica lusitana que tenha sido queimada pelos tribunais religiosos". O período vitoriano, famoso por seu policiamento aos bons costumes, também não debruçou sua ira sobre a homossexualidade feminina (...)
“A rainha Vitória, através de uma lei sancionada em 1885, condenou somente às práticas sodomitas entre os homens, negando incluir punição contra o sexo entre mulheres por não acreditar na viabilidade desse invisível amor.”
(...) *Lhi
2009

SER UMA SÓ MULHER...

UMA VISÃO DIFERENTE...

Eu tenho uma interpretação bastante diferente daquela que é a mais comum e também da menos comum, como é o caso desse artigo, muito inteligente e bem escrito. Porém o que eu penso sobre a invisibilidade da homossexualidade feminina, não é por uma mulher ser lésbica que se torna invisível mas porque a invisibilidade da mulher, como mulher na sociedade andocrática, machista, dominadora e falocrática é a realidade de todas as mulheres.

Todas as mulheres neste Sistema são invisíveis.

Só o não são as mulheres que correspondem ao imaginário masculino, as mulheres objecto, as mulher insufladas de silicone, concebidas e criadas por eles, NAS SALAS DE OPERAÇÃO, na publicidade, nas passerelles, nos filmes etc. Por isso ser Gay ou não, não faz diferença quando se trata de defender os homens homo, porque na sociedade de valores masculinos e onde o feminino foi simplesmente apagado da história e esmagado na mulher, é sempre o imperativo do falo (logo existo) que prevalece. Portanto, independentemente de um homem ser homossexual, a sociedade falocrática, apesar de resistir à sua “feminização” e pretender desprezá-lo pela sua semelhança com a mulher (até conseguiram que os gays se tornassem musculados e aparentemente viris, em vez de travestis) considera o homem como parte de si mesma quer ele seja ou não gay, mas não a mulher, que não é mais do que um corpo (buraco) ao seu dispor…! Não quero parecer vulgar mas é assim que a mulher foi considerada pelo patrismo e temos que olhar bem para as coisas como elas são na realidade e não idealizadas pelo intelecto e por uma falsa liberdade ou emancipação das mulheres. Ora neste caso, mais do que em qualquer outro caso, é muito óbvio que se a mulher não serve o homem, então não serve para nada…para quê dar visibilidade ao que não existe? As mulheres não existem por si só…ou são esposas de, ou são filhas de, ou são amantes de, ou secretárias…

As observações históricas de não dar importância às mulheres lésbicas por vários períodos de repressão religiosa e preconceito social, têm a ver também, como diz a Nana, com o facto de que para eles só há relações sexuais onde há um falo, onde há penetração, onde há dominador e vencida…foi assim que se processaram e oficializaram as relações entre os homens e as mulheres na sociedade patriarcal.
A homossexualidade feminina pode até ser uma diversão para o homem, uma coisa com que ele por vezes alimenta o seu imaginário. Vemos isso nos filmes pornográficos e não só…portanto é ainda uma fantasia masculina consentida…mas não levada a sério.

Também nunca a sociedade machista se preocupou com a prostituição como um flagelo social, mas apenas por hipocrisia e por estar ao seu serviço. Nunca se questiona a origem e a legitimidade da prostituição seja dentro de que sistema for. São as prostitutas visíveis? Ou são escondidas e disfarçadas de acompanhantes e modelos etc.? Esse uso e abuso do corpo da mulher como mercadoria foi sempre ou escondido ou consentido pelos Estados e as próprias mulheres hoje em dia a acham legítima e defendem-na como “profissão”- a chamada profissão mais velha do mundo - e acham-na uma coisa natural quando ela é apenas o reflexo da divisão interna, psicológica e social da mulher em dois tipos de mulher e assim sendo trata-se na verdade da repressão e abuso do ser humano mais velho da história do patriarcado…

O problema da invisibilidade das mulheres lésbicas posto da maneira como a autora do texto o pôs é como se ela acreditasse viver numa sociedade evoluída e de igualdade de direitos, onde a mulher normal e comum fosse visível, pelo seu valor intrínseco, e nós sabemos que não é assim. Portanto a autora do texto por muito bem intenciona e informada que seja nisso está iludida…como o estão todas as mulheres inteligentes e cultas ao pensarem que são consideradas pela sua essência feminina ou pelo seu valor enquanto mulheres-Mulheres.

NA "NEGAÇÃO DA HUMANIDADE MULHER"
NÃO É SÓ A SUA SEXUALIDADE QUE ESTÁ EM QUESTÃO
Senão vejamos a verdadeira questão, a questão de fundo, aquela que foi escamoteada até pelas próprias feministas ao defender apenas os direitos e igualdades da mulher numa sociedade que as rejeitou. Uma sociedade que as negou na sua essência divina e as usou de todas as formas e que nunca poderá mudar isso porque só uma mudança global de mentalidades e de consciências, uma mudança de paradigma, podia solucionar, mas nunca sem a consciência da Mulher como ser em si.
Precisamente o problema da mulher em si tem a ver com a sua divisão interior em duas mulheres e não se é homo ou hetero ou prostituta.
Só depois da mulher tomar consciência desse facto e começar a integrar a sua outra parte e assumir a sua totalidade como mulher, como um ser consciente da sua natureza profunda e digo sempre isto, em termos ontológicos, é que a mulher pode sentir-se inteira e então escolher ou amar homens ou mulheres…

O importante sempre é que a mulher se encontre com ela mesma e seja completa em si…e esse é que o problema de fundo, um problema de identidade feminina que tem a ver com o Princípio Feminino e a sua natureza intrínseca, o seu dom inato, as suas características de fêmea, de amante e de mãe…
Tem a ver com a Mulher ancestral aquela de que todas temos memória nos nossos genes e que passa de mãe para filha e se torna num Conhecimento que o homem não tem…É uma condição genética, um dos muitos mistérios da Mulher criadora, da mulher gerador, da Deusa Mãe que lhe dá corpo.
Penso que só depois da mulher se tornar consciente da Deusa em si e através das funções do princípio feminino é que ela pode ser livre e resgatar o seu erotismo, o seu auto-erotismo…homo-erotismo ou hetero-erotismo…
Realizar o Divino Eros, através da união da alma do corpo e do espírito. Nunca antes dessa tríade ser completa!
Portanto, minhas queridas amigas, a sexualidade não é nem nunca foi um imperativo meu, mas o da alma primeiro e do espírito e depois o corpo divino, consciente da sua transcendência e então pode caber-nos ou não a expressão de um dos aspectos sagrados do poder da energia da mulher como iniciadora da mulher ou do homem ao Amor da Deusa, assim (seja) na Terra como no Céu…

Tudo o que façamos para nos libertar neste Sistema, onde somos por condição prisioneiras/os, não queremos ver que “a nossa cadeia” é o seu modo de funcionamento, onde prevalece o poder material do dinheiro, da força, dos media e do medo, da violência e da guerra, em que estamos ao serviço do Estado, da família e da religião e já agora das Instituições governamentais que nos exploram a nós mulheres muito particularmente, como escravas de escravos…

Rosa Leonor Pedro
Republicando (texto escrito em 2009)

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